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Sinopse

Fernando rasga acidentalmente o vestido de uma noiva no dia do casamento dela. Imaginou o pandemônio?

Crítica

Há alguns anos, quando Katherine Heigl ainda insistia em se transformar em uma estrela de cinema, ela estreou uma comédia romântica batizada no Brasil como Vestida para Casar (2008). Quem simpatizou com essa produção, no entanto, não deve criar expectativas em relação ao nacional Vestido pra Casar, pois além da semelhança do título e do idêntico propósito – servir de veículo para o brilho de seu protagonista – pouco há em comum entre os dois filmes. Se no longa hollywoodiano acompanhávamos uma solteirona indecisa entre dois candidatos, dessa vez temos Leandro Hassum tentando explorar pela enésima vez o mesmo tipo que fez sua fama em uma trama de erros que se assume como tal principalmente no resultado: afinal, está tudo, literalmente, errado.

A partir de uma premissa tão absurda quanto ridícula, Vestido pra Casar nos coloca ao lado de Fernando (Hassum), o rapaz que, ao ir buscar a namorada (Fernanda Rodrigues) no aeroporto para o casamento dos dois, acaba dando um encontrão em uma desconhecida e gerando problemas para todos a partir de então. Acontece que ele, desajeitado, acaba rasgando o vestido da moça, que estava saindo escondida com o amante. Soma-se ao fato ela ser uma ex-Miss Mogi Mirim e ex-Big Brother – ou seja, uma pseudocelebridade – e sendo perseguida por um paparazzi. Se as fotos dela seminua vazarem na mídia, a situação ficará ainda mais grave, pois o marido traído é um senador da República. Acrescenta-se a essa confusão a família da noiva – o pai ranzinza, o tio bêbado e o primo aproveitador – e a ex-mulher do personagem principal, atendente do ateliê do estilista responsável pela roupa que foi destruída – e a única pessoa capaz de recriá-la. Há outros envolvidos – a dupla de policiais patetas, o contador surdo, a festeira ninfomaníaca – e todos sem muito o que fazer além de perseguir pelos 100 minutos de projeção uma graça mais difícil de ser encontrada do que o tal vestido do título.

Vestido pra Casar pode ser visto apenas como uma comédia inofensiva, um pouco esforçada, porém facilmente esquecível, que deve entreter razoavelmente os espectadores menos exigentes. Porém encarar esse filme sob esta ótica seria leviano e precipitado. Afinal, para se deter nessa suposta aparência, é preciso ignorar muitos preconceitos e estereótipos que são empregados sem o menor pudor, tudo em nome de um humor ofensivo e degradante. Se no começo o foco é a obesidade do protagonista, que é atacada sob os mais diversos aspectos, em seguida passa-se para piadas de conotação homossexual, outras de teor racial, e até mesmo sobre deficientes físicos. E nem mesmo o regionalismo brasileiro escapa, misturando gaúchos com caipiras e nordestinos, investido nos clichês óbvios para agradar sabe-se lá quem.

As complicações da produção, no entanto, não se restringem ao roteiro esquemático ou aos atores mal aproveitados. Há sinais de amadorismo por todos os lados, desde a fotografia canhestra até a trilha sonora insistente e repetitiva. Dirigido por Gerson Sanginitto, que antes havia feito o precário, porém bem intencionado, thriller alienígena Área Q (2011), Vestido pra Casar é nada mais do que uma aposta descartável de buscar um sucesso passageiro em cima do carisma de Leandro Hassum, que até consegue prender a atenção em um momento ou outro, mas tem pela frente um desafio que está além do seu potencial. Com um material pobre como esse em mãos, nem mesmo o mais genial dos comediantes poderia ter feito muito melhor. Por mais que se tente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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