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Crítica


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Sinopse

De volta à sua terra natal, Taat vislumbra a possibilidade de trabalhar num luxuoso cruzeiro. Mas, antes ele precisará desempenhar a função de professor substituto. Aos poucos, toma gosto pela tarefa de ensinar.

Crítica

Mesmo numa comédia rasa como Uma Tarefa Maluca, certas inconsistências são lamentáveis. Desde o começo do longa indonésio, Taat (Gading Marten) narra suas dificuldades para relacionar-se com o pai professor. Inclusive, por conta disso desenvolveu asco de pessoas dedicadas a ensinar. Não há aprofundamento em motivos e afins. Mas, diante da sua necessidade de voltar ao vilarejo natal, é de se esperar que boa parte dos problemas venham da convivência. Porém, ela nem é entendida como conturbada. A cineasta Sammaria Simanjuntak faz questão de mencionar a suposta tensão no elo familiar, mas não se esforça para mostrar efetivamente ela assim acontecendo. Logo, em meio a situações que parecem articuladas como se num desenho animado – dada a predisposição às caricaturas e aos exageros –, individualidades deixam de ser importantes. O filme parte para apresentar as circunstâncias como verdadeiramente essenciais. E, nessa operação aparentemente inocente, as pessoas se transformam em meros arquétipos sem personalidade.

Por conta de uma “esperteza” que saiu pela culatra, Taat deve desempenhar temporariamente a função de...professor. Assim, está mais que prevista a jornada de aprendizado na qual embarca, gradativamente compreendendo melhor seu velho pai. Todavia, o roteiro se esquece de, ao menos, duas coisas imprescindíveis: primeiro, de entender os alunos como determinantes, pois eles aparecem de vez em quando, passando longe de participar ativamente do processo contínuo de identificação do protagonista; e, segundo, mas não menos relevante, de enxergar realmente o pai como vital.  Essas duas engrenagens acabam num plano coadjuvante excessivamente apagado. Uma Tarefa Maluca deixa o que parecia ser o seu ponto central em banho maria, aguando essa vertente muito ocasionalmente para ela não morrer seca, mas abraça uma lógica carregada de lugares-comuns e apenas os reitera. Conquistar Rahayu (Faradina Mufti) se torna o norte do sujeito que deveria estar juntando dinheiro para sair a trabalho num cruzeiro. Num ritmo sonolento, tudo isso converge.

Uma Tarefa Maluca consegue ficar ainda mais banal ao cair na missão de recuperar o pagamento surrupiado. Mesmo que seja evidente a veia cômica, e que disso claramente não surja nenhum subtexto consistente ou observações extrapolando a (sem) graça superficial, é exagerado o arsenal de caras e bocas que os personagens utilizam para se expressar. Não há espaço a sutilezas ou oscilações. As pessoas em cena são unidimensionais, artificialmente teleguiadas para agir de certas formas a fim da previsibilidade não ser contradita. Como comédia romântica, carece de maquinação amorosa. Como trajeto de erros, se ressente bastante da ausência de desenvolvimentos que possam fazer, ao menos, a dúvida ou a tensão se instaurarem em alguma medida. Todos em cena reagem a Taat, não tendo subjetividade para além de pequenas e insuficientes demonstrações passageiras. De um ponto em diante, fica difícil lembrar-se do objetivo principal desse professor postiço. O pai aparece pouco, a pretendente se limita a “endurecer” frente aos flertes tolos e os demais viram escadas.

Filmes melhores, tais como Escola do Rock (2003), mostram figuras se acostumando com o ambiente da sala de aula. Porém, diferentemente do longa dirigido por Richard Linklater, no qual em torno do protagonista gravitam questões adolescentes ressoando no adulto à deriva, aqui Taat é uma casca vazia que não inspira efetivamente ninguém. As interações com o grande gângster da vizinhança beiram o ridículo, principalmente por conta dos tons empregados pela direção burocrática de Sammaria Simanjuntak. Do ponto de vista simplesmente da produção, Uma Tarefa Maluca não compromete tanto. Ao contrário de outros exemplares de cinematografias periféricas/subdesenvolvidas que felizmente têm encontrado janela de exibição na Netflix, cujas precariedades de conceito e execução saltam aos olhos, o longa indonésio apresenta uma direção de arte e uma fotografia, ao menos, empenhadas em traduzir visualmente esse ideal narrativo que beira o cartunesco. Contudo, é uma pena que tudo seja tão atropelado, ingênuo, ordinário, em suma, que nada seja memorável.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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