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Crítica


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Sinopse

Depois de começar um romance com Hayes Campbell, de 24 anos, vocalista do August Moon, a boy band mais popular do planeta, Solène, de 40 anos, enfrenta diversos desafios para manter o relacionamento funcionando, incluindo as pressões que recaem sobre a sua filha.

Crítica

Comédias românticas estão entre os filmes mais populares. Talvez porque ofereçam promessas de um mundo em que, apesar dos pesares, tudo pode dar certo no fim. Bom, né? Dizem que a crítica de cinema é avessa aos encerramentos felizes, que quanto mais estudioso alguém é em termos cinematográficos, mais valoriza os desfechos melancólicos. Definitivamente não é bem assim. Por exemplo, uma produção excelente como Um Lugar Chamado Notting Hill (1999) é toda construída em torno dessa promessa de um clímax romântico no qual os problemas serão completamente resolvidos e o tão sonhado amor acabará como um juramento cumprido. Não é simples construir uma história como essa e ser bem-sucedido, pois é muito fácil reforçar clichês românticos desgastados enquanto oferece uma visão otimista dos relacionamentos – dinâmicas sempre à mercê da incomunicabilidade, de mal-entendidos e outras turbulências bem comuns. Então, não é que a crítica odeie os fins felizes. Mas é preciso destreza e sensibilidade para chegar a esse resultado sem cair nas armadilhas mais traiçoeiras do supragênero. Dito isso na longa introdução (típica de quem está evitando entrar no assunto?), Uma Ideia de Você oferece diversas boas possibilidades num conto de fadas açucarado e obviamente fadado a acabar bem. Porém, o cineasta Michael Showalter valoriza os obstáculos. Já os temas carecem de seriedade.

A protagonista é Solène (Anne Hathaway), galerista que recentemente completou 40 anos de idade, divorciada e mãe de uma filha adolescente antes apaixonada por boy bands. Depois de tomar uma rasteira do ex-marido que havia prometido levar a filha de ambos ao Coachella, festival de música que acontece anualmente na Califórnia, nos Estados Unidos, ela é obrigada a se embrenhar no mar de jovens ansiosos por dias de música alta e gritaria. Primeira falha: o cineasta não demarca a posição de Solène nesse cenário intenso. Ela é um peixe fora d’água ou a balbúrdia remete à sua adolescência? Tratando a personagem principal como um arquétipo (a mulher de 40 anos prestes a se envolver com um rapaz de 24 anos), Michael Showalter não deixa margem a qualquer interesse mais profundo por ela. Pois bem, em virtude de uma daquelas ocasiões que somente o cinema permite, Solène acaba no trailer do popstar Hayes (Nicholas Galitzine), líder da boy band que continua fazendo sucesso depois de anos. Os dois se interessam mutuamente, flertam de modo meio desajeitado, para mais adiante começarem um romance às escondidas. Falta credibilidade na construção dos personagens, pois é difícil acreditar na busca do famoso por experiências reais, como as conexões humanas verdadeiras, assim como se torna tarefa árdua crer no receio de Solène diante da possibilidade de bancar a relação com o famoso.

Uma Ideia de Você perde oportunidades valiosas para fazer do relacionamento entre Solène e Hayes um veículo de discussão das questões que o permeiam. A principal delas surge quando o namoro se oficializa e a internet recebe enxurradas de comentários negativos pelo fato de a mulher ser mais velha – as fãs adolescentes choram pelos cantos ao descobrirem que seu ídolo é adulto e tem vida amorosa. Michael Showalter dribla aos trancos e barrancos as complexidades desse cenário manjado ao enfatizar a superficialidade dos obstáculos. Nada mais do que isso. Outro momento em que o realizador demonstra a sua tendência por comprometer o que verdadeiramente importa, em função desse acúmulo de barreiras impeditivas do “felizes para sempre”, é o comportamento malicioso do colega Hayes na banda. Em vez de sustentar a diferença de comportamento e atitude que poderia provocar um abismo entre os parceiros profissionais, o diretor faz da divergência apenas mais um gatilho à separação. Além disso, o filme nem bem propõe as situações e já as resolve, como quando a filha de Solène se mostra muito disposta a aguentar as pontas assim que o namoro da mãe vier à tona, para logo depois ser vista em sofrimento pela repercussão. A rapidez com que as coisas se modificam beneficia o banal e descartável, sobretudo porque os assuntos sérios dentro dos problemas são amenizados.

Por fim, é preciso falar do casal formado por Anne Hathaway e Nicholas Galitzine. Ela, sempre muito competente, faz o que pode com essa personagem de poucas camadas, cuja inconstância não é um traço de personalidade, mas o efeito colateral de uma construção dramatúrgica frágil. Que bom seria se ao menos Michael Showalter permitisse a Hathaway expressar os dilemas humanos de alguém cujo amor é alvo de ódio nas redes sociais. Já o jovem ator se sai melhor nas cenas de apresentação como líder da boy band do que necessariamente demonstrando a sensibilidade de uma celebridade da qual o público espera sorrisos e simpatia. As cenas dos dois juntos são sabotadas ora pela falta de intensidade da abordagem, ora pelos diálogos que enfraquecem ainda mais a visão desse amor que provavelmente precise esperar um tempo para amadurecer. Então, por mais que os personagens se encaixem bem nesses lugares de “amantes impedidos pela sociedade de viver um belo romance”, os atores pouco podem fazer, pois  trabalham com um material pobre. Falta veemência e tesão nesse namoro, inclusive nos trechos que prometem ser mais ousados, mas que acabam reproduzindo (sem personalidade) os velhos clichês dos apaixonados observados por uma câmera cheia de pudores. Enfim, em vez de discutir sexismo e culto exacerbado às celebridades, o diretor prefere seguir a cartilha decorada das comédias românticas, deixando a desejar até na reprodução de fórmulas que antes deram certo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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