Crítica
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Sinopse
Uma voz errante invade o corpo de uma mulher à procura de significados sérios e banais. Num jogo performático de palavras, questões sobre estereótipos e pertencimento são evocadas.
Crítica
“Pouco mais de um mês”. Esse é o título do curta-metragem dirigido pelo mineiro André Novais Oliveira em 2013 que o levou a ser premiado no Festival de Cannes, um dos mais importantes eventos cinematográficos de todo o mundo. É, também, o tempo que levou para que se tornasse real o filme Vaga Carne, média-metragem de 45 minutos exibido na sessão de abertura da 22a Mostra de Cinema de Tiradentes. Em cena, Grace Passô – aqui também estreando como realizadora – adapta para a tela grande o monólogo que há alguns anos vem circulando pelas principais salas teatrais do país. Da ideia para a realidade, pouco mais de um mês. Uma informação, aliás, curiosa apenas para quem se interessa pelos bastidores. Afinal, na tela grande, esse restrito espaço de tempo nunca chega a ser percebido. Pois o que é entregue é Cinema. Assim mesmo, em caixa alta.
A relação entre André Novais e Grace Passô não é casual. Ela é a protagonista de um dos mais premiados longas dele, Temporada (2018). E o convite foi retribuído. Afinal, ele pode ser visto entre os poucos nomes do elenco de Vaga Carne. Dessa vez, apenas ela tem voz, no entanto. Grace está no palco como essa personagem indefinida, que serve apenas para dar vazão a uma urgência que não se controla. É o momento dela, ou o que quer que a estimule, que esteja por trás daquela pessoa, falar. Ele, assim como alguns outros poucos, estão sentados na plateia, a observando. Ora com atenção, ora com espanto. Desinteresse e surpresa se alternam. Afinal, não é fácil ouvir tudo o que é dito. Porém se faz presente. É um grito que há muito não pode mais ser contigo. Não há mais como permanecer calado.
A carne que está vaga é a dela, mas pode ser a sua, assim como de qualquer outro. É a do homem, e da mulher, portanto. É o ser humano que, se não se abre, não se manifesta, não ouve e não oferece retorno, mais nada é do que apenas isso. Carne. Um pedaço de carne. Que para ser mais do que isso, precisa dar um passo adiante. Ir além do que se espera dele. Quebrar expectativas. Provocar controvérsias. Incomodar. Provocar. E é o que essa voz, à procura de uma vaga carne que possa ocupar, faz em todo o seu direito. Mas quem está disposto a permitir que isso aconteça através de uma mulher, negra, um tanto distante do ideal de beleza publicitário massificado a torto e direito entre àqueles mais desavisados? O exercício, portanto, vem de duas frentes. Pulso e repulso. Fluxo e contra fluxo. Ela está ali, de peito aberto, pronta para o debate. Falta, agora, que o discurso se complete e, para isso, um emissor apenas não basta. É necessária a resposta.
Grace Passô, premiada como Melhor Atriz no Festival do Rio por Praça Paris (2017) e no Festival de Brasília pelo citado Temporada, aqui aparece solta de qualquer amarra imposta por outros olhares. Em Vaga Carne, ela é voz e é corpo. São duas personagens, por vezes em conflito, no mais do tempo em acordo. A duplicidade é também sinônimo de ousadia. Mas a ela essa coragem se mostra justa. Não sabe se fica, também não tem para onde ir. Talvez, portanto, nem seja esse o seu intento. Sabe que é preciso preparar o terreno. E que não se conquista tudo de uma só vez. Sacrifícios são necessários. E o preço, por mais alto que esse seja, exige que seja pago. Para que os próximos – ou as próximas – não tenham que enfrentar os mesmos desafios.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Daniel Oliveira | 6 |
Alysson Oliveira | 8 |
Bruno Carmelo | 7 |
Francisco Carbone | 10 |
Diego Benevides | 8 |
Cecilia Barroso | 8 |
MÉDIA | 7.9 |
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