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Crítica


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Sinopse

Morador de uma cidade interiorana do Japão, Jiro Horikoshi  sonha em voar num avião em forma de pássaro. Para colocar isso em prática, ele está decidido a construir um protótipo e colocá-lo no ar.

Crítica

O pequeno Jiro alimenta desde cedo o sonho de trabalhar com aviação. Por ser míope, não pode pilotar, mas seu destino parece mesmo muito mais ligado à criação, ao ato de dar vida à imaginação. Seu ídolo é um designer italiano de aeronaves que surge como guia nos sonhos, inspiração na ordem do onírico para que ele realize na ordem do real esse desejo. O crescimento lhe fará dar de cara com um Japão fragilizado pela situação econômica complicada, assolado frequentemente por catástrofes naturais, como terremotos, por exemplo. A criação de aviões, seu querer infantil, se torna realidade, mas ao invés de planejar instrumentos de lazer, de alimentar esse fascínio humano pelo voo como instante de libertação e transcendência, ele desenhará instrumentos de guerra.

Vidas ao Vento é o mais recente filme do gênio Hayao Miyazaki, e, segundo o próprio, seu último. Num cenário em que impera certa tirania do CG, das construções visuais feitas a partir da frieza das máquinas, é bonito o trabalho do estúdio de Miyazaki, o famoso Ghibli, que se vale de determinados processos e instrumentos “antigos”, tais como o desenho à mão, para nos oferecer uma espécie de resistência estética e ideológica. Jiro, o protagonista dessa animação, vive o momento complicado anterior à Segunda Guerra Mundial, aliás, episódio este do qual a Terra do Sol Nascente sairia ainda mais devastada. As ambições criativas do garoto que sempre sonhou com um céu repleto de aviões esbarram nas dificuldades do país que tem pouco a oferecer aos seus em matéria de desenvolvimento, enquanto potências como a Alemanha deslancham do ponto de vista social e, infelizmente, bélico.

Eis que o garoto cheio de pretensões, um estudioso que cativa a todos no trabalho pela seriedade e paixão, reencontra uma mulher do passado e descobre o amor, incluindo ele entre suas prioridades. Miyazaki reafirma com Vidas ao Vento uma fé no humano, na capacidade que todos em tese teríamos de superar adversidades se voltados uns aos outros. O quesito técnico da animação é impressionante, aliás, como em todas as realizações desse artista comparado no oriente a Walt Disney. Tudo no quadro é orgânico, pois tem vida, se move. A trama envereda diversas vezes para um lado mais emocional, pois voltada aos projetos pessoais e dificuldades dos personagens, ainda que espelhe neles, vez ou outra, o próprio desenvolvimento da nação japonesa.

Embora seja muito bonito, Vidas ao Vento está aquém de algumas das obras mais celebradas de Miyazaki. Com a entrada definitiva de Naoko na vida de Jiro, o filme passa a flertar com um sentimentalismo que, ainda justificado, às vezes soa excessivo. A duração longa, 126 minutos, se deixa sentir, sobretudo a partir dessa guinada, quando o filme vacila entre a determinação profissional do jovem que, de alguma maneira, representa a tenacidade de um povo, e a nova disposição de abraçar plenamente o amor. Ainda assim, num cenário tomado por fórmulas e outros convencionalismos, é algo genuíno.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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