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Sinopse

Um grupo de amigos passa a ser perseguido por uma entidade após jogar “Verdade ou Desafio” durante uma viagem de férias. Com o passar dos dias, o jogo se torna mortal e começa a punir os jogadores que se recusam a contar verdades e a participar das consequências.

Crítica

Jason Blum é o nome da vez em Hollywood – e, muito provavelmente, você nunca tenha ouvido falar dele. Isso porque ele é um produtor, e esse tipo de profissional dificilmente ganha destaque nos cartazes para atrair público – a não ser que estejamos falando de Steven Spielberg, é claro. Especializado em filmes independentes que custam muito pouco para serem feitos e arrecadam diversas vezes o valor investido, Blum tem revelado um verdadeiro toque de Midas. E como costuma se envolver com longas de temáticas similares, como terror e suspense, suas apostas tem sido quase todas certeiras – até quando é ruim, para ele, o saldo é positivo. Basta ver esse horroroso (no pior sentido do termo) Verdade ou Desafio, que mesmo tendo sido desprezado pela crítica e por boa parte do público, faturou apenas US$ 35,9 milhões nos EUA – valor relativamente baixo, mas que representa dez vezes o seu orçamento!

Com nenhum astro de peso no elenco – o mais conhecido Tyler Posey, da série Teen Wolf (2011-2017), que nem chega a ser o protagonista – Verdade ou Desafio aposta em clichês desgastados e estereótipos preconceituosos ao reciclar sem muita originalidade fórmulas já bem conhecidas dos fãs do gênero. Um grupo de amigos, todos adolescentes, no último fim de semana antes de encararem a vida adulta, decide passar um fim de semana prolongado no México. Lá, eles acabam envolvidos em uma maldição secular. O que precisam, agora, é mais descobrir como escapar vivo do mal que os persegue e menos tentar entender as motivações do espírito demoníaco que decidiu brincar com eles de... verdade ou desafio (ou consequência, como é mais comum no Brasil).

A ideia é simples: quando menos esperam, são confrontados com a questão: verdade ou desafio? Caso escolham a primeira opção – que parece ser o mais seguro – segredos íntimos e até mesmo vergonhosos deverão ser declarados em voz alta. E é aí que os problemas começam a ficar mais evidentes: que demônio é esse tão interessado em segredos de alcova, como “quem gosta de quem”, “com quem a fulana traiu fulano” ou “por que você não contou isso antes”? A futilidade destas ‘perturbadoras revelações’ encontra espelho no que se vê quando a escolha recai sobre a segunda possibilidade: são tarefas completamente absurdas, que invariavelmente, sejam respeitadas ou não, acabam em morte – do amaldiçoado ou de alguém próximo. Esta previsibilidade, que se espalha por toda a trama, é a marca maior do longa dirigido por Jeff Wadlow (Kick-Ass 2, 2013): não há tensão, mistério e nem mesmo envolvimento possível com personagens tão apáticos e desprovidos de química como os que aqui encontramos.

E se o esquema “jogo da morte” já soa batido o suficiente, tudo fica pior quando se decide envolver uma outra motivação, a que obriga um dos perseguidos a trazer mais gente para a brincadeira. A ideia, que foi muito melhor explorada no perturbador Corrente do Mal (2014), ressurge aqui quase como num pastiche, um arremedo que em nenhum momento consegue se posicionar à altura das expectativas que promete. Outra boa amostra da preguiça dos realizadores é sua conclusão, copiada literalmente da vida há pouco mais de um ano em O Chamado 3 (2017) – e se lá já não funcionou como o esperado, imagina agora. Verdade ou Desafio, em uma análise mais crua e objetiva, resulta em não mais do que uma série de esquetes – a menina que caminha pelo parapeito, a entrevista para o novo emprego – quase que aleatórias, falhas por si só, e que deixam ainda mais a desejar quando inseridas num mesmo contexto.

A experiência de se assistir a Verdade ou Desafio deveria ser como conferir um daqueles “terrir” dos anos 1980 e 1990, com jovens atrás de sexo e diversão que acabam sendo mortos por algum serial killer qualquer. No entanto, mesmo aquelas propostas eram inconsequentes somente até certo ponto, e sabiam como brincar com os arquétipos que tinham a seu dispor. Aqui, tudo termina por soar apenas como uma grande desculpa para que Jason Blum combine plateias sem muitos critérios com bilheterias que compensem qualquer um dos (poucos) esforços envolvidos. Bem longe dos seus melhores momentos – afinal, também investiu em títulos como Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014) e Corra (2017), que lhe valeram suas duas indicações ao Oscar – esse aqui se alinha melhor com produções descartáveis como Dominação (2016) e A Forca (2015), tão descartáveis quanto lucrativas (ao menos para quem as faz, que fique claro).

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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