Crítica
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Sinopse
Depois de uma sessão de teatro, um grupo fica empacado na madrugada da cidade de São Paulo. Trancados para fora do ônibus que deveria os conduzir ao conforto, eles ficam desorganizados e desorientados numa dinâmica absurda.
Crítica
Um grupo de “turistas”, formado por ex-moradores de São Paulo que voltam à capital paulista para assistir a uma peça de teatro, se encontra em posição de imobilidade. A circunstância é ocasionada pelo sumiço do motorista do ônibus que deveria conduzi-los a um restaurante para fechar a noite com chave de ouro. Nem a responsável pela excursão, interpretada por Flavia Garrafa, sabe o que aconteceu com o funcionário. Os clientes reivindicam seu direito de consumidores, de serem bem atendidos e receber pelo que pagaram. A câmera de Walter Carvalho, diretor de fotografia de Uma Noite em Sampa, não consegue dissipar uma sensação bastante incômoda – no mau sentido, mesmo – de falta de dinamismo, problema que começa na dramaturgia, passa pelas atuações e deságua na encenação esquemática do cineasta Ugo Giorgetti, ele que se agarra às possibilidades representativas, contudo sem desenvolvê-las.
Em meio aos atores que praticamente declamam a insatisfação, fruto de uma direção que evidentemente não busca o naturalismo, mas que tampouco extrai desse registro mais empostado algo além de um distanciamento contraproducente, somos confrontados com o radicalismo da utilização de manequins ao invés de pessoas de carne e osso. Sim, determinados personagens são “vividos” por bonecos, cuja existência em cena pretensamente visa reforçar a ideia de inércia que toma conta dos demais. Entretanto, o recurso é precariamente aproveitado, assim depondo ainda mais contra uma proposta completamente calcada na metáfora, mas que, infelizmente, não consegue estabelecê-la plenamente como linha mestra da narrativa. São ensaiadas algumas reflexões sobre a criminalidade, a invisibilidade de certos moradores da metrópole, mas de maneira anódina, às vezes risível.
Uma Noite em Sampa enfileira pequenos atritos entre a gente em cena, sem conseguir com isso a criação de uma unidade, nem ao menos deflagrar qualquer coisa mais que burocrática e facilmente esquecível. Giorgetti deliberadamente dilui a singularidade dos personagens, almejando a construção de um painel amplo que dê conta de apontar criticamente comportamentos e linhas de pensamento. O fato de todos serem relativamente bem de vida é um indício desse quadro que o cineasta quer pintar, num processo análogo ao visto em O Anjo Exterminador (1962). O tributo ao filme do espanhol Luis Buñuel é verbalizado por um dos homens à beira do desespero, o que denota a necessidade diretiva de obter ganhos com a homenagem. O tiro sai pela culatra, pois expõe ainda mais a trajetória errática da realização de Giorgetti, insuficientemente sólida enquanto retrato social para valer-se de tal expediente.
Longe de se apresentarem como um estofo mais significativo, as figuras de Uma Noite em Sampa são apenas sintomas mal enjambrados de uma coletividade egoísta. O ex-policial e sua namorada enigmática, a senhora cega e sua filha superprotetora, o baixinho enfezado que jura ter visto o motorista dormindo, o jovem apaziguador, são rascunhos que só conseguem fazer diferença quando amontoados, e ainda assim não muita. Ugo Giorgetti justifica a existência dos manequins, até então somente uma tentativa alegórica sem cabimento aparente, na derradeira imagem. Todavia, a força expressiva dela não é considerável para ressignificar o percurso até ali, marcado por um estranhamento praticamente gratuito, no qual caminha tortuosamente a vontade malograda de Giorgetti de circunscrever todos numa situação em que o absurdo simbólico deflagraria seus equivalentes literais, banais e cotidianos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 2 |
Ailton Monteiro | 8 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 5.7 |
Adoro filme nacional, porém, este é um filme aparentemente sem final ou eu que não entendi, principalmente parte dos bonecos pessoas conversando com eles.