Crítica
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Sinopse
Cada vez mais identificado com o papel de pai de família, Dominic Toretto precisará enfrentar um inimigo que possuiu seu sangue, uma enorme ameaça capaz de causar grandes turbulências na família Velozes e Furiosos.
Crítica
Quando a pandemia da Covid-19 se abateu sobre o mundo, no início de 2020, uma das consequências imediatas foi o fechamento das salas de cinema. A reabertura das mesmas, portanto, passou a ser aguardado com ansiedade por muitos. E se Christopher Nolan ficou meio ano anunciando que Tenet (2020) seria o grande filme dessa retomada – o que não se justificou, devido à decepção crítica e a uma recepção fria do público – muito teria sido diferente caso Velozes e Furiosos 9 tivesse ocupado esse espaço. Afinal, o nono capítulo da saga apresenta absolutamente tudo o que se pode esperar não de um eficiente blockbuster, mas de um conjunto de lançamentos alardeados pelo verão norte-americano, reunidos em um só produto. A impressão é que os realizadores tinham como objetivo reunir o maior número de sequências impossíveis, uma mais improvável do que a outra, apenas com a intenção de atacar os diversos sentidos da audiência. Esse é um longa para ser visto na maior sala de exibição, com todos os efeitos de áudio e vídeo que estiverem ao alcance. Mais do que uma simples aventura, o que se tem aqui é uma experiência. Boa ou má, cabe ao espectador decidir.
Afinal, quem vai ao cinema assistir a algo como Velozes e Furiosos 9 sabe bem o que esperar – ou deveria saber, ao menos. O sucesso da empreitada se dá pelo fato de que essa expectativa é superada – e muito. Claro que há um preço, e esse é o conjunto de explosões, tiroteios, perseguições, reviravoltas e destruições, expostas em cena com a nítida intenção de uma ser mais atordoante e espetacular do que a anterior, sem muita atenção à lógica ou à construção de um desenvolvimento narrativo. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que aqueles que se pegarem pensando “mas o que está acontecendo, mesmo?”, dificilmente chegarão a uma resposta clara. Justamente o que as mentes por trás desse projeto pretendem. Que aquele na audiência se guie pela esperança de ser surpreendido mais uma vez, e de novo, e de novo. Ninguém está aqui em busca de boas atuações, um roteiro que faça sentido ou por grandes demonstrações dramáticas. Até porque, caso contrário, não as irão encontrar.
Velozes e Furiosos é uma saga quase alienígena dentro de Hollywood. Após o sucesso mediano do primeiro Velozes e Furiosos (2001) – há exatos vinte anos – ninguém menos do que um dos protagonistas se recusou a voltar para a sequência + Velozes + Furiosos (2003), e como essa também não fez o barulho esperado, o outro destaque da dupla original também abandonou o barco, abrindo espaço para um terceiro episódio genérico em Velozes & Furiosos: Desafio em Tóquio (2006). E mesmo tendo sido esse o com o pior desempenho financeiro da franquia, para Velozes & Furiosos 4 (2009) tanto Vin Diesel, quanto Paul Walker, estavam mais uma vez no comando. E se o sucesso só crescia, em 2013 esse último tragicamente faleceu em um acidente de trânsito, às vésperas da estreia de Velozes & Furiosos 7 (2015). Brian, seu personagem, no entanto, segue vivo, e está de volta. Mas se não passa de uma citação, outros que haviam partido – ao menos na ficção – também retornam, fazendo desse talvez o mais nostálgico de todos os segmentos.
Cerca de 20% da trama se passa em flashbacks, que mostram não apenas Dom Toretto (Diesel) na juventude, como o irmão que, ao menos até o momento, ninguém sabia que existia, Jakob (John Cena, outro brutamonte que entra na trama quase como uma substituição à Dwayne Johnson, que estava nesse universo desde Velozes e Furiosos 5: Operação Rio, 2011, inclusive tendo ganho um spin-off pra chamar de seu, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, 2019, mas optou por se afastar após desavenças com Vin Diesel nos bastidores). Isso abre chance para a sumida Jordana Brewster também voltar – afinal, Mia, sua personagem, é irmã de ambos. E se Tom e Jakob não se entendem, a jornada a ser empreendida pelas próximas duas horas deverá servir tanto para resolver pendências do passado, um desentendimento que começou com a morte do pai deles, como também para esclarecer os rumos que ambos tomaram desde então, até esse momento em que se encontram em lados opostos da moeda. Entre eles há um ex-colega desaparecido, o Sr. Ninguém (Kurt Russell) e um vilão mimado que, mais uma vez, quer dominar o mundo (Thue Ersted Rasmussen, de quem poucos deverão se lembrar na próxima estação).
Esse fiapo de história é suficiente para incluir duas vencedoras do Oscar em participações quase especiais – se Helen Mirren é um luxo pontual, Charlize Theron é a ameaça que segue prometendo dores de cabeça futuras – e outros ressurgimentos, como Sean (Lucas Black) e Han (Sung Kang), agrados aos fãs mais ardorosos. Enquanto isso, é Roman (Tyrese Gibson), quem dá a melhor chave de entendimento para o que se desenrola na tela. Apesar de ser usado como alívio cômico na maior parte do tempo, é quem primeiro se pergunta: “como, depois de todo esse tempo, e de todas as situações mais loucas nas quais já nos metemos, não tenho nem mesmo uma cicatriz, um arranhão sequer?”. Pois é nessa realidade – ou fantasia – em que Velozes e Furiosos 9 habita, onde as maiores improbabilidades acontecem, indo de voltas ao mundo a lá James Bond à perseguições por telhados dignas do Homem-Aranha, de carros que se dependuram em cordas como o Tarzan a uma viagem ao espaço a bordo de um Pontiac! E se alguns recursos cansam pela repetição – o imã gigante é bacana na primeira vez, e só – há tanto com o que se ocupar que não chegam a gerar um ruído maior. Melhor do que tentar entender – o que é literalmente impossível – o melhor é aproveitar, se divertir com inúmeros absurdos e se admirar de tamanha competência envolvida para que se vislumbre aquilo que parecia existir apenas nas imaginações mais insanas. E como a própria Mirren diz para Diesel, antes de arrancar pisando fundo: “melhor colocar o cinto!”.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Lucas Salgado | 6 |
Ticiano Osorio | 6 |
Francisco Carbone | 9 |
Ailton Monteiro | 4 |
Marcelo Müller | 6 |
MÉDIA | 6.3 |
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