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Sinopse
Crítica
Remontando aos eventos fatídicos do dia 22 de julho de 2011, quando um ultradireitista norueguês assassinou mais de 70 pessoas em dois atos brutalmente consecutivos, Utoya: 22 de Julho é fruto de um desafio técnico árduo. Depois de mostrar a explosão nos prédios do governo na capital Oslo, recorrendo a imagens verídicas de câmeras de segurança, o cineasta Erik Poppe registra o massacre na ilha que dá nome ao filme por meio de um plano-sequência cuja execução é complexa. Essa opção narrativa intenta tornar o espectador o mais próximo possível da angústia experimentada pelos jovens atacados de surpresa por um sujeito armado até os dentes. A intenção dos atos odiosos era mandar uma mensagem política oriunda diretamente de um pensamento conservador ao extremo. Os passos iniciais são de contextualização, com Kaja (Andrea Berntzen) desentendendo-se com a irmã e, tão logo que os tiros são ouvidos, iniciando sua trajetória de escape e preocupação com a caçula sumida.
Rapidamente a opção pelo plano-sequência perde potência dramática, especialmente por conta do pouco dinamismo do acontecido nas cenas. Em vários momentos acompanhamos as possíveis vítimas acuadas em algum lugar, restringindo-se a demonstrar uma soma de confusão e medo. Na verdade, Utoya: 22 de Julho não é exatamente acerca do episódio que ficou marcado na história norueguesa, mas sobre as reações da protagonista ao tal ataque insólito. A câmera fica colada invariavelmente nas suas respostas ao terror crescente. O realizador se furta, assim, de intercalar perspectivas, mantendo o enredo condicionado pelo comportamento da menina que sonha em ser deputada. A conjuntura política, as motivações do assassino, o porquê da escolha dos alvos, todo esse conjunto é preterido em função de um percurso supostamente urgente, em virtude da representação de instantes alarmantes. Praticamente não se vê o algoz, há dele um vislumbre rápido, ou seja, inexiste a personalização.
Utoya: 22 de Julho guarda algumas semelhanças curiosas com 22 de Julho (2018), longa de Paul Greengrass que aborda o mesmo episódio, mas de maneira completamente diferente. Ambos os protagonistas são primogênitos desesperados pela falta de notícias dos irmãos mais novos, e, ainda, possuem destinos semelhantes quando trafegam pela encosta tentando escapar. Todavia, Erik Poppe não dá conta de variar o registro, incorrendo num processo viciado, marcado por um desenho de som incompetente que, sequer, permite ao espectador intuir a posição do matador em relação à Kaja, uma vez que, salvo em instantes excepcionais, os estampidos são ouvidos aparentemente de uma distância bastante semelhante. O campo e o extracampo, portanto, possuem uma interlocução simplória, nos restando elucubrar sobre o que acontece longe do raio de visão da adolescente que encontra poucos alvejados no caminho rumo à 'segurança", lamentando por quem não teve melhor sorte naquele pesadelo.
Embora procure se sustentar na urgência dos acontecimentos, Utoya: 22 de Julho evita adentrar em certos espaços, como a apresentação das consequências imediatas da selvageria. É insuficiente o par cenas em que Kaja toma contato com feridos. A despeito da mensagem forte que carrega, do alerta dos efeitos do extremismo aliado ao porte indiscriminado de armas, a produção peca pela falta de criatividade, vide a recorrência invariável à dinâmica constituída de personagens escondidos e colegas correndo nas bordas do enquadramento para supostamente demarcar o deslocamento que o som, por exemplo, não denota. Extirpando do fato o seu cenário macro, Erik Poppe enfraquece a circunstância por limita-la a cerca de 70 minutos de correria desenfreada, gritos alimentados pelos corpos se avolumando no chão do acampamento, e uma observação parcial da perversidade alheia. Os diálogos que entrecortam deslocamentos são meras formalidades, pois igualmente acrescentam pouco.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Roberto Cunha | 7 |
Francisco Carbone | 5 |
Chico Fireman | 3 |
Cecilia Barroso | 6 |
MÉDIA | 5 |
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