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Sinopse

Um grupo de adolescentes desconfia que seu vizinho é um serial killer e decide passar o verão investigando e juntando provas, mas conforme se aproximam de descobrir a verdade, as coisas podem ficar extremamente perigosas.

Crítica

Pegando carona no sucesso de Stranger Things (2016-), na onda de nostalgia oitentista que se provou bastante atraente e, por conseguinte, lucrativa, Verão de 84 remonta à década dos sintetizadores, das crianças de bicicletas nas ruas e do culto ao então jovem Steven Spielberg. Aliás, o cineasta é citado como símbolo de sucesso numa cena. O protagonista, Davey (Graham Verchere), parece saído diretamente daquelas produções caras à época, marcadas por histórias de adolescentes diante de algum perigo insondável. Ele e seus quatro inseparáveis amigos – numa dinâmica que alude, além da citada série dos irmãos Duffer, a longas-metragens tais como Conta Comigo (1986) – moram no subúrbio de uma pequena cidade estadunidense. Pacato, o local é sacudido pela existência de um assassino serial que assume a morte de diversos desaparecidos. Embebido em coragem, o quarteto começa a investigar Mackey (Rich Sommer), vizinho e policial visto como suspeito.

Dirigido por François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, Verão de 84 se fundamenta num eficiente jogo de gato e rato no qual a verdade não se entrega facilmente. Os indícios da implicação de Mackey nos crimes são frágeis, duvidosos, mas suficientes para que Davey coloque em risco a calmaria das férias, a relação tranquila com os pais, a fim de pegar no flagrante esse alguém acima de qualquer dúvida. Os realizadores recorrem a uma trilha sonora sintomática dos anos em que a trama se passa para não perder de vista a genuinidade da ambiência. Os personagens principais se deslocam em duas rodas, comunicam-se por meio de rádios, num esforço para pavimentar a circunscrição do enredo nos anos 80. Em meio à averiguação, o protagonista escancara a sua paixonite pela vizinha, e ex-babá, Nikki (Tiera Skovbye), numa dinâmica que também serve para garantir a veracidade da reconstrução que ao conjunto é, sobremaneira, imprescindível.

Em Verão de 84 é oscilante o desenho da atmosfera de tensão e dúvida. Boa parte do filme transcorre durante as emboscadas do quarteto, as colheitas de provas da "culpa" do prócer membro da comunidade local. Todavia, falta a François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell um mergulho mais vertiginoso nas relações intestinas do subúrbio, não sendo suficientes para sublinhar a fragilidade de suas aparências as poucas perturbações cotidianas para além da existência do matador. Nikki, por exemplo, fala com pesar da separação dos pais, um menino sofre diante da tristeza materna, o outro pede guarita na casa do amigo com receio de testemunhar um crime passional, mas essas ocorrências não são devidamente cerzidas ao ponto de substanciar o que está abaixo da superfície. Exatamente por conta da falta de densidade dessa deflagração concomitante às apurações, o núcleo do todo perde força. As pessoas tampouco têm tempo para se revelar.

Mesmo com problemas estruturais, Verão de 84 demonstra personalidade ao acessar cânones facilmente reconhecíveis, especialmente os que tangem aos congêneres oitentistas em que gente, diante da necessidade de amadurecer para entrar na vida adulta, se depara com um lado menos idealizado do mundo. Deixar para trás a infância, avistar preocupações inerentes à emancipação, tende a ser um processo doloroso, aqui mediado pela ameaça que possivelmente vem do inesperado. Uma pena que François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell não invistam, por exemplo, no descobrimento do amor como uma das chaves à próxima fase, desperdiçando o potencial de Nikki em cena, fazendo dela um apêndice sem maiores consequências, senão as decorativas. O quarteto, por sua vez, não atesta a sua unidade, principalmente porque a boa parte dos integrantes não há espaço. Todavia, o suspense e a quebra das expectativas garantem um bom resultado.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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