Crítica


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Sinopse

O engenheiro argentino Pablo vive feliz, no Rio de Janeiro, ao lado de Lucy. Ele se prepara para um momento importante na sua carreira: a inauguração de uma plataforma de exploração de petróleo. Mas o clima de comemoração dura pouco. Sua ex-mulher telefona para dizer que o filho adolescente do casal, Andrés, está prestes a ser expulso da escola. Pablo, então, deixa o Rio e volta a Buenos Aires, mas o reencontro com o garoto não será fácil.

Crítica

Fruto de uma coprodução Brasil/Argentina, Uma Viagem Inesperada aborda uma reconexão familiar que visa suplantar problemas urgentes. Andrés (Tomás Wicz) é o adolescente-problema que foge ao controle da mãe, Ana (Cecilia Dopazo). Sentindo-se de mãos atadas, ela recorre ao ex-marido, Pablo (Pablo Rago), argentino radicado no Rio de Janeiro, pedindo, portanto, a intervenção paterna. O auto-exilado, por sua vez, está às voltas com a recente gravidez da namorada interpretada por Débora Nascimento. A viagem à terra natal se dá, então, num momento pessoalmente conturbado, em que questões profissionais, relacionadas a plataformas de petróleo, tomam parte de seu tempo. O cineasta Juan José Jusid traça um caminho conhecido, transitando por ele sem sinuosidades, encarando as contendas diretamente, às vezes de maneira simplória e com resoluções desajeitadas na manga. Carente de nuances, a trama progride aferrada a seus pontos melodramáticos e rasos.

Uma Viagem Inesperada é frágil, sobretudo, na interação entre pai e filho. O jovem não convence como alguém complicado ao ponto de tornar a presença do pai indispensável. Do modo como a encenação apresenta essa reaproximação supostamente espinhosa, parece que os senões são esquecidos como num passe de mágica. Embora Andrés mencione ressalvas e franza o cenho diante de perguntas indiscretas de Pablo, isso não é suficiente para denotar a consistência do afastamento não apenas físico, mas também emocional. Uma vez comprometido esse dado de extrema relevância, isso levando em consideração a premissa do longa-metragem, as demais tentativas de transpor o superficial tampouco logram êxito. São desperdícios pontuais alguns apontamentos, como a masculinidade tóxica vista nas escoriações da adolescente e os desdobramentos da angústia do garoto. A conduta irresponsável de Pablo é exposta, mas não devidamente contestada.

No Brasil, Juan José Jusid começa e termina Uma Viagem Inesperada. Além das participações de Débora Nascimento, cuja personagem é “a que espera a volta do amado”, o cineasta utiliza o país como bela moldura, vide as imagens de pontos turísticos cariocas, como o Pão de Açúcar, pano de fundo quase intermitente. Na Argentina, onde 90% do enredo transcorre, a proposição imagética é completamente diferente. No país vizinho, há prevalência de planos fechados, que não personalizam o cenário, assim descaracterizando um dado importante ao protagonista, pois o destino da viagem é o local de seu nascimento, escolhido a dedo para a tal reconciliação. Ainda que os atores imprimam carisma aos personagens e que a história gere interesse, as questões levantadas são desenvolvidas com displicência. Disso decorre o esvaziamento gradativo das complexidades pretensamente presentes. Fatos graves, como o coma alcoólico, reverberam por curto espaço.

O comportamento de Pablo é, de certa forma, blindado pela direção. Mesmo que a distância seja trazida à tona como possível agravante da desorientação do filho, a colocação não é explorada para além do desabafo de outrem. Ainda nesse tocante, os papeis femininos são bastante frágeis, começando pela atual namorada, que exibe submissão ao protagonista; passando pela ex-mulher, destemperada e, igualmente, dependente do ex para colocar as coisas nos eixos; chegando à Greta (Valentina Etchegoyen), interesse amoroso de Andrés que desempenha as funções de “luz no fim do túnel” e “anjo da guarda”, não ganhando tonalidades singulares, sequer quando denuncia brevemente os maus tratos do ex-ficante que sai impune. Uma Viagem Inesperada deixa para o fim revelações que ressignificam alguns laços e condutas, num movimento abrupto que acrescenta camadas com nesgas de densidade, mas que não é capaz de gerar a potência negada ao longo do processo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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