Crítica
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Sinopse
Aos oito anos de idade, Victoria perde a mãe. Em meio ao processo de tentar superar essa tragédia, ela e o pai se mudam para uma vila montanhosa. Victoria sente um pouco de felicidade ao adotar um cãozinho abandonado.
Crítica
Quando a menina se aproxima de dois cavalos próximos ao estábulo, o pai pergunta ao proprietário da fazenda se não seria perigoso tal movimento. A resposta que lhe é dada determina o espírito de Victoria e Mistério: “aqui, o único perigo vem dos homens, e não dos animais”. Sim, pois a ação se passa na região das montanhas, não muito distante dos Alpes, no interior de Lyon, na França. E no centro dos acontecimentos está a amizade entre os dois personagens-título: Victoria, uma garota de apenas oito anos, e Mistério, um filhote de lobo. Essa aproximação se dá quase ao acaso, mas uma vez estabelecida, fornece laços quase indissolúveis. Ambos possuem seus próprios traumas, não muito estranhos um do outro. Mas apesar disso, da fragilidade dos pequenos e da suposta voracidade das espécies envolvidas, os eventos que discorrem a seguir são bastante lineares e previsíveis, além de um tanto infantilizados. Poderia ser bonito e enaltecedor, mas é apenas desprovido de maiores emoções e até mesmo ingênuo na maior parte do tempo.
O começo da trama remete diretamente ao clássico Bambi (1942), ainda hoje uma referência sobre o embate entre a vida silvestre e a civilização humana. Caçadores estão atrás de animais adultos, e logo a mãe de uma matilha é abatida. Os rebentos são deixados por conta própria, muito também por estarem escondidos e os homens não terem ciência sequer da existência deles. Da mesma forma, também querem se reencontrar Stéphane (Vincent Elbaz, de A 100 Passos de um Sonho, 2014) e Victoria (a novata Shanna Keil), pai e filha, os dois sofrendo a morte da esposa e mãe, que os deixou há pouco tempo. Desde a partida da mulher deles, cada um entrou em um processo diferente. Enquanto ele tentava entender como seguir em frente após perda tão grande, a menina voltou-se para si mesma, deixando de falar e refugiando-se de outras desilusões e tristezas olhando apenas para o seu íntimo. Uma mudança, portanto, se fez necessária. E essa veio da forma mais prática e literal: abandonando a vida na cidade grande e passando a ocupar uma casa no campo, onde terão que alterar hábitos e descobrir novas maneiras de prosseguir.
Quando Victoria encontra Mistério, decide levá-lo para casa mesmo sem avisar o pai. O segredo não irá permanecer por muito tempo, mas a revelação também não irá gerar atrito. Principalmente por ele perceber que, desde a chegada do animal, uma transformação começou a ocorrer com a garota: ela voltou a falar. Ou seja, quando apresentada, Victoria é praticamente muda. Isso é dito, e o silêncio dela existe apenas para corroborar a explicação dada pelo pai (ao espectador). A partir do momento em que adota o companheiro, não há esforço, angústia ou expectativa: simplesmente volta a se manifestar, como se nada tivesse ocorrido. Stéphane até se surpreende, mas sem maiores estudos ou preocupações: era apenas algo a comemorar, uma boa notícia a mais do dia, e vida que segue. Assim se dão todos os principais eventos de Victoria e Mistério: poderia render um maior aprofundamento, mas são tratados com tamanha leviandade que terminam por perder a relevância que poderia ser alcançada.
Dois fatores são importantes para uma melhor análise entre os protagonistas do longa escrito e dirigido por Denis Imbert (que foi assistente de direção de Loup: Uma Amizade para Sempre, 2009, que também falava da amizade entre um jovem e um lobo). Primeiro, os adultos não demonstram reconhecer em Mistério um animal potencialmente feroz: pensam se tratar de um cachorro comum, primeiro um pastor alemão, depois um husky. Essa verdade só vem à tona mais adiante na narrativa, antes indicada pelo comentário de uma mãe da mesma escola da filha, depois confirmada pelo fato dessa ser, convenientemente, uma veterinária. Mas tal necessidade de conhecimento só se mostra urgente devido a uma condição externa: os fazendeiros e criadores dos arredores estão determinados a eliminar todos os lobos dos arredores, que veem como ameaça, pois esses estão atacando os rebanhos de ovelhas, gerando grandes prejuízos. É exatamente a mesma situação do recente – e muito superior – Wolfwalkers (2020), animação indicada ao Oscar. Só que se nesse a ênfase estava no fato dos lobos serem os reais herdeiros daquela terra, e os humanos os invasores, aqui tal crítica passa pela margem, resignando-se a apenas um enlace afetivo entre animal e criança.
Imbert tem um material não inovador em mãos, mas recorrente, muito em parte pelo estudo cinematográfico que resguarda. Mas o que se observa do lado de cá da tela é uma sequência de decisões que esvaziam tanto a relação entre os protagonistas, como também o viés crítico das questões levantadas, como o avanço da economia pecuária sobre áreas de preservação da vida não-domesticada, a insensibilidade humana diante do desconhecido e o despreparo da sociedade dita avançada frente à natureza que anseia por amparo e dedicação. Victoria e Mistério é uma história dotada de todos os elementos corretos para uma mistura digna de atenção, mas consegue apenas demonstrar resignação e contentamento em trilhar por caminhos seguros e até bastante óbvios, deixando de lado qualquer possibilidade de ousadia ou criatividade ao abordar um argumento tão desgastado que necessitaria, até mesmo de maneira urgente, um sopro de originalidade para se mostrar minimamente interessante.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 3.5 |
Eu amei o filme, essas notas dos críticos só atrapalha quem ainda não assistiu. É certo que não é uma produção com grande orçamento mas é um filme bem família para assistir tudo junto e misturado. Super recomendo!