Crítica
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Sinopse
Max Barber é o produtor fracassado de filmes que nunca conquistam o público. Repleto de dívidas, ele tem a ideia de contratar um ator esquecido para uma nova produção, assassiná-lo durante as filmagens e lucrar com o dinheiro do seguro. Para isso, convence Duke Montana, antigo astro dos faroestes, a retornar ao cinema, enquanto conta com o apoio financeiro de Reggie Fontaine, um empresário corrupto que pretende dividir os lucros da morte de Max.
Crítica
Existe uma diversão muito simples ao descobrir três grandes astros interpretando peixes pequenos da indústria. Na comédia Vigaristas em Hollywood, Robert De Niro vive o produtor fracassado de produções B como “Freiras Assassinas”; Tommy Lee Jones encarna um ator esquecido, com tendências suicidas, e Morgan Freeman representa o mecenas corrupto, disposto a qualquer tramoia para extorquir dinheiro em suas empreitadas. Eles investem em roteiros ruins, filmagens amadoras, e criam empresas com o slogan “Se for bom, é um milagre”. Munido de US$ 25 milhões (quantia considerável para um projeto deste porte), o diretor e roteirista George Gallo propõe um filme profissional brincando com os defeitos do cinema amador, espécie de faz de conta onde profissionais fingem desconhecer as técnicas que de fato possuem — ou, pelo menos, espera-se que possuam. Para obter sucesso nessa empreitada, eram necessários dois fatores importantes (dentre outros, claro): 1. Garantir que a ficção tivesse qualidade suficiente para se distanciar da fraca ficção-dentro-da-ficção, 2. Conhecer a fundo as regras deste cinema de exploração e remendos, permitindo a crítica na chave da crônica bem-humorada.
Nestes aspectos, o resultado começa a apresentar seus problemas. Paródias da produção norte-americana a exemplo de O Jogador (1992), Ed Wood (1994), Argo (2012) e Era uma Vez em Hollywood (2019) obtinham sucesso ao construírem imagens elegantes e polidas para retratar fracassos, evidenciando tanto suas qualidades próprias quanto as escolhas desengonçadas do cinema B. Trata-se de olhares afetuosos aos pequenos filmes, cientes de sua importância e sua capacidade de experimentação. Ora, a comédia de 2021, uma refilmagem de The Comeback Trail (1982), aposta numa linguagem limitada. Gallo restringe as cenas a personagens sentados conversando, os rostos extremamente próximos em close-up e os fundos sempre desfocados (talvez para ajudar a direção de arte, que não precisa se preocupar com os detalhes do cenário). A escolha de lentes e iluminação soa equivocada, despertando a impressão de que a câmera está sempre espremida nos cômodos, indecisa quanto à maneira enquadrar as ações. Os atores são dirigidos a esmo, em registros muito diferentes: Robert De Niro às vezes apela para a histeria, mas tem longos planos em seu rosto sem saber ao certo qual sentimento deveria expressar (vide a sequência da ponte). Já Tommy Lee Jones hesita entre a seriedade e o teor ridicularizado, e Morgan Freeman busca encarnar o gângster que jamais recebe qualquer oportunidade para provar sua periculosidade. Esta é uma demonstração de que entregar um Stradivarius nas mãos de um violista principiante ainda produzirá um som bastante desagradável.
A propósito de sons, a obra tem sua qualidade prejudicada por um tratamento invasivo de pós-produção, em especial na composição e mixagem sonoras. Os efeitos típicos dos títulos da Sessão da Tarde são empregados para sublinhar a comicidade evidente: tipos atrapalhados são acompanhados por ruídos de fanfarra bufona, e pessoas escorregando e caindo ganham efeitos sonoros agudos — algo como a trilha sonora das videocassetadas da televisão. As piadas físicas tomam conta do projeto, incluindo coices, personagens chamuscados no fogo que retornam intactos e touros ferozes correndo atrás da cor vermelha. Talvez estejamos mais próximos do universo cartunesco dos Looney Tunes do que da paródia de uma profissão. As cenas se repetem: o produtor desonesto tenta assassinar seu ator principal com um cavalo arredio, e depois, com um touro. A estratégia é literalmente a mesma, em sequências arrastadas para o ritmo esperado do humor. Em paralelo, a trilha sonora insistente impede que se percebam os absurdos por si próprios: ao nos indicar quando rir, e do que rir, subestima a inteligência do público. Teria sido simples adotar uma estética naturalista para situações absurdas, escancarando a diferença entre ambos os registros.
No que diz respeito ao retrato do mundo cinema, é difícil crer na estrutura destes sets de filmagem desprovida de figuras essenciais, a exemplo de seguranças, diretores de som, diretores de fotografia. “Mas é uma comédia, não dá para levar a sério”, pode-se argumentar. É verdade. Entretanto, uma paródia só pode ser eficaz a partir do momento em que se apropria dos códigos existentes para subvertê-los, ou seja, quando simula um set real para então deslocar seu comportamento interno. Aqui, os artistas fictícios nunca parecem estar filmando ou produzindo de fato. Haveria inúmeras maneiras de utilizar os quiproquós inerentes a uma produção verossímil para produzir graça: atores atrasados, amnésicos ou vaidosos; técnicos em conflito; diretores deslumbrados etc. Gallo prefere imaginar uma produção de porte considerável onde as cenas acontecem por milagre, sem esforço nem discussão entre os membros da equipe. Enquanto isso, introduz dilemas externos, desconectados do conflito central: um cavalo perdido que reaparece, sem que o produtor desesperado corra para buscá-lo; um treinador de animais que, após ter seu principal cavalo perdido, decide voltar com um bicho novo; um trailer explodindo magicamente. Esta é menos uma referência ao cinema enquanto profissão do que uma brincadeira descompromissada e infantil entre pessoas que desconhecem o funcionamento da sétima arte.
Além disso, uma questão de temporalidade pode afetar a percepção das piadas. Vigaristas em Hollywood se baseia na tentativa de um produtor dissimulado em provocar a morte do ator principal durante as gravações para faturar com o dinheiro do seguro. Por isso, os personagens correm risco real de morte devido às práticas irresponsáveis dos "profissionais". Ora, em outubro de 2021, Alec Baldwin assassinou por acidente a diretora de fotografia Halyna Hutchins nas filmagens de Rust, deixando o diretor Joel Souza ferido no ombro. A tragédia despertou uma discussão acalorada a respeito da segurança nas produções cinematográficas e as responsabilidades de cada membro envolvido no acidente. A opção pelo lançamento no Brasil menos de dois meses após o caso fatal pode ser considerada insensível, deixando um gosto amargo na farsa sobre atores mortos para a nossa diversão. De qualquer modo, a trinca principal se diverte como quem não tem nada a provar a ninguém. Robert De Niro, Morgan Freeman e Tommy Lee Jones investem no projeto pouco refinado, de risadas modestas, demonstrando um investimento mínimo, semelhante àquele dos roteiristas e produtores. Ninguém parecia acreditar que estivesse elaborando uma grande comédia, um sucesso de bilheteria. Trata-se de uma forma de cinema pouco exigente, referenciando outra forma de cinema pouco exigente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Bruno Carmelo | 3 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 3 |
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