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Sinopse

Dez anos após Uma Verdade Inconveniente (2006) ter alertado sobre a necessidade da união entre países para tratar a crise iminente envolvendo o aquecimento global, Al Gore retorna ao tema. Desta vez, mostra não apenas as consequências práticas da crise climática, mas também os avanços obtidos na obtenção de energia através de fontes limpas.

Crítica

Há mais de três décadas, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore busca trazer à atenção pública os problemas relacionados às questões ambientais, como o perigo das mudanças climáticas. Tal luta ganhou uma notoriedade sem precedentes com o lançamento de Uma Verdade Inconveniente (2006), de Davis Guggenheim, que gerou grande alvoroço em torno da questão, sendo premiado com o Oscar de Melhor Documentário e contribuindo para que Gore fosse agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, em 2007. Passados dez anos, período em que se manteve afastado de cargos políticos, dedicando seu tempo exclusivamente à causa ambientalista, Gore retorna com este Uma Verdade Mais Inconveniente, comandado por Bonni Cohen e Jon Shenk, que atualiza o cenário apresentado no longa anterior.

O momento parece ser bastante oportuno, com o tumultuado panorama político dos EUA estabelecido após a eleição de Donald Trump, no qual o tema volta ser questionado – já que o atual presidente trata o assunto como sendo de baixa prioridade, tendo, inclusive, já anunciado oficialmente a saída norte-americana do Acordo de Paris. Todos esses aspectos são citados no documentário de Cohen e Shenk, que se inicia relembrando a repercussão do primeiro filme – através dos áudios de noticiários da época inseridos sobre imagens monumentais de geleiras e outras paisagens naturais – e tem como pilar dramático, justamente, a Conferência sobre Mudanças Climáticas realizada na capital francesa no final de 2015. O retrato da atuação de Gore nos bastidores do evento é envolvido pela atmosfera de expectativa e tensão criada em função da negativa inicial por parte do governo da Índia sobre à assinatura do Acordo.

Esse evento-base é apresentado em meio a um considerável volume informativo sobre a evolução do Aquecimento Global na última década e a situação atual do problema. Acompanhando as viagens de Gore ao redor do globo, Cohen e Shenk expõem os dados alarmantes a respeito da elevação do nível dos oceanos, do derretimento das calotas polares, de queimadas, furacões e outras catástrofes naturais, aproveitando também para recordar algumas previsões feitas no filme de 2006 – caso da especulação sobre a possibilidade de o nível do mar atingir o Memorial do World Trade Center, em Nova York. Algo que ocorreu em 2012, mas devido à passagem do furacão Sandy. Outros desastres também são utilizados para ilustrar o tema, tanto ocorridos nos EUA – como as enchentes em Miami – quanto em países da América do Sul, Europa, Ásia e África.

Informações positivas também são reveladas ao longo da projeção, como a criação de tecnologias que facilitam e barateiam o custo da produção de energia por meios que não sejam os dos combustíveis fósseis, o lançamento do satélite DSCOVR, com o intuito de aprofundar o mapeamento climático da Terra, e o crescente investimento na utilização de fontes renováveis de energia por parte de nações como o Chile, ou mesmo dentro do território norte-americano, caso da cidade de Georgetown, Texas. O episódio do encontro de Gore, democrata, com o prefeito republicano do município texano gera uma das passagens mais bem-humoradas do documentário, apontando também para a possibilidade da união em prol de um bem maior a despeito de posicionamentos políticos.

Contudo, esses momentos de interesse ligados a questão ambiental central são costurados por um retrato pessoal e profissional de Gore, focando particularmente na trajetória de seu programa de trainees que visa a criação de “líderes ambientais”. Partindo da lembrança do primeiro grupo, treinado num galpão da propriedade rural da família Gore, até suas palestras high-tech atuais realizadas nos quatro cantos do mundo, o longa assume um tom autopromocional que o distancia do que deveria ser seu objetivo principal. Ainda que o discurso de seu protagonista seja sempre eloquente e sua figura simpática, o material ganha uma aura de peça publicitária, ressaltada pelas mensagens motivacionais edificantes que surgem precedendo os créditos finais, acompanhadas de uma convocação ao programa de trainees, com hashtags e informações de contato.

Tal aspecto, que compete por espaço com as nobres intenções do projeto, faz com que o produto final se torne passível de questionamentos como obra cinematográfica. Além disso, esse desvio de foco também acaba por abrir brechas para interpretações que podem gerar um efeito contrário, e perigoso, ao desejado por seus realizadores. Ao permitir que Uma Verdade Mais Inconveniente possa ser visto como uma propaganda pessoal, Gore corre o risco de municiar seus detratores, adeptos do negacionismo climático, que buscam diminuir seus esforços e evitar o debate, inicialmente proposto pelo longa, de uma questão tão urgente para o futuro do planeta.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Grade crítica

CríticoNota
Leonardo Ribeiro
5
Roberto Cunha
8
MÉDIA
6.5

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