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Sinopse

Contra a vontade do filho e dos especialistas, Maria decide viajar para a Grécia com as amigas. A espanhola de 55 anos recebeu recentemente um diagnóstico médico desfavorável, mas pretende chegar à ilha de Nisyros, um pequeno refúgio de paz e calma que imediatamente a faz se sentir em casa.

Crítica

Maria quer apenas respirar. Esse é o drama maior da protagonista de Uma Janela para o Mar, longa do espanhol Miguel Ángel Jiménez. Após o documentário E Em Cada Lentilha um Deus (2018), uma curiosa abordagem afetiva sobre sua história gastronômica familiar, o diretor se volta mais uma vez ao universo ficcional para um estudo bastante íntimo, mas que pode dizer respeito a qualquer pessoa na audiência: como serão seus últimos dias? A partir do momento que um diagnóstico fatal é feito, seria mais do que natural esperar por uma reação desesperada, como que na ânsia por se agarrar a qualquer sopro de vida restante. Mas teriam, enfim, que reagir todos em igual situação da mesma forma? Não poderia haver aquele – ou aquela, no caso – que, a partir desse mesmo espírito, decidisse tomar a rédea de sua existência, optando por viver por completo até o minuto derradeiro, e não apenas lutando até seu último esforço uma batalha da qual ninguém sai vitorioso? Por mais que a dúvida seja pertinente, a decisão do que fazer por fim cabe apenas ao principal envolvido.

Ao passar mal de forma inesperada, Maria vai ao médico e recebe a notícia que ninguém deseja ouvir: está com câncer. Por mais que todos ao seu redor estejam esperançosos, do filho às amigas, ela própria passa a ver o mundo de forma diferente. É como se cada instante não mais permitisse um retorno. Curiosa essa forma de pensar, pois assim pode ser para qualquer um. A morte, como bem se sabe, raramente anuncia antecipadamente sua chegada. Para muitos, ela pode surgir quando menos se espera, e a partida pode se impor mesmo para os que não estão preparados para tanto. Portanto, por um certo aspecto, Maria pode se considerar uma privilegiada. A ela está sendo dada a chance de estar pronta para o que inevitavelmente acabará acontecendo. Uma oportunidade que poucos tem acesso.

Após alguns dias um tanto perdida, sem saber para qual lado correr e o que fazer diante de tais notícias, aos poucos Maria vai retomando o controle da própria vida. Nesse ínterim, se viu deslocada de casa, indo parar em um quarto arranjado no apartamento do filho, afastada do trabalho e sem saber como lidar com os planos futuros. Assim, a partir do momento em que se percebe novamente de pé, começa lentamente a assumir suas decisões. Primeiro, volta ao lar que é seu e nele mergulha. Ficar horas desfazendo armários e limpando a geladeira está longe de ser uma perda de tempo – muito pelo contrário, é um passo em direção a esse controle tão almejado. Depois, a viagem de férias que estava prestes a ser cancelada é resgatada. Com as melhores amigas, parte para a Grécia, em um turismo que, se para uma é um suspiro ante tempos sombrios, porém necessários para uma pronta recuperação, para a outra soa mais como um adeus.

O trio se assemelha ao visto em Mamma Mia! (2008). De um lado, uma senhora ligeiramente acima do peso, de cabelos curtos e falando muito em sexo. Do outro, uma mais esguia, sedutora e encarando toda e qualquer possibilidade de troca física com bastante disposição. No meio, uma mulher loira e com um problema a ser resolvido. Porém, o tom de Uma Janela para o Mar é bem mais reflexivo e ressonante do que o visto no musical estrelado por Meryl Streep. Os caminhos aqui perseguidos dizem respeito somente à protagonista, e a mais ninguém, por mais que acabem, de uma forma ou de outra, afetando aqueles próximos. Quando decide não mais voltar, não é tanto pela alegria que encontrou ao lado das companheiras de passeio, pela felicidade renovada por um novo amante ou para se afastar das notícias pesarosas de sua antiga rotina. É por tudo isso, mas também por mais. Para não ter que se despedir. Para assumir a responsabilidade. Pela falsa sensação de ser dona de si. Por si, e não pelos outros.

De nada adiantaria essa jornada não fosse ela empreendida por uma atriz capaz de tantas nuances quanto Emma Suárez. Por mais que o resto do mundo imagine tê-la descoberto apenas como protagonista do almodovariano Julieta (2016), essa madrilena começou cedo na carreira, e possui uma filmografia de quase uma centena de títulos e mais de quatro décadas. Aqui, ainda que esteja no centro de todas as ações – e, principalmente, emoções – são poucos os discursos que se vê obrigada a defender. A diferença está nos pequenos gestos, na areia que escorre pelos dedos, no molhar dos pés, nos olhares fugidios e quase imperceptíveis. Ela não precisa mais se transformar, como tantos se veem impelidos a empreender em determinadas fases de suas vidas. Quer apenas ficar em paz consigo mesma. E respirar. Para estar ciente de si e do mundo ao seu redor. Não alheia à dor, à felicidade e a tudo de bom e ruim que se tem acesso no decorrer de um dia. Mas sabendo, mais do que nunca, que cada uma dessas sensações a ela chegará por meio de sua anuência. Mesmo que essa seja a última coisa a ser feita.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Alysson Oliveira
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MÉDIA
7

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