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Sinopse

Quatro gerações de mulheres vivem endividadas até o pescoço numa casa de luxo do Rio de Janeiro. A proximidade do imóvel à venda com favelas inibe os potenciais compradores. Em meio a um tiroteio nas vizinhanças, elas começam a revelar seus segredos.

Crítica

São tantos os acertos de Vendo ou Alugo que chega a ser difícil saber por onde começar. Mas talvez a questão principal seja justamente essa: porque complicar algo que pode ser tão simples? O filme dirigido por Betse de Paula propõe um humor anárquico e altamente inteligente, muito bem construído e desenvolvido com rigor, para que o resultado seja o mais direto e objetivo possível. É uma tarefa árdua sair dessa sessão sem no mínimo um amplo sorriso no rosto. Afinal, trata-se de um filme extremamente feliz, independente de qual lado da tela você esteja.

Marieta Severo, numa interpretação luminosa, é a líder de uma família de quatro mulheres, todas avoadas e independentes, porém com um grande problema em comum: a falta de dinheiro. Endividadas até o pescoço, encontram como única solução vender – ou alugar – a casa onde moram, uma construção imponente que no início do século XX devia provocar inveja e admiração. Mas se naquela época o local era de frente para o mar e de costas para a mata atlântica, como é bem lembrado por uma personagem, hoje está escondido atrás dos edifícios e cada vez mais espremido pela favela que não tem mais para onde ir.

Os tipos são envolventes. Maria Lúcia (Severo) é aquela mulher que já caiu na real, não tem medo de ser feliz e encara o passar dos anos com uma jovialidade rara. Sua filha (Silvia Buarque, filha da atriz também na vida real) é uma hippie perdida no tempo, que vem e vai com a mudança do vento. A neta (Bia Morgana), ainda que adolescente, talvez seja a única pessoa lúcida e com o pé no chão de toda a família. E isso porque a mãe da protagonista, vivida por Nathalia Timberg, numa rara e bem-vinda participação cinematográfica, é a mais tresloucada, vivendo como se ainda estivesse no tempo do falecido marido embaixador, viciada em jogos de cartas e dona do hilário bordão “fala, fala mais alto para toda a vizinhança ouvir”!

E há ainda aqueles coadjuvantes donos de um charme próprio, como a empregada cheia de pose (Maria Assunção), o pastor evangélico planejando o próximo golpe (André Mattos), o motoboy malandro metido a galã (Marcos Palmeira), o playboy lesado que tenta entrar nos eixos como corretor de imóveis (Pedro Monteiro), o europeu estereotipado (Nicola Lama), o moleque do morro (Juan Paiva), e, brindando com chave de ouro, o trio de veteranas interpretadas por Ilka Soares, Carmen Verônica e Daisy Lúcidi. Se apenas por elas o filme já vale à pena, imagina como fica a situação quando toda essa turma se reúne sob o mesmo teto? Sim, pois cada um terá uma intenção diferente, alguns de olho na casa e outros mirando as donas do lugar! E o melhor: durante uma invasão da ação pacificadora no morro, com balas perdidas voando por todos os lados, um bolo feito de maconha e paixões sendo concretizadas dos oito aos oitenta anos.

Vendo ao Alugo se desenvolve quase que o tempo todo por um estreito limite que o separa do descontrole total. Felizmente, essa linha nunca é cruzada, e o equilíbrio é mantido do início ao fim, por mais absurdas que possam parecer as situações apresentadas. O texto é bastante preciso, os diálogos funcionam à perfeição e o controle de cena da diretora é exemplar, mostrando que para fazer rir basta, além do material certo, uma mão firme que saiba conduzir até o destino almejado. Discutindo temas relevantes com a profundidade necessária, porém sem nunca perder o bom humor, o filme da produtora Mariza Leão (a mesma responsável pelo sucesso De Pernas Pro Ar, 2010, e pela continuação de 2012) é um acerto e tanto, indicando, após o bem sucedido Vai Que Dá Certo (2013), que este talvez seja mesmo o ano da comédia nacional. E tudo isso com respeito ao espectador e com inteligência na forma e no conteúdo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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