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Crítica


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Sinopse

Crítica

Joe (Ed Oxenbould) tem uma adolescência sem tantos sobressaltos nos anos 60. Marcado pela frequente menção a mudanças de endereço, seu lar é patriarcal, com a mãe, Jeanette (Carey Mulligan), desempenhando a função de dona de casa. Todavia, a normalidade começa a apresentar severas rachaduras quando o pai, Jerry (Jake Gyllenhaal), decide não aceitar de volta o bom emprego recém-perdido, alegando incompatibilidade de caráter com seus empregadores. A posição de provedor lhe imputa uma responsabilidade da qual não consegue mais dar conta, motivo suficiente para principiar uma crise que deflagra a verdadeira saúde do matrimônio. Vida Selvagem é o primeiro longa-metragem do ator Paul Dano como diretor. A bagagem do estreante realizador é percebida na maneira como as atuações são destacadas, em virtude da prevalência do desenho humano. O filtro principal do enredo é o olhar do jovem que, de uma hora para outra, vê a sua casa ruir.

Paul Dano não investe numa contextualização social considerável, vide a ausência de impacto dos elementos com potencial controverso na comunidade, especialmente se tratando da época em que o filme ocorre. Não são oferecidas as leituras do entorno para os comportamentos desnorteados tanto de Jerry quanto de Jeanette. Ele fica quase catatônico por conta da entressafra laboral, tornando-se intimamente instável, o que o leva a se arriscar apagando incêndios nas florestas vizinhas, deixando os seus para trás. Já ela, antes tão compreensiva e passiva, perde as estribeiras após perceber a inevitabilidade da falta de ânimo do marido. Vida Selvagem mostra, nuns momentos de forma direta, noutros nas entrelinhas, que essa mudança de rumo vai fazer com que o filho, permanentemente no meio do fogo cruzado, seja forçado a crescer, arrumando emprego e lidando com demandas adultas cotidianas. Em diversos instantes, Dano foca na observação dele dos acontecimentos capitais, como o envolvimento amoroso da mãe com o ricaço da região.

Vida Selvagem dá espaço suficiente para os indivíduos desenvolverem suas personalidades, mostrar aquilo que as aflige e repousa logo abaixo da fina camada de civilidade diária. Falta, contudo, uma articulação significativa com o conjunto de regras e ditames morais regentes dos anos 60, algo que torna um tanto banal a colocação do filme nesse tempo específico. A trama poderia, muito bem, transcorrer em qualquer ano, sem grandes prejuízos ao resultado. Determinadas realidades, como a expectativa que recaía sobre os homens e as mulheres de então, ficam em segundo plano, pois tudo passa pelo prisma confuso do rapaz acossado pela surpresa de ver seus pais em franca separação. O diretor toma o cuidado de não tipificar demasiadamente as engrenagens, o que acarreta empatia generalizada. Pessoas erram e acertam na mesma medida em cena, demonstrando fragilidades e predicados que as tornam absolutamente críveis. A fotografia a cargo de Diego Garcia ressalta a melancolia vigente.

Jake Gyllenhaal vive o sujeito retesado por um represamento afetivo. Já Carey Mulligan tem mais tempo de tela, sustentando uma personagem complexa, desorientada diante da deserção do marido, agarrando-se em soluções provavelmente efêmeras. Com poucos rompantes emocionais, Vida Selvagem percebe a gente com sensibilidade e ternura, investigando atitudes sem ímpeto moralista e/ou acusatório. Ed Oxenbould dá conta do recado, muito bem, enquanto protagonista, logrando êxito ao expressar o turbilhão de sentimentos que trespassam surpreendentemente o jovem assim que a família, na superfície um exemplar de comercial de margarina, se revela tão frágil como qualquer outra. Infelizmente, alguns componentes são pouco aproveitados, como a amizade da colega, acessada um par de vezes. Paul Dano não investiga causas, se pautando pela contemplação das vicissitudes do trio principal, refutando psicologismos ou algo que os valha, mas atingindo um resultado bonito e seguro.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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