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Crítica


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Sinopse

Após os acontecimentos em Londres, Dom, Brian, Letty e o resto da equipe tiveram a chance de voltar para os Estados Unidos e recomeçar suas vidas. Mas a tranquilidade do grupo é destruída quando Ian Shaw, um assassino profissional, aparece querendo vingança pela morte de seu irmão. Agora, a equipe tem que se reunir para impedir este novo vilão. Mas dessa vez, não é só sobre ser o mais rápido, mas sim, sobre continuar vivo.

Crítica

Há algum tempo que a franquia Velozes e Furiosos já não se preocupa mais em se levar a sério. Na verdade, em retrospecto, percebe-se que os seus melhores exemplares foram aqueles que entenderam que a força dos filmes protagonizados por Vin Diesel e pelo falecido Paul Walker estava na galhofada e nas absurdas sequências de ação. E se esses elementos se fizeram cada vez mais presentes depois que Justin Lin assumiu a direção a partir do terceiro longa-metragem da série, nem sempre se mostravam ser o suficiente para garantir um filme eficiente e bem construído. Substituindo Lin na cadeira de diretor em Velozes e Furiosos 7, este que poderia ser enfim o derradeiro exemplar das “aventuras” de Brian O’Conner e Dominic Toretto, entra o atualmente conceituado James Wan, que tem sido cada vez mais reconhecido pela carreira que vem construindo habilmente no gênero dos filmes de horror.

Parecia ser o toque que faltava. Velozes e Furiosos 7 não é uma obra irretocável, e não pela enredo que, convenhamos, releva-se – depois de assistirmos ao grupo de Toretto arrastar um cofre pelas ruas do Rio de Janeiro, perseguir um tanque e derrubar um avião monstruoso, por que uma agência secreta do governo americano não chamaria a equipe de Vin Diesel para recuperar um programa que, segundo um dos personagens, teria feito a caçada de dez anos a Osama Bin Laden, ter durado apenas duas horas? Não, o filme se perde em pequenas sequências investidas em dramas paralelos que não são necessários para o andamento da trama principal. Algo ilustrado literalmente quando, em um elevador, o casal formado por Dominic e Letty (Michelle Rodriguez) protagoniza um diálogo que deveria afetar emocionalmente ambos, mas que é esquecido tão logo chegam ao seu andar – afinal, a sequência de roubo em que estão envolvidos tem de seguir em frente. Liste nessas distrações também as piadinhas de Roman – o dispensável Tyrese Gibson. Não por acaso o filme que o introduz, +Velozes +Furiosos (2003), o segundo, é o único definitivamente ruim dentre todos.

Sob a batuta de Wan, os diálogos risonhos, as sequências bregas e as impossíveis cenas de ação não parecem mais existir para si mesmas, apenas para justificar sua existência. Experiente em criar tensão e ciente de que essa só existe quando nos preocupamos com os personagens que coloca em perigo, o cineasta apresenta um longa-metragem bem construído, com três atos bem definidos e um tom de urgência crescente, culminando em um clímax que, obviamente inusitado, ainda se mostra bem orquestrado e divertidíssimo como sequência independente, distribuindo bem os elementos pelo  tabuleiro. Algo importante para o filme que é também uma homenagem a Paul Walker, falecido em 2013 em um trágico acidente de carro. Funciona, portanto, como despedida de Brian, investindo em um desfecho digno de algum seriado cafona fora de seu tempo – algo à que sempre remetem os planos que trazem os heróis andando ombro a ombro – mas que serve ao que se propõe e diz um belo “tchau” para o personagem e para o ator que baseou sua carreira nele.

Agora, considerar as falas e os diálogos uma falha de roteiro é desentender que as pérolas proferidas pelo elenco – todo ele brilhante em sua canastrice, de Kurt Russell a Djimon Hounsou – são parte do charme de personagens como o Hobbs de Dwayne Johnson. “Eu sou a cavalaria”, diz ele não muito depois de se diagnosticar curado da fratura no braço e livrar-se do gesso que o prendia da maneira mais badass que há. E convenhamos, quantas coisas soam tão duronas quanto o “The Rock” atirando com uma submetralhadora giratória a lá O Exterminador do Futuro contra um helicóptero militar?

Enquanto isso, este capítulo tão saudosista não poderia ter escolhido um vilão melhor. Surgindo como o mal encarnado, o Deckard Shaw de Jason Statham conta com o trunfo da própria reputação do ator e dispensa qualquer desenvolvimento maior. Se ele diz que é perigoso, acredita-se e ponto final. Não que existam dúvidas quanto à brutalidade do personagem, já que ele protagoniza as melhores das muitas lutas que permeiam a história – e talvez aí resida outro inchaço da trama, não precisavam ser tantas e nem durarem tanto. Todas, porém, apesar de aqui e ali Wan apostar em uma câmera frenética demais, são quase sempre criativamente coreografadas e captadas pelo cineasta.

Demonstrando, entretanto, continuar sem um timing cômico bom para as piadas que são realmente engraçadas – Gibson! – Velozes e Furiosos 7 também traz algumas das melhores sequências de ação envolvendo automóveis, com destaque para aquela em Dubai que atinge o ápice dos delírios dos criadores – e isso sim, levando-se em consideração que neste mesmo filme podemos ver carros equipados com paraquedas saltando de um avião. Não deve ser o último episódio da série, infelizmente, pois seria um final digno e apropriado que a encerraria ainda trazendo seus dois heróis à frente da ação.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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