Sinopse
Crítica
A dupla de cineastas Carlos Algara e Alejandro Martinez-Beltran, ambos estreantes em longa-metragem, assinam como The Visualistas a direção do suspense Veronica, exibido no Festival de Guadalajara e selecionado para o Fantaspoa, o Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre. A opção pelo pseudônimo, no entanto, é um bom indício sobre o que os dois realizadores privilegiam em sua narrativa: um visual rebuscado em detrimento de um enredo circular, óbvio e autoexplicativo. O excesso de clichês começa pelo uso de uma fotografia em preto-e-branco rebuscada (que, no entanto, não se justifica) assim como pela opção por uma história centrada basicamente nos ombros de duas atrizes infelizmente não à altura de uma responsabilidade como essa.
Uma psicóloga (Arcelia Ramírez, de Não Aceitamos Devoluções, 2013) recebe uma ligação em nome de um antigo colega que lhe recomenda uma nova paciente para tratamento. Ela recusa, pois afirma ter largado a prática. E apesar da insistência do interlocutor, declara que não se trata de uma questão de dinheiro, ainda que logo em seguida mude de ideia ao lhe oferecem um valor dez vezes maior do que estava habituada a cobrar. Morando em uma casa afastada em meio às montanhas e florestas, aceita receber em seu lar a jovem Veronica de la Serna (Olga Segura, de A Fronteira, 2012) para dar início imediato a uma terapia intensiva. A garota que chega não é do tipo mais amigável e nem é de falar muito. Debocha da doutora, é grosseira e não parece muito disposta a colaborar. Ao menos, não da forma que a anfitriã – e os espectadores – esperavam.
Isso porque fica claro, desde o primeiro instante das duas juntas, que um jogo de conquista e sedução está em curso. A profissional, que deveria ser firme em sua postura e no controle da situação, é apresentada de forma titubeante e insegura, como uma presa prestes a ser abatida. Já a recém-chegada mal consegue disfarçar uma expressão de contentamento com o que está acontecendo, como uma fera diante do momento do ataque. Nada é subliminar, seja em seus diálogos ou no modo como se tratam, ainda que assim pareça ser a intenção da narrativa. O uso recorrente de signos imagéticos pouco discretos, frases de suposto duplo sentido e sequências que deveriam soar como oníricas apenas coloca em maior evidência a relação que existe entre o passado daquela que precisa de ajuda e o presente desta que deveria servir de auxílio.
Como qualquer trama de fundo psicanalítico, a culpa é sempre dos pais. No caso, da mãe de Veronica, que surge após uma sessão de hipnose. Porém, há mais a ser revelado, como até que ponto o abuso materno teria influenciado no desenvolvimento da filha. Afinal, diante de um trauma, é recorrente a existência de bloqueios, como amnésias seletivas ou outras formas de esquecimento. Desvendar o ocorrido parece ser a missão da terapeuta, mas não muito longe ela conseguirá ir com perguntas como “qual seu passatempo favorito?” ou “com que frequência você se masturba?”. Não permanecerá secreto por muito tempo também o maior mistério do filme, que indica o quanto uma destes mulheres está ligada à outra. Porém, se os diretores imaginavam construir uma reviravolta de deixar M. Night Shyamalan cheio de orgulho, tudo o que conseguem é reafirmar aquilo que já estava na desconfiança de todos da plateia.
E se ainda assim restaram dúvidas, Algara e Martinez-Beltran se encarregam de eliminá-las da forma mais didática possível – para se ter noção, chegam até a colocar uma das personagens diante de um quadro-negro para explicar passo-a-passo o que está acontecendo, mais ou menos na linha “entendeu ou quer que desenhe?”. O problema maior, até este ponto da ação, é que a paciência do espectador minimamente curioso já deve ter se encerrado há tempos, restando pouco que possa ser surpreendido. Com duas intérpretes que parecem saber mais que suas personagens – não há maleabilidade em suas atuações e nem profundidade nos tipos que deveriam defender – e diretores que deixam claro a falta de experiências prévias ao optarem por recursos recorrentes e redundantes, este Veronica é não mais do que uma dor de cabeça, que incomoda do início ao fim e cujo único alívio que proporciona é quando termina.
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