Sinopse
Beth deixa a zona rural dos Estados Unidos para estudar em Nova Iorque, onde seu tio Frank é um renomado professor de literatura. Ela descobre que ele é gay, algo escondido da família.
Crítica
O que mais chama atenção no que diz respeito a esse Tio Frank é o quão antiquado esse projeto termina por soar junto a sua audiência, como se tivesse sido feito três ou até quatro décadas atrás, e não no virar dos anos 2020. E isso não apenas pelas intenções demonstradas nos bastidores, como também pelas discussões provocadas por uma trama até bem-intencionada, mas tão repleta de deslizes e perdões desnecessários que se torna quase inevitável uma sensação de comprometimento com o status quo, justamente aquilo que deveria estar sendo colocado em debate. Tanto é que se torna revelador de uma conformidade preocupante o quão acomodado se mostra o diretor e roteirista Alan Ball, vencedor do Oscar pelo roteiro do provocador Beleza Americana (1999) e responsável por uma série que até hoje segue firme como um dos retratos mais duros e verdadeiros da família norte-americana: A Sete Palmos (2001-2005).
Para começar, Tio Frank é menos sobre o personagem citado no título e mais sobre a sobrinha em questão. Apesar de ser ele, evidentemente, a figura mais interessante da família, é na jovem Beth (Sophia Lillis) que a trama prefere se concentrar na maior parte da trama. É ela que o vê de modo quase endeusado, como uma figura mítica, da qual tanto anseia em se aproximar como também em seguir os mesmos passos. Os problemas começam, no entanto, por não haver uma transferência desse ponto de vista: até o final da história, o espectador seguirá vendo-o através dos olhos dela, sem se aprofundar, como seria desejado, no que se passa com ele. Quanto a isso, o que restará são passagens rápidas de flashbacks, que possuem a intenção de resumir em uma ou outra sequência uma angústia que, supostamente, vem lhe acompanhando por toda a vida. Uma concepção não apenas redutora, mas também bastante ingênua.
Beth quer ser como Frank. É por isso que, ao ouvir dele um conselho – “não se limite pelo que está ao seu redor agora, você pode se tornar em tudo aquilo que desejar de verdade” – decide deixar para trás a pequena cidade no interior onde todos nasceram e fazer como ele: se mudar para Nova Iorque para estudar na faculdade. Chegando lá, no entanto, logo se depara com a mentira que o tio há tanto vinha contando para os demais parentes: ele é gay. Casado com Wally (Peter Macdissi, presente em quase todos os trabalhos de Alan Ball), leva uma vida mais descontraída e libertária. Professor universitário, não é estranho ao uso de drogas e bebidas, e tem a casa frequentada por colegas e alunos. O problema, no entanto, está mais na mente dele do que na percepção dela, que descobre um tio ainda mais interessante do que aquele que considerava até então. Isso, ao menos, até o avô morrer, o que os obriga a uma viagem de volta às raízes.
Ao se transformar em road movie – um estilo batido que necessita ideias novas para ser revigorado – Tio Frank também opa por abraçar outros conceitos desgastados, como a homofobia enraizada dos próprios homossexuais e o psicologismo barato que transforma em equações simples situações muito mais complexas, como se uma rejeição paterna fosse suficiente para ditar uma existência repleta de traumas e inseguranças. Ao invés de investir nesse homem que se deixou envolver por um mundo mais cosmopolita sem, no entanto, esquecer de onde veio, Ball, ao contrário do que demonstrou em suas obras mais notáveis, deixa claro se sentir mais seguro ao transitar apenas pelas superfícies dessas figuras, usando como desculpa o fato da menina surgir como uma muleta, e não um agente transformador. Tanto é que, a partir de certo ponto, a presença dela nem mais relevância possui, por mais que se insista em dotá-la de maior destaque.
Também causa curiosidade a escalação de Paul Bettany como o personagem-título. Os melhores trabalhos dele foram como coadjuvante de filmes como Uma Mente Brilhante (2001) e Mestre dos Mares (2003), enquanto que toda vez que se arriscou como protagonista – vide Wimbledom: O Jogo do Amor (2004) ou Criação (2009) – as intenções invariavelmente superaram a realização. Em Tio Frank, o mesmo mais uma vez se repete, ao oferecer uma figura fria e distante, da qual é difícil nutrir qualquer empatia. E enquanto o Wally de Macdissi rouba a cena facilmente a cada aparição, restam participações desperdiçadas, como as ótimas Margo Martindale e Judy Greer, ambas com menos tempo em cena do que o necessário, e uma Sophia Lillis que tem se repetido perigosamente como a adolescente “não igual às outras” – como visto em It: A Coisa (2017) ou na minissérie I Am Not Okay with This (2020). Ou seja, haviam elementos em cena suficientes para que o resultado ficasse acima da média. Faltou, no entanto, um mergulho profundo nos dramas propostos e uma condução segura sobre como lidar com cada um desses segmentos e, principalmente, o que não fazer com eles.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 4 |
Edu Fernandes | 7 |
Chico Fireman | 4 |
MÉDIA | 5 |
Nossa, que crítica mais rasa. O filme é incrível e o fato da Beth ser a narradora torna ele ainda mais interessante. É óbvio que situações paternas tão pesadas podem sim desencarrilhar vidas. O Paul fez um trabalho excelente e esse filme consegue arrancar choro e risos do espectador. Definitivamente faltou bom senso por parte do crítico.