Crítica
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Sinopse
Em Venom: Tempo de Carnificina, Eddie e Venom são obrigados a se relacionar. O humano e o simbionte precisam aprender como viver juntos. Aos poucos, percebem que evidentemente são melhores juntos do que separados. E essa sintonia será posta à prova com a chegada de uma ameaça enorme chamada Carnificina.
Crítica
A despeito do fato cada vez mais óbvio de que o futuro do cinema comercial norte-americano está nos filmes baseados em histórias em quadrinhos – e a consequente infantilização do público consumidor desse tipo de produto – um dos maiores mistérios recentes dentro desse subgênero foi o sucesso absurdo de Venom (2018), que apesar de ter sido massacrado pela crítica – e público em geral – conseguiu arrecadar mais de US$ 850 milhões nas bilheterias de todo o mundo (superando até o Esquadrão Suicida, 2016, de David Ayer, cuja ‘trajetória’ de desprezo pelos fãs e popularidade nas salas de cinema foi similar). Portanto, não chega a ser exatamente uma surpresa a existência desse Venom: Tempo de Carnificina, a sequência mais do que esperada. O que provoca espanto, no entanto, é o fato deste segundo capítulo conseguir piorar ainda mais a situação. A conta por essa bagunça, como se percebe de imediato, é crédito do recém chegado Andy Serkis, que desembarcou na franquia somente agora para assumir a direção, deixando claro não ter uma ideia clara do que pretendia ao ocupar tal posto.
Serkis se tornou conhecido ao se esconder por trás de performances digitais que fizeram história, como Gollum (trilogia O Senhor dos Anéis), Caesar (trilogia Planeta dos Macacos) e o protagonista de King Kong (2005). Não satisfeito, almejou reconhecimento mostrando o rosto em projetos do Universo Cinematográfico Marvel, como Vingadores: Era de Ultron (2015) e Pantera Negra (2018), mas sua natureza inquieta o levou também para trás das câmeras. Após o lacrimoso Uma Razão Para Viver (2017) e o equivocado Mogli: Entre Dois Mundos (2018), afunda na lama provocada pelos próprios erros em Venom: Tempo de Carnificina, filme que não consegue justificar a existência enquanto opção de entretenimento e muito menos como parte de um todo mais amplo – a nova aventura está diretamente conectada com o filme anterior e também com o Homem-Aranha vivido por Tom Holland. Como se percebe, é muita ambição para pouca competência.
Podendo ser descrito como uma versão d’Os Trapalhões do clássico Dr. Jekyll e Mr. Hyde, Venom é um simbionte alienígena que vive no corpo do jornalista Eddie Brock (Tom Hardy, também produtor e... autor do argumento!). Ou seja, são dois seres – Venom e Eddie – vivendo na mesma pessoa. Porém, as interações entre eles se dão por meio de diálogos dignos dos mais constrangedores momentos vividos por Didi Mocó – algo como “preciso virar um homem de verdade / - Sim, vamos nos tornar homens / - Não, apenas eu, pois você não passa de uma ameba” – deixando praticamente de lado a voracidade e selvageria características dos quadrinhos. É como se Serkis estivesse decidido a fazer uma comédia, mas sem coragem para tanto – pois se viu obrigado a contar histórias de (poucos) heróis e (muitos) vilões, ainda que a proporção entre esses seja desigual. Sim, já que Venom é o “menos pior dos males”, uma vez que acaba gerando – numa das hipóteses mais estapafúrdias para a origem de um ser extraordinário – um oponente ainda pior que ele: o tal Carnificina.
O espectador que se esforçar em encontrar alguma lógica nos acontecimentos presenciados em cena provavelmente terminará a sessão com uma forte dor de cabeça, uma vez que poucas coisas de fato se conectam por aqui. Há um serial killer – Woody Harrelson, em composição exagerada tentando defender uma figura de motivações banais – que acaba se vendo capaz de ações até então impensadas justamente pela associação com o mesmo organismo extraterrestre. Se o duelo entre eles é somente mais uma etapa a ser preenchida pela cartilha – com um desfecho igualmente previsível – há ainda as contrapartes femininas, defendidas por uma Michelle Williams que a cada aparição demonstra não saber o que fazer com o que lhe é oferecido e uma Naomie Harris desperdiçada como uma poderosa que incapaz de dizer a que veio – ambas são não mais do que apêndices dos protagonistas masculinos, servindo apenas para lhes oferecer razões, e nunca capazes de decisões próprias.
Entre os quatro atores principais desse projeto soma-se nada menos do que 9 indicações ao Oscar. Tal constatação serve para aumentar o constrangimento em relação ao que Venom: Tempo de Carnificina exibe na tela. Como tais talentos se uniram diante de algo tão embaraçoso e descartável? Somente o cenário atual, de banalização e irresponsabilidade, talvez possa explicar. Entre perucas mal colocadas (há quase uma competição entre Harrelson e Williams para ver qual dos dois está mais inverossímil com seus adendos capilares) e efeitos digitais que beiram o amadorismo – até quando o grande embate final se dará em sequências noturnas e por meio de edições tão picotadas que mal se consegue perceber o que de fato está ocorrendo? – o que sobra ao final é o retrato de uma oportunidade desperdiçada, capaz de redimir até mesmo a primeira aparição do personagem – no também problemático Homem-Aranha 3 (2007). E quando o que era ruim se torna melhor em termos de comparação com o que lhe procede, sinal de alerta mais do que evidente de que algo precisa ser revisto. Não tanto o ontem, mas o hoje. E o quanto antes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 1 |
Ailton Monteiro | 1 |
Victor Hugo Furtado | 3 |
MÉDIA | 1.3 |
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