Sinopse
Joseph é um garoto que vive num orfanato e passa seus dias sonhando em ter um guarda-chuva amarelo.
Crítica
É relativamente frequente (inclusive no âmbito dos escolhidos às premiações) que animações de curta-metragem se valham de histórias comoventes, para isso apelando a situações capazes de gerar adesão emocional de pronto. Baseado parcialmente em fatos, Umbrella mostra em pouco mais de sete minutos uma trama simples, na qual sobressai justamente essa capacidade fazer com que rapidamente gostemos do personagem, por quem logo somos convidados a também sentir compaixão. Uma mãe e sua filha vão a um orfanato para doar brinquedos às crianças carentes, mas eis que um menino não está interessado em foguetes espaciais ou outras chaves de acesso ao reino da fantasia. Ele tem algo despertado pelo guarda-chuva amarelo das duas. Os diretores Helena Hilario e Mario Pece apresentam um mundo visualmente rico em detalhes, vide rugosidades e outras texturas, ainda que a fluidez dos movimentos da animação deixe um tantinho a desejar.
Diante do desafio de mostrar e resolver depressa o conflito infantil instaurado, os realizadores se saem bem, estabelecendo um vínculo gradual entre a pequena visitante e o morador melancólico. A lágrima derrubada numa superfície (expediente discutível) dá acesso ao passado, basicamente à explicação do porquê o menino deixou passar a possibilidade de enriquecer de ludicidade seu cotidiano, preferindo afanar o guarda-chuvas e relembrar algo relativo ao real. O flashback substitui a explanação verbal – aliás, o filme todo prescinde das falas, sendo o som restrito a murmúrios e à trilha sonora que ajuda a conduzir a dominante enternecedora do conjunto. Esse percurso desenhado pelo roteiro é bastante convencional, algo que não chega a comprometer a beleza com a qual o enredo se desenrola, revelando a tristeza imensa que o protagonista sente pela perda do pai. Pena que, por exemplo, o fato citado de serem refugiados pouco faz diferença nos rumos revisitados.
Umbrella força um pouco a barra ao colocar em jogo a terceira camada cronológica, com o agora idoso que cuida da loja de guarda-chuvas utilizando o mesmo cachecol de uns 70 anos atrás para que o espectador não perca de vista o fato dele ser o protagonista envelhecido. Ainda que obviamente haja a vontade de não codificar demasiadamente a narrativa, também para privilegiar um público de faixa etária baixa, Helena Hilario e Mario Pece exageram um pouco na preponderância da necessidade, abraçada como preceito principal, de colocar tudo explicado nos mínimos detalhes. Assim sendo, sobra pouco à intuição e menos ainda à imaginação. No entanto, é louvável como, apesar dos senões, eles conseguem construir uma ponte firme, potencialmente de empatia e proximidade, com a criança que apenas gostaria de ter restituído o traço de seu passado familiar.
Especialmente no desenlace do desentendimento entre o menino e a menina pronta para repreendê-lo por roubar o guarda-chuva amarelo de sua mãe, Umbrella dá suas derrapadas. Os coadjuvantes são meras escadas ao protagonista mirim, especificamente chaves periféricas para que acessemos a tragédia pessoal de alguém pequeno demais para arbitrar sobre o próprio presente e, portanto, também de certo modo destronado da possibilidade de definir os rumos de seu futuro. Se trata, portanto, de um curta-metragem singelo, cuja mensagem principal é a capacidade que alguns episódios têm para marcar a nossa vida, principalmente dos que precisam se apegar ás lembranças para não sucumbir à dureza abrasiva da realidade. No quesito competência para gerar identificação e adesão, o filme se sai bem por suscitar reações imediatamente, tais como compadecimento e empatia, além de cunhar permanentemente a latente tristeza dos desvalidos.
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