Crítica
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Sinopse
Crítica
Filmes sobre a deterioração da mente humana tem pipocado cada vez mais nos últimos anos com o avanço sobre as informações de males como o Alzheimer, a senilidade e a demência. Pois é justamente este o foco de A Viagem do Meu Pai (ou Florida, como no original), produção de Phillipe Le Guay que subverte a ordem primária de pais cuidando dos filhos para trazer uma obra sensível que relata não apenas as dificuldades passadas por quem sofre da doença e seus familiares, como também entrega alguns choques de realidade, ainda que no maior bom humor possível dentro da perspectiva.
Assim acompanhamos a história de Claude (Jean Rochefort), um homem nos seus 80 e poucos anos que começa a perder a noção do que é realidade quando é diagnosticado com demência senil. A filha mais velha, Carole (Sandrine Kiberlain), é a responsável pelo pai e também o substitui na gestão da empresa da família. A relação começa a ficar mais complicada quando, após dez anos sem contato, ele decide rever a filha mais nova, Alice e viaja para a Flórida. O equilíbrio entre humor e drama traz um aspecto naturalista a esta história que, ao seu modo, fala do ciclo da vida e de como, depois de muitos anos, os pais começam a se tornar as crianças desobedientes dos próprios filhos. Le Guay toma todo o cuidado possível para tornar a história o mais verossímel possível e, assim, evita cair no humor clichê sobre velhice. Pelo contrário. O divertido, quando o é, vem das próprias situações da vida aqui fora que acabam tomando forma na tela. Ao mesmo tempo, há tanta sensibilidade nesse conto que a emoção surge naturalmente, sem apelar para trilhas chorosas ou diálogos edificantes.
Muito também se deve ao trabalho do elenco, muito acima da média. O Claude de Jean Rochefort pode até soar antipático muitas vezes por se tratar daquele personagem da vida real que muitos evitam: os idosos enfurecidos que não deixam ninguém chegar perto sem algum xingamento. Porém, o ator desnuda a psique de seu alterego com tamanha força que descobre-se logo o lado sentimental daquele homem apenas pelo semblante e um olhar doce, ainda que amargurado pelos anos. Já Sandrine Kiberlain também mostra todo o peso emocional de sua Carole, que vive no eterno conflito eterno de estar feliz pelo pai estar ao seu lado, mas ansiosa por ter abdicado de todos os setores de sua vida para cuidar dele.
Ainda que pareça convencional demais por muitas vezes, A Viagem de Meu Pai se torna um título mais do que interessante por tratar do sentimento entre pais e filhos de forma honesta e, especialmente, por mostrar que a possibilidade da perda de alguém que amamos não é um pensamento fácil, por mais que essa pessoa lhe irrite profundamente. Le Guay pode não responder diretamente sobre como devemos lidar com isso, mas nem por isso deixa o espectador na dúvida. Ele sabe que, assim como do lado de cá da tela, sentimentos não são fáceis de mensurar. E que o amor paternal pode parecer escondido, mas se revela na sutileza dos detalhes.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Matheus Bonez | 7 |
Ailton Monteiro | 5 |
MÉDIA | 6 |
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