Crítica
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Sinopse
A Índia recebe milhares de visitantes em busca de experiências espirituais que lhes proporcionem autoconhecimento. O Rio Ganges é um dos locais mais procurados, na medida em que simboliza a sabedoria ancestral indiana, encarnando uma fonte de conhecimento para aqueles que têm dúvidas sobre seus caminhos.
Crítica
Curioso como em UMA: Luz dos Himalaias o cineasta indiano Ananda Jyothi apaga as singularidades dos personagens em função da unificação de suas jornadas a serviço de uma ideia. Jonas, Isabella e Juliana se distinguem tão e somente pelo conteúdo das apresentações com narrações monocórdicas, de próprias vozes, emoldurando fotos de outra vida. Sim, pois o documentário faz questão de dispor a fase de angústias e becos sem saída como característica do passado em que a trinca não havia chegado ao autoconhecimento na Índia e, sobretudo, nas sagradas águas do Rio Ganges. Há um viés doutrinário/propagandístico nesse itinerário pobre narrativamente. A quantidade de tomadas de lugares belos não é suficiente para, ao menos, diminuir o enfado que gradativamente assalta o espectador. Não existe uma linha discursiva clara, mas estilhaços de “sabedoria”.
O acúmulo de sentenças pretensamente profundas, de ensinamentos que relacionam umbilicalmente os estados da alma complexos com as não menos intrincadas naturezas, sobrepesa bastante. Não são valorizadas as variações nessa comunicação direta apenas com os adeptos da Vedanta – tradição espiritual por meio da qual se poderia compreender a verdadeira essência da realidade – e/ou da Yoga. Sobram enunciados que sublinham a força interior e a necessidade de desvendar caminhos que afastem da celeridade de um mundo convulsionado. Incessantemente se aponta para as doutrinas celebradas como formas ideais para encontrar iluminação e paz interior. Também é evidente o desequilíbrio entre os personagens, bem como a falta de consistência no entrelaçamento das particularidades, inclusive porque o realizador os unifica como frações de um todo maior e às vezes insondável. Abundam os planos do Rio Ganges, dos banhos e dos exercícios de fé.
Principalmente no último terço de UMA: Luz dos Himalaias, Isabella assume o protagonismo. O realizador se contenta em acompanha-la por atividades como o contato com a cítara, a incursão pelo rio e os passeios por locais públicos. Falta ritmo ao longa, detido demasiadamente em circunstâncias que começam em nada e levam a lugar nenhum. Em certos momentos sobressai a artificialidade das performances à câmera, com miradas supostamente intensas, literalmente iluminadas pelo sol poente, e embaladas por frases de efeito nas quais pretensamente a simplicidade contém toda a sapiência que aqueles “desgarrados” precisam. Entretanto, o mais incômodo do conjunto é justamente a profusão de procedimentos que tangem à venda do estilo de vida, em função do qual surgiriam as respostas ao vazio existencial. É um institucional mal disfarçado de poesia.
Juliana é a personagem mais subaproveitada. Ela oferece sua experiência com a Yoga, mas logo some. Essa discrepância depõe contra UMA: Luz dos Himalaias, pois desperdiça a equivalência construída a partir das apresentações proporcionais. Ananda Jyothi não valoriza as pessoas, sobretudo porque sua intenção manifestada é utilizar as vivências para a causa, e não o contrário. Jonas, Isabella e Juliana estão na telona somente para que, uma vez somadas as suas histórias, a filosofia seja propagandeada como antídoto para as turbulências que frequentemente assolam as sociedades, especialmente as ocidentais e/ou lotadas nos centros nervosos. As deambulações soam aleatórias, sem um elemento suficiente forte para interliga-las e fornecer um sentido para além das obviedades, verbalizadas como se fossem genuínas epifanias transcendentais.
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