Crítica
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Sinopse
O casal Tami e Richard decidem embarcar em uma aventura pelo oceano. Entretanto, logo se veem em meio a maior tempestade já registrada no Oceano Pacífico. Com o barco muito danificado, sem meios de se comunicar e com o parceiro ferido, Tami precisa achar uma solução para salvar a vida deles.
Crítica
Recriar no cinema, através de uma narrativa ficcional, histórias reais é sempre uma aposta arriscada. Isso porque, a não ser que seja em episódio célebre e que se valha mais pela jornada do que pela sua conclusão, o fato de sabermos de antemão qual será o desfecho dos elementos reunidos elimina muito do impacto que tal conjunto poderia oferecer. Felizmente, não é o que acontece em Vidas à Deriva, um projeto pessoal da atriz Shailene Woodley – que, além de estrelar, assina também como produtora. Além do fato escolhido não ser tão notório junto ao grande público (ainda que seja baseado em um livro), a narrativa se encarrega de preparar bem-vindas armadilhas que não apenas cumprem o serviço de driblar expectativas, como também oferece uma conclusão digna do envolvimento gerado até aquele momento. E, por isso, o filme termina por se revelar à altura dos esforços exigidos – em ambos os lados da tela, diga-se de passagem.
Muito desse mérito recai sobre os ombros do diretor Baltasar Kormákur. O cineasta islandês, conhecido em Hollywood por produções descartáveis como Dose Dupla (2013) e Evereste (2015), provavelmente foi convocado por esse nítido apreço pelo cinema de aventura – mas não apenas por isso. Afinal, quem o conhece um pouco melhor deve ter visto outro drama baseado em fatos que ele fez, desta vez em sua terra natal: Sobrevivente (2012). Este, que foi o grande vencedor do Prêmio Edda (o ‘Oscar’ da Islândia) e representante oficial do país no Oscar 2013, contava justamente a história de um homem que, após um naufrágio, conseguiu permanecer vivo por dias de forma quase inexplicável até ser resgatado em alto mar. Mais ou menos o que se vê em Vidas à Deriva, com uma importante variante neste caso mais recente: substitui-se o indivíduo por um casal, adicionando, à mistura, o elemento romântico que tanto agrada a uma plateia mais ampla – e popular.
Tami (Woodley) saiu de casa, em San Diego, Califórnia, assim que se formou. Sua intenção era passar seis meses em uma praia do México – isso há mais de cinco anos, sendo que agora se encontra em algum outro lugar paradisíaco, do outro lado do planeta. É onde, aliás, acaba conhecendo Richard (Sam Claflin), um navegador inglês com o mesmo espírito desbravador. A atração entre os dois é imediata. Mas rapidamente também se revela mais profunda do que um mero flerte passageiro. Promessas são feitas, planos chegam a ser sonhados. E quando se preparam para descobrirem juntos o mundo, uma proposta os coloca em cheque: levar um veleiro de um conhecido de volta aos Estados Unidos, recebendo por isso uma quantia que poderia garantir a independência dos dois por, no mínimo, mais um ano. Adiar por algumas semanas o que havia sido planejado não parece, portanto, uma ideia tão má. Mas havia uma tempestade no caminho deles, e uma vez que ela passa, nada mais será como antes.
Com mais de 90% da ação se passando em pleno oceano, Vidas à Deriva joga todas as suas fichas na expertise do realizador – que, como já foi visto, tem experiência no assunto – e no carisma dos protagonistas. Só o fato de termos estrelas das sagas adolescentes Divergente (Woodley) e Jogos Vorazes (Claflin) já coloca em evidência as intenções de entregar algo bem feito, porém sem dificultar esse processo. Quando o tempo se acalma, Tami está sozinha, e não sabe o que fazer. Após encontrar o namorado agarrado a um salva-vidas, com uma perna e costelas quebradas, faz da missão de garantir a sobrevivência dele o seu principal compromisso – e, com isso, encontra também a motivação necessária para seguir lutando pela própria vida. Ao todo serão 41 dias sem rumo, tendo que se virar com o pouco de comida e água potável que não foi perdido, rezando a todo instante para serem encontrados antes de que um destino pior lhes fosse destinado. Algo que, como já sabemos, não irá acontecer. Mas é possível ter, mesmo, tanta certeza?
Ao mesmo tempo em que o roteiro escrito por David Branson Smith (Ingrid Vai para o Oeste, 2017) e os irmãos gêmeos Aaron e Jordan Kandell (Moana: Um Mar de Aventuras, 2016) é hábil em resguardar sua reviravolta até o último minuto tolerável – e, quando essa acontece, é de um modo tão natural que o espectador irá se perguntar se de fato está entendendo o quadro apresentado – por outro propõe um suspense desnecessário em relação a um clímax que pouco sentido possui – a tal tormenta e suas consequências diretas no casal. A primeira cena da trama é logo após o acidente, mas esse só vai ser mostrado por inteiro já próximo ao final da trama. Não chega a ser uma novidade, portanto, ainda que ofereça como ganho o deslumbre da técnica empregada. Um feito que chama atenção, mas resulta tão maquinal que acaba tirando um pouco da emoção perseguida até aquele momento. Kormákur, Woodley e Claflin respondem com competência ao que lhes é exigido. Mas estão diante de um conjunto voltado ao excesso, que por acaso traz consigo um pequeno relato de sobrevivência. E este, no meio de tanto barulho, corre o riso de ver seus pequenos – e importantes – detalhes passarem percebidos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Thomas Boeira | 6 |
MÉDIA | 6 |
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