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Crítica


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Sinopse

Derry é uma pacata cidade que foi aterrorizada 30 anos atrás por um ser conhecido como A Coisa. Suas vítimas eram crianças, sendo que ele se apresentava na maioria das vezes como o palhaço Pennywise. Com esta forma ele reaparece, 30 anos depois. Quem sente sua presença é Michael Hanlon, um bibliotecário e único de um grupo de sete amigos que continuou morando no mesmo lugar. Assim, ele liga para Richard Tozier, Eddie Kaspbrak, Stanley Uris, Beverly Marsh Rogan, Ben Hanscom e William Denbrough, pois todos os sete, quando jovens, viram A Coisa e juraram combatê-la caso surgisse outra vez.

Crítica

Neste telefilme baseado no best seller de Stephen King, partimos do assassinato hediondo de uma criança que estava prestes a voltar para casa. Só vemos a expressão de horror da mãe, logo após ela encarar o triciclo do filho caído, com uma roda se movimentando freneticamente. O diretor Tommy Lee Wallace prefere não mostrar muita coisa em It: Uma Obra-Prima do Medo, tentando carregar a atmosfera de tensão para nos manter interessados nas mais de três horas de duração. Antes de escolha artística, a predominância da sugestão soa como restrição. Mesmo buscando incutir no espectador o medo sentido pela gente em cena, o longa-metragem não explicita o que os noticiários policiais divulgam frequentemente, ou seja, uma grande profusão de corpos infantis mutilados pelo macabro Pennywise (Tim Curry). A despeito disso, a figura do palhaço que seduz suas vítimas com balões coloridos e promessas de diversão grudou no imaginário geral, e, de fato, é o único ingrediente vigoroso nesta produção.

It: Uma Obra-Prima do Medo é, antes de qualquer coisa, vitimado pela encenação engessada, de pouca inventividade visual. Essa forte sensação se confirma no desempenho dos atores, demasiadamente presos às suas marcas, performances bastante contestáveis, para dizer o mínimo. A trama é dividida quase cartesianamente em três momentos. No primeiro, vemos a infância dos amigos, quando inicialmente tomaram contato com “a Coisa”. Tommy Lee Wallace segue praticamente um protocolo, apresentando personagem por personagem, tentando, de alguma maneira, em meio a essa sequência previsível de exposições, criar pontos em comum entre os garotos e a garota que lutam diariamente contra problemas de família e a opressão de um bando de colegas mal encarados. Bill (Jonathan Brandis/Richard Thomas) se destaca levemente como líder. Na segunda hora do filme, novamente um a um, todos recebem um chamado para retornar ao enfrentamento.

Dispersivo e esquemático, o roteiro de Tommy Lee Wallace e Lawrence D. Cohen guarda para a terceira hora de projeção a reentrância do grupo já adulto, com boa parte de seus componentes morando fora da pequena Derry, na mira do palhaço sinistro que tenta afugentá-los. It: Uma Obra-Prima do Medo passa batido por diversos elementos potenciais, gerando um gosto de superficialidade. Embora a aventura seja, como signo, ocasionalmente evocada, sobressai a pasmaceira decorrente da luta particular dos personagens com aquela entidade sobre a qual pouco se sabe. Todavia, nem a intimidade ganha atenção suficiente para gerar algo que verdadeiramente valorize o pavor ocasionado pela onda de mortes e a onipresença da ameaça. Pennywise pode surgir do nada numa livraria ou mesmo no ralo do banheiro para tocar o terror nos jovens. Contudo, o trabalho burocrático do elenco não dá conta de representar isso com o peso dramático devido, do que deriva o caráter caricatural.

Tommy Lee Wallace tem um ótimo material nas mãos, porém, negligencia, por exemplo, a distinção prática das instâncias temporais. Pennywise, o Parcimonioso, é realmente uma figura que provoca medo, especialmente em virtude da voz e da expressão aterrorizantes de Tim Curry, o único destaque positivo do casting adulto. Já os atores mirins se saem melhor, inclusive na missão de expressar a amizade responsável por salvar-lhes a vida, literal e metaforicamente. It: Uma Obra-Prima do Medo, por ser explicitamente calculado, perde aquela aura de imprevisibilidade e urgência que tão bem faz aos filmes do gênero. Embora consigamos nos envolver com as pessoas e suas motivações, que nos compadeçamos dos temores e do drama que os marcaram, e sintamos medo do bufão que constantemente mostra os dentes afiados, isso se deve mais ao conteúdo, ou seja, à história propriamente dita, que necessariamente à forma (desleixada) de conduzi-la cinematograficamente.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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