Crítica
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Sinopse
Por conta de circunstâncias inesperadas, Antoine precisa voltar à sua cidade natal na Bélgica. Ele vai ter de cuidar da filha de cinco anos, a qual não tinha conhecido pessoalmente, fruto de um relacionamento antigo.
Crítica
Camille está com pressa. É de manhã, o dia começa, e naquela casa tudo depende dela – não poderia esperar, de qualquer forma, que as decisões fossem tomadas pela filha de apenas cinco anos. São apenas as duas, mas há uma rede de proteção ao redor delas. A avó – mãe da mãe – não está tão longe, a babá na tarda a chegar, e o trabalho lhe chama. Tudo muda, no entanto, no instante em que a campainha toca. A mulher abre, e quem lhe aparece à frente é Antoine. Homem esse que há muitos anos ela não via. E que há muito tempo havia decidido nem querer ver mais. Ele fora riscado de sua vida. Mas essa é uma decisão sua. E se pensa que pode decidir sozinha o quanto tal posição irá afetar os rumos da pequena Elsa, é algo que parece estar mais nas mãos do destino do que dela própria. Uma Lição de Amor, portanto, se ocupa desses pormenores, e assim o faz com tamanha sensibilidade, fazendo valer seus esforços, mesmo diante de uma trama já muito visitada.
Antoine é pai da pequena Elsa, e isso não demora para ficar evidente. Mas Camille está magoada, e, provavelmente, não sem motivos. A menina nem o conhece, e se isso é um fato, muito indica que ele deve ter desaparecido do cenário antes mesmo do nascimento da garota. Se a adulta levou adiante a gravidez e se conformou no seu papel de mãe solteira, isso não exime em nada as responsabilidades que seriam dele. Por isso, retornar agora, mais de meia década depois, sem aviso nem alertas prévios, não parece ser a atitude mais sábia a se tomar. Não por acaso, tudo o que recebe é a porta sendo fechada bruscamente na sua cara. É o que ele merece. E nem adianta querer protestar. Ele sabe que não há argumentos para o que fez.
Mas as coincidências parecem estar a seu favor. Quando a babá se atrasa – ou simplesmente desaparece – e a ex precisa sair para não perder um voo de negócios, a única solução viável que se apresenta é deixar a criança com quem, como que saído de dentro de uma cartola, agora que apresenta, assim, feito um passe de mágica. Ele aceita, é claro. E o que havia sido imaginado – da parte dele, evidentemente – como o primeiro passo de uma possível reconciliação, logo se vê transformado em uma maratona de um ou dois dias, talvez até mais. Pai e filha precisarão se reconectar. Se descobrir. Um identificar no outro aquilo que perderam, o que nunca tiveram, que nem imaginavam ter direito. E, quem sabe, desenhar um futuro possível juntos.
Thomas Blanchard, visto em filmes como Romance à Francesa (2015) e Lulu Nua e Crua (2013), aqui responde com competência à tarefa de liderar praticamente sozinho uma trama do início ao fim. E assim o faz com cuidado, sem atropelamentos ou urgências previamente calculadas. Ele só não responde única e exclusivamente por todas as responsabilidades aqui exigidas porque, ao seu lado, em quase 100 % do tempo, está a pequena Lina Doillon, que com bastante naturalidade e delicadeza se mostra como a verdadeira revelação dessa história. Os dois funcionam cada um no que se espera deles, mas ainda mais quando juntos, em momentos de descoberta e sintonia. Uma dupla a ser celebrada.
Uma Lição de Amor não ousa ser mais do que aquilo que pode entregar. E isso é um ótimo sinal. Sem a mulher, ou outro familiar, por perto para servir de ligação entre um extremo e outro – ou, ainda, também sem interromper qualquer movimento neste sentido – restam apenas o homem e a criança em cena, dois estranhos que finalmente se veem próximos, por mais distantes que pareçam estar. A tarefa que lhes resta, portanto, é diminuir essas distâncias. E assim o fazem, com parcimônia, no passo a passo de cada instante. Nos contos antes de dormir, nas velhas lembranças, nos pequenos segredos revelados. E assim a família se dá. Sem pressa, mas também consistente o suficiente para que não possa mais ser rompida.
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