Sinopse
Crítica
Pois tudo que é bom, um dia, chega ao fim. E, pelo que parece, chegou a vez da Pixar enfrentar esse mesmo destino tão comum a tantos. Depois de mais de uma década de resultados impressionantes e de colecionar conquistas no Oscar, somar campeões de bilheteria e agradar sem distinção gregos e troianos, público e crítica, começaram a aparecer os primeiros tropeços do mais bem sucedido estúdio de animação da história recente de Hollywood. E depois do equívoco que foi Carros 2 (2011), que até chegou a fazer dinheiro mas que todo mundo fez questão de esquecer assim que saiu do cinema, a sina malfadada continua com esse Valente, um filme que até é melhor do que o longa do ano passado, mas ainda está muito aquém de atender as expectativas que nos acostumamos a ter em relação aos criadores de obras-primas como Toy Story 3 (2010), Up: Altas Aventuras (2009) e Wall-E (2008), apenas para ficarmos nos mais recentes.
Valente tem sido saudado por ser a primeira produção da Pixar estrelada por uma princesa – um personagem mítico na história dos Estúdios Disney. Esta relação é, de fato, muito importante, pois a Pixar já há alguns anos foi adquirida pela Disney. E o que se percebe, no entanto, é que ao invés da novata influenciar a mais antiga com sua criatividade e talento, é o contrário que está acontecendo. E essa não é uma boa notícia. Até porque há muito tempo a casa do Mickey Mouse deixou de ser referência quando o assunto são desenhos animados em longa-metragem – estúdios muito menos tradicionais, como a DreamWorks (Shrek, Kung Fu Panda), Fox (A Era do Gelo) e Aardman (Piratas Pirados), por exemplo, que conseguido ultimamente sucessos muito mais importantes do que a Disney. Um bom exemplo dessa inversão de papéis foi Enrolados (2010), a versão da Disney, sob a supervisão da Pixar, para a fábula da Rapunzel. Esta, apesar de ter sido recebido com entusiasmo pela crítica, não conseguiu se pagar nas bilheterias americanas (mesmo tendo arrecadado mais de US$ 200 milhões). Ao que tudo indica, esse casamento não deverá durar por muito tempo.
Um dos pontos fortes da Pixar, o roteiro de suas histórias, é basicamente o principal deslize de Valente. Trata-se de um filme, evidentemente, muito belo, com um visual encantador e um perfeccionismo assustador – detalhes, como o cabelo da protagonista, parecem saltar aos olhos de tão realistas. Mas pouco servem diante de um enredo que demora para envolver, e quando acontece, tem gosto de requentado. Temos aqui uma mocinha que recusa enfrentar suas responsabilidades de dama da corte – como aceitar um pretendente escolhido pelos pais – e, revoltada, acaba fazendo um acordo com uma bruxa. É óbvio que o acerto dará errado, e quem irá sofrer será a rainha, sua mãe, que acaba transformada em um urso gigante. Estabelece-se, nesse ponto, uma corrida contra o tempo para desfazer a magia e reconquistar o respeito e carinho do pai e de todo o reino. Nada que não se tenha visto antes, sob os moldes mais diversos. Muda-se a embalagem, mas o conteúdo é o mesmo.
Com um orçamento de US$ 185 milhões, Valente deverá faturar um pouco mais do que isso nas bilheterias, mas ainda assim estará distante de um resultado como o do já citado Toy Story 3 (2010), que ultrapassou a marca do 1 bilhão há apenas dois anos atrás. Talvez esse resultado irregular esteja nas mãos pouco experientes de seus realizadores: Brenda Chapman havia feito apenas um longa antes (O Príncipe do Egito, 1998), há quase quinze anos, enquanto que Mark Andrews e Steve Purcell estão estreando nessa função. É uma pena algo soar tão desequilibrado e sem “liga”, ainda mais quando é perceptível que todos os elementos estão presentes, porém fora dos seus devidos lugares. É bonito, mas isso já não basta. Com tantas portas abertas, faltou coragem ou visão para ousar uma maior profundidade e relevância.
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