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Sinopse

No futuro próximo, a tecnologia controla quase todos os aspectos da vida. Mas quando Gray, um tecnofóbico, tem seu mundo virado de cabeça para baixo, sua única esperança de vingança é um implante experimental de chip de computador chamado Stem.

Crítica

A relação cada vez mais próxima – e complicada – entre o homem e a tecnologia não chega a ser nenhuma novidade na tela do cinema. Filmes que abordam essa questão são inúmeros, e vão desde clássicos, como Metrópolis (1927), até alguns bem descartáveis, como A Vigilante do Amanhã (2017). Upgrade: Atualização, longa escrito e dirigido por Leigh Whannell, infelizmente, está mais para essa segunda opção. O que não deixa de ser motivo de lamento. Afinal, este é o homem por trás de títulos como Jogos Mortais (2004) e Sobrenatural (2010), filmes que fizeram o seu nome como um dos principais roteiristas contemporâneos de terror em Hollywood. Aqui, pela primeira vez se arrisca um tanto fora da sua zona de conforto, mas de forma desajeitada e sem alcançar por completo o potencial do cenário por ele mesmo desenhado. Sinal de que até pode ser bom no gênero que o tornou famoso, mas deverá evitar experiências como essa, além daquele ambiente já conhecido, num futuro próximo.

Estamos em um futuro não muito distante, no qual as facilidades alcançadas por equipamentos e aparelhos mais modernos ultrapassaram as barreiras antes imaginadas. O alcance de vida tem superado expectativas, enquanto que as novidades estão por todos os lados, como carros que se dirigem sozinhos e outras inovações. Grey (Logan Marshall-Green), no entanto, é o tipo de homem que segue preferindo sujar as mãos. Por mais que tenha acesso a tudo que há de mais recente nesse campo, faz questão de manter um carro à moda antiga, que exige reparos constantes e outros serviços mecânicos que somente ele pode operar. No entanto, após uma saída rápida com a esposa no veículo dela – um modelo de último tipo, o qual ele mal consegue entender como funciona – algo dá errado e os dois se veem em um ambiente que lhes é estranho, cercados por violentos assaltantes que parecem ter uma agenda própria. Como resultado, a mulher é morta, e o protagonista termina em uma cama de hospital, para todo o sempre paralítico. Ou não.

Isso porque a primeira pessoa a ficar a par de sua situação é o patrão da garota recém-falecida, que movido por um sentimento de culpa – os dois estavam na rua por causa de um compromisso de trabalho dela – acaba o convidando para servir de cobaia de um experimento ainda em fase de testes, mas que pode representar mais do que uma sobrevida: seria o início de uma nova e surpreendente fase. Se trata, afinal, da inserção de uma inteligência artificial no corpo dele, algo (ou alguém) dono de identidade própria – STEM, a propósito – que a partir daquele momento passa a co-existir com ele, realizando tarefas até então impossíveis – como fazê-lo voltar a andar – como outras ainda mais inimagináveis – como torná-lo uma verdadeira máquina de guerra, caso (e quando) for necessário.

O que se dá deste ponto em diante é o estabelecimento de uma dinâmica também não muito original – Grey e STEM aos poucos vão se entendendo, até o momento em que um terá que lutar para se manter vivo diante o crescente domínio do outro. É algo similar ao visto em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), por exemplo, porém sem uma bem colocada ironia ou duplas – ou triplas – interpretações. Afinal, há uma missão clara a ser desenvolvida – investigar se o crime do qual foram vítimas foi, de fato, uma obra do acaso, ou parte de uma conspiração além do que poderiam supor (não precisa ser nenhum gênio para descobrir qual será o caso). Trata-se, portanto, de uma mistura de Sherlock Holmes com Ciborgue, porém sem a elegância de um, nem o espetáculo do outro.

Logan Marshall-Green não é um ator dos mais sutis, e as caretas que tomam conta da sua performance cada vez que se vê em perigo e STEM é obrigado a assumir o controle por pouco não transformam o conjunto em uma comédia involuntária. A ambientação predominantemente escura, apostando no visual soturno como um indicativo do destino trágico que nos aguarda enquanto humanidade, também é um recurso desgastado que apenas deixa em evidência a falta de criatividade do realizador. Whannell, em seu segundo trabalho como diretor – o primeiro após o igualmente problemático Sobrenatural: A Origem (2015) – mostra ainda ter um longo caminho a percorrer caso seja sua intenção seguir investindo neste viés do seu pretenso talento. Até lá, Upgrade: Atualização fica como registro não de uma evolução, mas de um esforço vazio que resultado prático algum consegue apresentar – pelo contrário, termina por soar mais como um passo em falso do que um avanço minimamente digno de nota.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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