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Crítica


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Sinopse

Tori Coro se envolve com luta clandestina aos 22 anos. E começam a correr rumores de que ela morreu numa dessas batalhas sem regras, o que vai provocar a investigação de sua irmã.

Crítica

Para bons contadores de história, o esporte pode ser uma excelente matéria-prima. Não é preciso gostar de boxe, por exemplo, para torcer pelo humilde protagonista de Rocky: Um Lutador (1976) ou para compreender os impulsos destrutivos de Jake LaMotta em Touro Indomável (1980). Os desafios impostos pela atividade esportiva, independentemente da modalidade, trazem temas com apelo universal e podem servir como ferramentas de construção ou desconstrução. A temática esportiva, entretanto, não funciona sem personagens minimamente interessantes ou carismáticas, como prova Vale da Luta, dirigido e roteirizado por Rob Hawk. Com um elenco composto por várias lutadoras profissionais de MMA, o filme parece ter sido desenvolvido em função do esporte, servindo principalmente como pretexto para exibir o maior número possível de mulheres brigando nos noventa minutos de projeção.

A trama gira em torno de garotas que se envolvem numa rede ilegal de lutas no submundo de Nova Jersey, focando principalmente em duas irmãs: Tori (Chelsea Durkalec) e Windsor Coro (Susie Celek). Quando o corpo de Tori é encontrado com claros sinais de violência, sua irmã mais velha – e distante do mundo das brigas de rua – resolve treinar com a lutadora Jabs (Miesha Tate) para se vingar da suposta assassina no Vale da Luta, onde os confrontos não têm regras e muito dinheiro circula em apostas. É difícil, no entanto, determinar qual das duas irmãs serve como personagem principal. O primeiro ato é quase inteiramente dedicado à apresentação e desenvolvimento de Tori, cuja morte (revelada na sinopse oficial) é essencial para o andamento da história. Já o restante do filme se concentra em mostrar Windsor e sua jornada em busca de vingança, ignorando o fato de que a audiência não tem razão alguma para se importar com uma personagem mal introduzida como secundária e repentinamente promovida a protagonista.

Além de confuso, o roteiro também se revela preguiçoso ao oferecer praticamente todas as informações relevantes para a trama por meio de diálogos tolos e dolorosamente expositivos. As performances, infelizmente, não ajudam. As melhores atuações são, no máximo, razoáveis; não é surpreendente que lutadoras profissionais não sejam particularmente convincentes diante das câmeras, mas até o restante do elenco faz um péssimo trabalho. Há, ainda, escolhas questionáveis na escalação das atrizes, como a decisão de colocar duas mulheres da mesma faixa etária para interpretarem mãe e filha ou o emprego da brasileira Cristiane Justino (conhecida como Cris Cyborg no octógono) num papel razoavelmente relevante, considerando que ela entrega a que é, certamente, a pior performance da obra.

Embora o elenco formado quase exclusivamente por mulheres mereça alguns pontos na questão da representatividade feminina, Hawk peca, ainda, ao perpetuar um recurso recorrente na ficção conhecido como "bury your gays" ("enterre seus gays", em tradução livre), que consiste em negar finais felizes a personagens homossexuais, tornando particularmente frequentes as mortes de gays em filmes, livros e programas de TV. Considerando que Tori, abertamente lésbica, morre no primeiro terço da projeção, é difícil enxergar sua orientação sexual como algo além de um pretexto para justificar uma cena de sexo (completamente irrelevante para o enredo) entre ela e sua namorada (Erin O'Brien). Como se não bastasse, há uma cena em que a "verdadeira heroína" da história (Windsor) reage com nojo a uma investida de outra mulher.

Exalando amadorismo em absolutamente todos os aspectos – chega a ser surpreendente constatar que este não é o trabalho de estreia de Rob Hawk, mas, sim, parte de um currículo extenso como diretor, roteirista e diretor de fotografia – Vale da Luta talvez desperte o interesse de fãs de UFC que desejam ver suas lutadoras favoritas em cena, mas até esse público pode sair decepcionado. Ironicamente, a incompetência da direção e da montagem fazem até mesmo as numerosas lutas parecerem entediantes, sabotando o único diferencial do filme.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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