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Sinopse

Em um especial interativo, Kimmy Schmidt se prepara para a maior aventura de sua vida. Porém, antes de dizer "eu aceito" no altar para um príncipe de verdade, ela precisa enfrentar um problema do passado: o Reverendo!

Crítica

Depois de quatro temporadas e um total de 51 episódios, a série Unbreakable Kimmy Schmidt foi uma das apostas originais da Netflix de melhor resultado. Criada por Robert Carlock (produtor de Friends, 2001-2004) e Tina Fey, o programa foi indicado a 18 Emmys, 3 SAG Awards, 2 Critics Choice, 5 Satellite e ganhou quase duas dezenas de prêmios durante o tempo em que esteve em exibição. Um fenômeno como esse, portanto, não iria embora sem uma despedida à altura. E o resultado é Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy x Reverendo, um longa interativo que está sendo vendido como um telefilme, mas nada mais é do que um capítulo estendido que se propõe a fechar muitas das pontas soltas que a trama insistia em deixar para trás, principalmente a relação entre a personagem-título, Kimmy Schmidt, e o amaldiçoado Reverendo. E se o gosto no final dessa maratona é um tanto amargo, é justamente por terem forçado os limites da história para além do que os seus parâmetros estão habituados a comportar.

O enredo é simples – aliás, uma característica do programa. Kimmy Schmidt, interpretada por Ellie Kemper como se fosse o papel de sua vida, é uma ‘mulher marmota’, ou seja, foi ludibriada, junto com outras três garotas como ela, a se trancar em um bunker debaixo da terra junto com um pastor religioso para fugirem do fim do mundo. A desculpa dele, obviamente, era uma mentira, e o seriado começa, lá no primeiro episódio, com ela e suas colegas de clausura sendo libertadas pela polícia, que lhes revela que foram enganadas por um charlatão. Esse, personagem que serve como uma luva para Jon Hamm revelar uma versatilidade necessária, distanciando-se anos-luz do sisudo Don Draper de Mad Men (2007-2015), foi preso, mas seguiu aparecendo pontualmente como uma assombração na vida dela e das demais vítimas, graças ao poder de persuasão que exercia sobre elas. Ou seja, para seguir com sua vida e, enfim, ser feliz, Kimmy teria que enfrentar o Reverendo por uma última, e definitiva, vez.

No começo de Kimmy x Reverendo, a encontramos de casamento marcado com um príncipe distante na linha sucessória inglesa, participação de um sempre intenso e desprovido de cerimônias Daniel Radcliffe. Faltando apenas três dias para o evento, ela descobre na própria mochila um livro que poderia indicar a existência de um novo esconderijo – e, com isso, outras moças que seguiriam nas mesmas condições por ela enfrentadas tantos anos antes. Assim, precisa ir até o presídio onde o Reverendo está encarcerado e questioná-lo a respeito dessa possibilidade. Ao mesmo tempo, seus melhores amigos – a senhoria Lillian Kaushtupper (Carol Kane), o afetado e inseparável Titus Andromedon (Tituss Burgess), a antiga chefe Jacqueline White (Jane Krakowski) e até uma ex-colega de clausura, Cyndee (Sara Chase) – irão se revezar entre acompanhá-la nesta busca, enquanto outros se ocuparão de não apenas comprovar o amor e devoção do noivo, mas também de organizar o que falta para a festa.

Talvez o problema desse especial dirigido por Claire Scanlon (O Plano Imperfeito, 2018) seja justamente aquilo anunciado como seu diferencial: os recursos interativos. Assim como Bandersnatch (2018), proposto dentro do universo Black Mirror, Kimmy x Reverendo a todo instante deixa as escolhas nas mãos do espectador. Ou seja, com um toque no controle remoto, aquele assistindo pode decidir se Kimmy irá usar o vestido chique ou o divertido durante o casamento, se irá ler o livro recém encontrado ou dar uns amassos no noivo, ou se em sua viagem em busca de justiça será acompanhada por Titus ou por Jacqueline. A maioria das questões propostas, no entanto, são completamente insignificantes, sem relevância para o andar dos acontecimentos. E caso alguém faça uma escolha “errada”, não se preocupe: imediatamente é lhe dada a opção de retornar e começar de novo. Ou seja, o quanto destas decisões estão realmente nas mãos da audiência? Poucas, é fato.

Um momento curioso é quando Kimmy finalmente está diante do Reverendo, e com uma arma na mão. Sem avançar nos spoilers, ao espectador são oferecidas quatro possibilidades: matá-lo, pisoteá-lo, explodi-lo ou perdoá-lo. Com certeza, qualquer um que tenha acompanhado o que ele fez com a protagonistas e com as outras que enganou, não hesitará em partir para uma das três primeiras opções. Mas Kimmy é uma garota ingênua, que desconhece o mal do mundo e está sempre pronta e ver o lado cheio do copo. Sendo assim, não é difícil imaginar qual é o caminho que por ela seria tomado. Entre trajetos óbvios e presenças resgatadas mais para agradar aos fãs do que para contribuir com o roteiro – como Mikey Politano (Mike Carlsen) ou Xanthippe Voorhees (Dylan Gelula) – Unbreakable Kimmy Schmidt: Kimmy x Reverendo consegue oferecer uma conclusão minimamente curiosa a uma personagem absolutamente inverossímil, mas não por isso desprovida de carisma e graça. Pena terem optado por um formato ambicioso que não condiz com o espírito do show e nem faz jus às expectativas levantadas pela proposta.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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