Crítica


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Sinopse

Após a morte do pai, um adolescente e sua mãe se mudam temporariamente para uma casa à venda, buscando superar o trauma familiar. Eles precisam apenas organizar um dia de "portas abertas" para acolher potenciais compradores do imóvel. Depois deste evento, os dois começam a perceber presenças estranhas dentro da casa.

Crítica

O cenário aparentemente perfeito se desfaz em questão de minutos. As ideias ultrapassadas perseguidas por Vende-se Esta Casa não demoram a se manifestar. Pai e filho se divertem lá fora, enquanto a mãe fica dentro do lar, ocupada em preparar o jantar. Falta alguma coisa, ela se lembra, e de pronto os dois homens saem em busca do necessário no mercado mais próximo. Um acidente no caminho tira a vida do mais velho, do macho provedor – que nem era tão responsável assim, descobriremos a seguir – e mulher e garoto se veem, literalmente, na ‘rua da amargura’. Os tempos se tornam difíceis, e entre uma assistência de parentes e uma mudança radical, lhes resta ter que enfrentar o desconhecido, que mata e elimina, sem remorso nem piedade. Qual a lição a ser tirada de tudo isso? Que todos nós poderíamos ter aproveitado estes noventa minutos com algo mais proveitoso do que com um filme preguiçoso e desleixado, que parece feliz em fazer uso de conceitos vencidos a apresentá-los como algo novo, quando tudo que consegue, no máximo, são bocejos constrangidos.

Logan (Dylan Minnette) e Naomi (Piercey Dalton) precisam reconstruir suas vidas. Ao invés de partirem para a ação, no entanto, seguem sonhando com possibilidades distantes, como a carreira que ela há muito abandonou como fotógrafa, ou a vontade dele em se tornar um atleta de elite. Sem conseguirem se manter, acabam aceitando a oferta da irmã dela, que lhes empresta a casa que mantém nas montanhas. O único incômodo? O lugar está à venda, e aos domingos precisam liberar o imóvel para as visitas de interessados. Até que alguém decida comprar a propriedade, portanto, estarão com um teto assegurado, restando apenas essa obrigação de um dia por semana se entreterem com atividades externas. Um subterfúgio que nada mais é do que uma desculpa tanto para estranhos entrarem no lugar onde agora moram, como também, se estes assim desejarem, não mais saírem.

Pois é justamente o que acontece logo na primeira noite após a visitação aberta ao público. Portas se abrem inesperadamente, sombras se movem sob a luz do luar, torneiras começam a jorrar sem ninguém por perto e coisas são carregadas de um lugar a outro aparentemente sem explicações. Há aqui e ali tentativas reconhecíveis de propor um terror sobrenatural, mas estes esforços são tão fracos que pouca confiança inspiram. Resta, portanto, o homem como cão do próprio homem. Como diz a antiga cantiga, “a porteira está aberta, para quem quiser entrar, e passa um, passa dois...”. Não há controle de quem esteve na casa durante aquelas horas em que os atuais moradores se ausentam. E quem garante que todos que ali estiveram, de fato, acabaram se retirando?

O pior é que, na trama dos diretores e roteiristas Matt Angel (ator de filmes como Noite das Bruxas Macabra, 2014, e The Funhouse Massacre, 2015, aqui estreante nestas funções) e Suzanne Coote (outra novata, que antes havia sido produtora assistente na comédia policial As Bem-Armadas, 2013), é tão descarado que ambos desejam transformar qualquer outro personagem da história em um possível suspeito que tais movimentos neste sentido terminam por soar redundantes e até mesmo risíveis. Da vizinha ora amigável, ora esquisita, ao vendedor da loja que passa a persegui-los e até mesmo o corretor nervoso, não há ninguém em cena, além dos dois protagonistas, que possam transmitir uma mínima segurança ou sinceridade em seus atos. Há exageros por todos os lados. E como bem se sabe em casos assim, quando a oferta é demais, a desconfiança é natural – e, na maioria das vezes, mera distração que não se comprova válida.

Mais do que isso, há dificuldade também em aceitarmos os dilemas vividos por Logan e Naomi. Se ela apenas demonstra fragilidade – e vai, progressivamente, saindo de cena – com ele os problemas são ainda maiores. A inexpressividade de Minnette, que mais parece um boneco Playmobil do que alguém enfrentando uma real situação de perigo, termina por naufragar qualquer aspiração de elevar Vende-se Esta Casa a uma condição minimamente memorável. Sem causar sustos e resvalando em obviedades do início ao fim, ainda se contenta em reciclar os mais desgastados clichês do gênero, eximindo-se, inclusive, de apresentar uma justifica válida para o drama enfrentado pelos personagens. Finais em aberto são sempre um passo ousado e, quando bem utilizados, podem ressignificar o entendimento de uma obra. No entanto, se mal-empregados – como é o caso – servem somente para aumentar a frustração, intensificando o sentimento de tragédia anunciada.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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