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Crítica


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Sinopse

Apesar de ter uma vida aparentemente perfeita, Veronika sente um vazio que a leva à tentativa de suicídio. Ao despertar do coma, ela percebe que está internada numa clínica para doentes mentais.

Crítica

A tagline – ou seja, a frase usada para ‘vender’ – deste filme bem que poderia ser: “ela precisou morrer para descobrir a vida”. Soa clichê demais? Pois bem, é exatamente isso que encontramos em Veronika Decide Morrer, segundo longa baseado na obra homônima do escritor brasileiro Paulo Coelho. Sim, por mais estranho que possa parecer, há um outro projeto que teve a mesma inspiração, feito no Japão em 2005. Como não foi grande sucesso e nem tem nomes conhecidos envolvidos, até hoje não foi lançado no Brasil. Esse novo filme, pelo contrário, chegou por aqui antes mesmo de sua estreia nos Estados Unidos. Mas esse ‘privilégio’ não provoca muito entusiasmo. Afinal, o que vemos na tela é tão insípido quanto o que se lê no livro.

Os problemas são vários, e fáceis de ser apontados. A começar pela escolha da inexpressiva Sarah Michelle Gellar como protagonista. Afinal, uma garota cujos maiores créditos no currículo são uma série de televisão sobre vampiros (Buffy, a Caça Vampiros), uma franquia cinematográfica baseada num desenho animado (Scooby-Doo) e participações em produções de terror adolescente Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (1997) e Pânico 2 (1997) não é a escolha mais evidente para interpretar uma mulher independente e depressiva que decide acabar com a própria vida movida por uma total insatisfação com a sociedade em que vive! Gellar, por mais que se esforce, não consegue ir além do limite da menina loirinha riquinha e mimada, e a carga dramática que o personagem deveria carregar soa tão falsa a ponto de se tornar risível.

O argumento até tem uma jogada interessante – e isso se deve, claro, ao romance de origem. Decidida a cometer suicídio, Veronika se entope de comprimidos. Só que a garota fracassa em suas intenções, e após um período em coma acorda para descobrir que talvez o plano não tenha dado tão errado – ela não morreu, mas seu coração ficou tão mal após esta experiência que poderá parar a qualquer momento, e não há nada que a medicina possa fazer para evitar. Dessa forma, com os dias contados, ela passa por uma jornada de auto-descobrimento, o que obviamente a levará a se confrontar com o amor, externa e internamente. Parece uma boa ideia, mas não se concretiza tal qual esperado. Muito por parte da inexperiência da realizadora, a inglesa Emily Young (em seu segundo trabalho, após o ainda inédito Kiss of Life, de 2003), aparentemente insegura diante a responsabilidade de levar à tela grande o texto de um dos autores mais vendidos em todo o mundo. Mas muito está na fonte primária, que apesar de partir de um ponto curioso aposta muito mais na enrolação do que em algo consistente e crível.

Veronika Decide Morrer é um produto barato – custou menos de US$ 10 milhões, baixo até para os padrões locais – e disfarça bem suas carências. Quem o vê superficialmente não percebe, de imediato, quão ralo é. Tem bons coadjuvantes (David Thewlis, de O Menino do Pijama Listrado2008, Melissa Leo, indicada ao Oscar neste ano por Rio Congelado2008, Erika Christensen, de Traffic2000, e Jonathan Tucker, de No Vale das Sombras, 2007), uma fotografia limpa e iluminada e uma trilha sonora elegante e discreta. Mas o problema é que nada resiste a uma análise mais profunda. E, no final, o que se tem é exatamente aquilo que os fãs de Paulo Coelho estão habituados a encontrar: autoajuda. Agora, no entanto, em celuloide.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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