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Crítica


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Sinopse

Cracóvia, começo do séc. XXI. Cuma, um experiente ladrão de obras de artes, inesperadamente sai da cadeia em liberdade condicional. Sua saída foi arranjada por Gordo, receptador que encomenda a Cuma o roubo da mais valiosa obra das coleções polonesas – “Dama com Arminho”, de Leonardo da Vinci. Uma proposta irrecusável.

Crítica

Filmes sobre roubos são comuns no cinema de ação, mas basta uma olhada nos jornais para saber que não existe crime perfeito e, logo, também é possível ladrões derraparem na ficção. Transformar uma empreitada fora da lei em boas risadas já foi o desafio de diretores dedicados aos mais diversos gêneros. Talvez um dos mais elegantes resultados tenha sido obtido por William Wyler com Como Roubar um Milhão de Dólares (1966), estrelado por Audrey Hepburn e Peter O’Toole. Bem longe de Hollywood, no entanto, um realizador conhecido por retratar com ironia o seu país, a Polônia, concebeu um bom exemplar ao se dedicar à dobradinha obras de arte e ladrões habilidosos. Juliusz Machulski, pouco conhecido no Brasil, mas filmando desde os anos 70, garante diversão com um toque de fábula em Vinci.

Lançado em 2004, o título já deixa claro quem será a “vítima” dos ladrões Cuma (Robert Wieckiewicz) e seu parceiro Julian (Borys Szyc), que ele insiste em chamar pelo apelido “Vesgo”. Durante um forjado período de liberdade condicional, Cuma tem a oportunidade de começar uma nova história ao receber um milhão de euros por certo trabalho. Ou o que para ele significa trabalho, já que a tarefa consiste em roubar o famoso quadro Dama com Arminho, de Leonardo Da Vinci, obra mais importante dos museus da Polônia. Tudo parece perfeito. Após uma temporada no Japão, o quadro volta ao lar e é no trajeto até o museu que o roubo se dará. Aí é que o perfeito se mostra, como todos nós, imperfeito. A segurança em torno da chegada do quadro é robusta e Julian, depois de anos dedicados ao xadrez e ao roubo de peças de arte ao lado de Cuma, sentiu peso na consciência e foi estudar direito. Mais: entrou para a polícia. Um infiltrado, pode-se dizer. Mas Julian quer abandonar o crime. Ou, pelo menos, tentar.

Vinci parte da atmosfera de filme de roubo com pitadas leves de ação. A assinatura de Machulski, adepto da crítica social leve, só se deixa notar quando o ponto alto da trama, o roubo de Dama com Arminho, acontece. Antes disso, vários personagens são apresentados de forma simpática, mas sem profundidade, como o velho falsificador de quadros Hagen, interpretado por Jan Machulski, pai do diretor, e uma novata na arte da cópia. Essa presença feminina, apesar dos bons diálogos, funciona mais como interesse amoroso de Julian que enquanto elemento que faz o filme fluir. Várias piadas, inclusive, parecem perdidas dentro do roteiro, como se Machulski quisesse fazer gracinhas entre uma cena e outra. O detalhe não chega a ser o maior incômodo, pois temos a questão da trilha sonora. Insistente, a música é genérica, chegando a lembrar alguns temas de desenhos animados. Se o objetivo era deixar claro que Vinci é uma comédia, bastava fazer o público rir, e isso acontece poucas vezes. No máximo, se esboça um sorriso, que pode ser interrompido pelas canções que surgem onde menos se espera, como no meio de um diálogo que sem fundo musical seria bem mais interessante.

Vinci se perde por ter referências demais. Deixa no ar a sensação de que não houve equilíbrio ou mesmo uma decisão unânime sobre qual seria o seu clima. É preciso convencer o espectador, convidá-lo a comprar uma ideia. E o filme de Machulski possui várias. No fim das contas, ficamos sem nos aproximar de alguma em especial. Para quem busca uma comédia baseada no erro, há até certa sedução, com a sacada final do falsificador experiente e as confusões de Julian, que segue o estereótipo do jovem atrapalhado, mas sagaz. Vale para conhecer um pouco do humor dos poloneses e perceber uma Cracóvia jovem, porém ainda com um pé no tradicional quando o assunto é arte. Cinema, inclusive.

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é jornalista e especialista em cinema formada pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Com diversas publicações, participou da obra Uma história a cada filme (UFSM, vol. 4). Na academia, seu foco é o cinema oriental, com ênfase na obra do cineasta Akira Kurosawa, e o cinema independente americano, analisando as questões fílmicas e antropológicas que envolveram a parceria entre o diretor John Cassavetes e sua esposa, a atriz Gena Rowlands.
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