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Sinopse

Enquanto está à procura de material novo para o canal de TV que gerencia, Max se depara com um programa que exibe imagens de pessoas torturadas e mortas. Logo ele descobre onde o show é gravado e que não é ficção.

Crítica

Impossível assistir a Videodrome: A Síndrome do Vídeo e não fazer um paralelo com nossa situação atual a respeito da qualidade e da apelação da programação da televisão. Em 1983, David Cronenberg já apontava que o caminho do futuro seria reality shows e que o público buscaria avidamente pela violência. Mais de 30 anos se passaram e temos canais de tevê por assinatura que passam quase que exclusivamente este tipo de programação sem necessidade de roteiros ou de atores. Na tevê aberta, apresentadores fazem fama ao mostrar a violência nua e crua das ruas, alimentando a audiência com sangue e mais sangue. E o público recebe e busca por este tipo de “entretenimento”. Cronenberg estava certo e mal sabia. Mas não é apenas esta qualidade premonitória que faz deste trabalho do cineasta canadense uma ficção científica de primeira. Existe muito mais por baixo daqueles efeitos especiais curiosos e daquela sexualidade e violência à flor da pele.

Na trama, Max Renn (James Woods) é o presidente da CIVIC-TV, canal a cabo com baixíssimo alcance, mas que tenta a todo custo cativar seus poucos espectadores com material apelativo. Sexo, nudez, violência – o que mais satisfazer o freguês. Ele não fica apenas atrás de sua mesa, esperando a nova onda aparecer. Seu trabalho é garimpar novos programas que chamem a atenção do público e, neste movimento, é apresentado a um produto pitoresco e bastante violento, capturado de forma pirata, chamado Videodrome. Um programa sem roteiro, sem atores famosos, apresentando cenas de sadomasoquismo e morte. Max fica intrigado e busca a origem daquelas imagens – provavelmente de um país asiático distante. Para sua surpresa, o feed vem dos Estados Unidos, segundo seu assistente Harlan (Peter Dvorsky). Ao apresentar o vídeo para sua sensual namorada Nicki Brand (Debby Harry), ela sente um enorme prazer e logo pensa em se candidatar a participar do programa. Ele reluta, mas não tem como detê-la. Não demora para que estranhas alucinações comecem a acontecer, transformando completamente a vida daquele apelativo executivo de tevê.

O primeiro ponto que logo salta aos olhos em Videodrome são os efeitos especiais. É verdade que eles envelheceram mal, mas parte do charme em assistir a estas produções oitentistas é curtir o látex em profusão, as escolhas criativas dos departamentos de efeitos para criar as maluquices que vinham da cabeça de Cronenberg. A icônica cena de Max entrando na boca de Nikki, em uma imagem maximizada pela televisão; a ruptura no estômago do protagonista, de onde ele retira uma arma estranha, que logo é mesclada à sua mão e braço; o vilão que tem sua cabeça e corpo explodidos, com direito a muito pus; são muitas as invenciones curiosas, todas fazendo parte das alucinações de Max Renn após ter contato com o Videodrome.

James Woods capricha na canastrice para encarnar o protagonista, um sujeito sem muitos escrúpulos, que acaba se vendo envolto em uma trama muito maior do que imaginava. Cronenberg e Woods constroem aquela figura como alguém cheio de si, metido a esperto, pensando sempre estar à frente de todos, muito safo. Mal ele sabe que é, na verdade, um peão, alguém colocado em contato com o Videodrome apenas para fins maléficos. Ele nunca esteve no controle da situação e suas alucinações cada vez mais o tiram da realidade. Esta palavra é chave para o filme, inclusive. Em dado momento, o professor e filósofo Brian O’blivion (Jack Creley) dispara: “O nosso senso de realidade é que determina o que real e o que não é”. Naquele momento, Max é uma casca de homem. Não sabe direito em quem acreditar ou no quê. Sua jornada é destrutiva e não poderia ser diferente, dado os caminhos que toma durante a trama. Woods pode não ser um talento nato, mas convence no papel. Os reais destaques no quesito interpretação ficam por conta de Leslie Carlson, como o maquiavélico Barry Convex, e Peter Dvorsky, como o amalucado Harlan. Debby Harry, conhecida vocalista do grupo Blondie, não fica muito atrás. Sensual na medida, dona de um olhar penetrante, Harry captura a atenção nos minutos iniciais do filme. Uma pena sua personagem sumir do meio para o fim.

David Cronenberg faz de Videodrome um pesadelo, com alucinações cada vez mais constantes, numa espiral de loucura que vê seu final em um devaneio do protagonista. O diretor é hábil em construir esta atmosfera, cheia de paranoia e desconfiança, concebendo um longa-metragem que tende a gerar discussões a respeito quando termina. Até por trazer de forma recorrente os conceitos de realidade, ficamos nos perguntando o que aconteceu realmente com aqueles personagens. Uma ficção científica interessante e premonitória, que não deve ser levada menos a sério por causa dos seus efeitos especiais datados.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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