Crítica


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Sinopse

A dupla Luke Hobbs e Deckard Shaw aparece, dessa vez, em uma parceria inesperada. Antes rivais, agora se aliam contra o vilão geneticamente alterado Brixton, que ameaça o futuro da humanidade.

Crítica

Embora os filmes da saga Velozes e Furiosos, em quantidades variáveis e pesos idem, tragam sempre piadinhas que funcionam como alívio pontual às tensões oriundas das missões praticamente impossíveis, nenhum outro exemplar da franquia é tão abertamente cômico quanto Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw. Um dos gatilhos para essa graça que atravessa integralmente o longa é a rivalidade entre Luke Hobbs (Dwayne Johnson) e Deckard Shaw (Jason Statham), cujas diferenças, bem delineadas pelo diretor David Leitch antes do encontro entre os protagonistas, são constantemente motivadoras de desagravos mútuos. Exatamente por meio dessa quase infantil disposição de ambos por implicar com o colega igualmente cheio de testosterona e habilidades para salvar o mundo é que se dá o alinhamento com o gênero antes presente apenas circunstancialmente. Eventualmente passando um pouco dos limites, gerando reiterações desnecessárias, essa briga interna rende momentos propícios ao riso, tal como as participações de Kevin HartRyan Reynolds.

Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw carrega outros sintomas claros da filiação à saga Velozes e Furiosos, da qual é derivado, embora intente construir uma identidade própria pela maneira como demonstra autoconsciência dos absurdos que gradativamente lhe caracterizam. Isso fica evidente em instantes como a apresentação de Brixton (Idris Elba), oponente beirando o indestrutível por conta das modificações físicas que lhe rendem aprimoramentos mecânicos. Ele mesmo diz “o vilão”, quando questionado acerca de sua identidade, e, adiante, dirige-se aos demais como um “Superman negro”. Aliás, o filme não perde oportunidades de demonstrar essa ciência de operar num registro reverente aos estrambólicos congêneres hollywoodianos nos quais as leis da física são completamente abolidas em função de espetáculos tão disparatados quanto pirotécnicos. O exagero é o signo prevalente nesse conjunto formatado sobre as bases de uma lógica interna que o permite e o incentiva como algo fundamental à noção de extraordinário.

Há uma penca de incongruências no decorrer de Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, vide a inexplicável descartabilidade do único cientista que pode extrair o vírus de Hattie (Vanessa Kirby), a agente do MI6 encarada como bandida pela opinião pública subterraneamente manuseada por um grupo secreto. David Leitch infelizmente subaproveita essa conjuntura bastante atual, principalmente no que tange à manipulação da mídia em função de interesses escusos. Ao cineasta o que mais importa é criar um show repleto de malabarismos (de preferência motorizados) e garantir que Dwayne Johnson e Jason Statham tenham espaço suficiente para mostrar a imatura disputa entre dois marmanjos que parecem digladiar como predadores pela liderança da matilha na selva – não à toa eles se designam, em dado momento, como potenciais “alfa”. As questões familiares, caras à cinessérie, estão presentes por aqui, conferindo certa substância dramática a esse filme orgulhosamente de ação que pode ser dar ao luxo, por exemplo, de ter Helen Mirren no seu elenco.

Fazendo vista grossa à chuva que cai torrencialmente do nada, às facilidades que tornam episódios acintosos demais, até dentro do nexo hiperbólico fomentado no início ao fim, bem como às demais anomalias decorrentes do roteiro preguiçoso, e Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw surge como um divertimento competente, saboroso especialmente pelo modo como abraça o impossível desbragadamente. Vanessa Kirby ensaia perturbar o protagonismo masculino, criando uma personagem forte que não se contenta em ser a mocinha em perigo. Todavia, no último terço do longa-metragem ela é restrita justamente a esse estereótipo que ameaçara confrontar, aproximando-se de um sujeito, com isso gerando mais tensão numa relação que obviamente guarda respeito e carinho sob a grossa casca das animosidades. A sequência em Samoa reafirma a esfera familiar, com o passado de Hobbs vindo à tona, carros tunados, incoerências comendo soltas e “leões” protegendo suas proles. Pena que nem sempre as boas ideias prevaleçam, mas o resultado é satisfatório.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
6
Daniel Oliveira
4
MÉDIA
5

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