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Sinopse

No verão de 1979, na Alemanha Oriental, uma família elabora um ousado plano para abandonar o local rumo ao Ocidente: montar um grande balão caseiro que irá sobrevoar o muro separando o país. Para isso, eles passam anos criando o dispositivo caseiro, escondido da vigilância policial, e correndo sério risco de morte durante a travessia da fronteira.

Crítica

Diante de um cenário de exílio ou fuga, quando se observa um grupo de pessoas arriscando a vida para abandonar um local ou um regime específico, a pergunta mais importante a fazer seria: por que estão fugindo? Que condições adversas justificaram a decisão de se arriscar num futuro incerto? O que levou sírios a chegarem ao Brasil recentemente; o que motiva tantos africanos a arriscarem uma travessia em alto mar rumo à Europa, e tantos cubanos a se lançarem no perigoso caminho rumo aos Estados Unidos? Durante a divisão da Alemanha, nos tempos da Guerra Fria, porque tantas pessoas da parte oriental se jogavam desesperadamente rumo à fronteira com Berlim ocidental, sob tiros e forte vigilância?

Ora, o alemão Ventos da Liberdade não está preocupado com o porquê, apenas o como. O diretor Michael Herbig descobriu a história excepcional de uma família que tentou atravessar a fronteira de balão, e decidiu que a curiosidade do fato mereceria uma representação no cinema. Por isso, explora a fundo todas as ferramentas do cinema espetáculo hollywoodiano, a exemplo da cena inicial em que crianças inocentes cantam num coral religioso, enquanto a música lacrimosa acompanha pessoas sendo alvejadas na fronteira em câmera lenta. O instante não é nada sutil, a exemplo do restante do filme, mas possui o mérito da clareza ao refletir o ponto de vista bastante simples da direção: homens malvados com armas atacam pobres vítimas que apenas desejam a liberdade. Rezai por elas, criancinhas.

Mas por que enfim a família Strelzyk arriscou os filhos pequenos num plano tão improvável? Eles sofriam uma forte repressão? Eram movidos por forte ideologia anticomunista, ou pró-capitalista? Não se sabe. O diretor apenas escolhe uma família patriarcal modelo – pai lindíssimo e provedor da casa, mãe lindíssima e dona de casa, filhos bonitos e educados, todos vestidos e asseados como num comercial de roupas – para representar um ideal de pureza e decência contra os horrores da guerra. Talvez as melhores perguntas venham do filho pequeno, de quem se esconde as circunstâncias do plano: “Mas quem garante que vamos gostar do outro lado?”, “Mas como ficam as outras pessoas que não podem atravessar?”. A família não responde, e o filme também não. A sabedoria, afinal, vem da boca do único personagem que dá um passo atrás e decide questionar as motivações.

Enquanto isso, Ventos da Liberdade está ocupado demais com o escopo de sua produção para se incomodar com questionamentos políticos ou históricos. Ele faz questão que a fuga em balão seja retratada como um momento de entrega quase suicida, enquanto a seriedade durante o preparo do veículo se assemelha à preparação de um ataque terrorista. As atuações são afetadas demais, e unidimensionais: os personagens basicamente olham uns para os outros com profunda inquietação a cada vez que escutam um mínimo barulho na rua – o que ocorre o tempo inteiro. Com o adicional da trilha sonora ininterrupta e a sucessão de empecilhos criados para tornar a empreitada ainda mais arriscada, o resultado beira a paródia do blockbuster, por intensificar as emoções a ponto de ultrapassar qualquer limite do realismo.

Em outras palavras, a tensão é elevada através de recursos tão artificiais que Herbig transforma uma história baseada em fatos numa fantasia pouco verossímil. Ao incluir a carta escrita pelo adolescente à namoradinha, servindo de prova do crime, além da presença de um chefe de polícia na casa à frente e a descoberta de que não há gás suficiente para o voo (é sério que a família passou dois anos planejando a fuga, mas não pensou nisso?), o diretor termina por não necessariamente aumentar os riscos do plano, mas se aproximar do absurdo. O drama é despido de seu humanismo: somos convidados a nos identificar com esta família por sua beleza, sua posição de vítima e, na falta de palavra melhor, sua superficialidade (eles são tão banais enquanto personagens que qualquer um pode projetar o valor que desejar neles). Por mais competente que seja a reconstituição de época, este episódio carregava muito mais do que uma curiosa travessia em balão: havia um percurso entre dois mundos, duas formas de sociedade, dois conceitos de liberdade, que o filme prefere soterrar com seus efeitos especiais e sua orquestra grandiloquente.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Bruno Carmelo
4
Alysson Oliveira
5
MÉDIA
4.5

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