Crítica
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Sinopse
Graça e Raul têm duas lindas filhas, fruto de um harmonioso casamento, e uma relação ardente e simbiótica, provocada por alta passionalidade. Graça avança em sua carreira e Raul torna-se cada vez mais ciumento e possessivo, o que os leva a um trágico desfecho de violência doméstica.
Crítica
A violência doméstica no Brasil ainda é constante e assombra pelas estatísticas, que indicam mais de um milhão de mulheres como vítimas a cada ano no país. Em 2006, após a sanção da Lei Maria da Penha, que estabelece tal violência como crime, as denúncias desse tipo de abuso se tornaram cada vez mais recorrentes, mas os casos continuam diariamente. O longa-metragem nacional Vidas Partidas se vale de uma entre tantas dessas histórias como premissa, e, ainda que tenha extrema importância como denúncia e alerta, se perde entre o tom folhetinesco e o formato institucional.
A produção carioca acompanha a relação simbiótica de Graça e Raul, que ao longo dos anos se desenvolve entre adoração absoluta, ciúme e perseguição compulsivos, e, por fim, a violência como punição injustificada. Graça passa a se destacar profissionalmente e, a cada sucesso, amarga uma derrota em seu casamento. Raul, que se demonstrava imensamente passional, reflete suas frustrações pessoais na repressão com que trata sua esposa e filhas, e então passa a se valer cada vez mais de agressões psicológicas e físicas.
Dirigido por Marcos Schechtman, egresso da televisão e da direção de novelas globais, Vidas Partidas começa como um romance tórrido, se transforma em melodrama folhetinesco e termina como um drama de tribunal. O diretor tem talento para conduzir sequências a partir de ângulos incomuns, incluindo as de contexto erótico, que são bonitas e bem construídas – mérito que ele divide com os fotógrafos Elton Menezes e Rafael Rahal. Ainda assim, falta tato para a direção de atores, que se perdem vez ou outra em nuances muito distintas; num mesmo diálogo, por exemplo, temos a sutileza dramática de Domingos Montagner como Raul em contraponto aos excessos da composição de Naura Schneider para Graça.
No roteiro de José Carvalho, as elipses que denotam a passagem do tempo e a atmosfera de sua trama são bem amarradas, mas seus personagens maniqueístas e as situações enfrentadas pelos mesmos são pouco verossímeis. Raul carrega todos os estigmas do crápula novelístico: bonito e sedutor, ainda que frio e com um passado sombrio, ele agride a mulher repetidamente por ciúmes, mas a trai com uma de suas alunas. Alguma dualidade faria bem ao seu personagem, assim como para Graça, que ao longo da trama sofre todo o tipo de provação – até uma que a deixa paraplégica, imagine só – para se desvencilhar de um relacionamento abusivo. Os espanhóis já foram mais assertivos em variações sobre o mesmo tema, como Pedro Almodóvar em Que Fiz Eu Para Merecer Isto? (1984) e Volver (2006) e Icíar Bollaín em Pelos Meus Olhos (2003).
Na busca por um retrato fidedigno de uma realidade infelizmente tão comum em nossa sociedade, Vidas Partidas aos poucos se torna uma caricatura de si mesmo, próximo do que seria o comercial para uma campanha contra violência doméstica – aqui desenvolvida numa longa e exaustiva duração.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Conrado Heoli | 5 |
Robledo Milani | 3 |
MÉDIA | 4 |
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