Crítica
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Sinopse
Após Thanos eliminar metade das criaturas vivas de todo o universo, os heróis sobreviventes precisam lidar com a dor da perda de amigos e seus entes queridos. Com Tony Stark vagando perdido no espaço sem água nem comida, Steve Rogers e Natasha Romanov precisam liderar a resistência contra o titã.
Crítica
Em Vingadores: Guerra Infinita (2018), após o Doutor Estranho entregar para Thanos, aparentemente sem ressalvas, a joia do Tempo, ele vira para o Homem de Ferro e diz: “agora, é hora do fim do jogo”. Naquele momento, parecia apenas que o herói estava desistindo. Na verdade, se referia ao ‘endgame’ (o termo original usado no diálogo) de Vingadores: Ultimato, o vigésimo segundo filme do Universo Cinematográfico Marvel – e o quarto que se propõe a reunir numa mesma trama ‘os mais poderosos seres de todos os mundos’. Afinal, este é mesmo um ponto final, tanto para a batalha dos Vingadores contra o maior vilão que já enfrentaram, como a conclusão para a saga das Joias do Infinito e um desfecho para toda uma geração de super-heróis na tela grande. A Marvel irá encerrar suas atividades nos cinemas após esse lançamento? Obviamente que não (ainda mais após estes títulos terem arrecadado, em conjunto, mais de US$ 18,6 bilhões). Mas o que será visto a partir de agora, ao menos imagina-se, deverá ser bem diferente de tudo que foi exibido até então.
Deixando os spoilers de lado, é sabido que Guerra Infinita terminou deixando um gosto amargo junto aos fãs, com a vitória declarada de Thanos e a execução do plano deste que, num estalar de dedos, acabou com a vida de 50% de toda a população do universo – e entre estes, muitos conhecidos foram igualmente eliminados, como Homem-Aranha, Pantera Negra e quase todos os Guardiões da Galáxia, apenas para citarmos alguns dos mais populares. Filmado simultaneamente com o episódio anterior, era de se esperar que Ultimato fosse uma sequência direta desses acontecimentos. Pois bem, o filme dirigido por Anthony e Joe Russo é exatamente isso – e também muito mais. Para se ter uma ideia, a trama de mais de 3 horas de duração meio que resolve os eventos ocorridos um ano antes em uma vingança que leva menos de meia hora para ser executada. Os sobreviventes – não por acaso, todos os Vingadores originais (Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro, além da Capitã Marvel, que vem de uma outra galáxia para contribuir de forma decisiva) – estão com a alma limpa, ainda que muitos sigam sem saber como lidar com tudo que perderam (ou foram obrigados a abrir mão). De um jeito ou de outro, precisam seguir com suas vidas.
E cinco anos se passam. Um planeta inteiro está aos pedaços, ainda tentando aprender como ir adiante, mesmo tendo perdido tanto. Isso, é claro, até um rato invadir um depósito abandonado e, sem se dar conta, pisar num botão da velha van de Scott Lang. Era o que precisava para que ele fosse resgatado da realidade quântica onde se manteve preso durante todo o esse tempo. O Homem-Formiga está vivo, ao contrário do que se imaginava – afinal, podia ter sido apagado como tantos outros. E será ele, ao se reunir com os demais Vingadores, que terá a ideia que voltará a colocá-los em movimento: se lamentar não tem feito muita diferença, que tal passarem para a ação? Ainda dentro dessa lógica, se não conseguiram vencer Thanos com esse de posse das seis joias, que tal voltarem no tempo e se anteciparem aos passos dele – ou seja, resgatarem cada uma das gemas antes do inimigo, impedindo, assim, que ele possa ter acesso a elas no futuro? A proposta pode parecer absurda num primeiro momento, mas serão justamente os conceitos da física quântica – aplicados aos conhecimentos de Tony Stark (Homem de Ferro) e Bruce Banner (Hulk) – que poderão fazer que, ainda que aos trancos e barrancos, se chegue minimamente próximo de um resultado positivo.
“Quer dizer que tudo o que De Volta para o Futuro (1985) nos ensinou estava errado?”, pergunta Lang ao ser questionado sobre os desdobramentos de sua proposta no que se refere às viagens no tempo. Pois é exatamente isso que o roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely (vencedores do Emmy por A Vida e Morte de Peter Sellers, 2004) defende: se quase todos os filmes sobre andanças temporais parte da ideia de que, ao interferir no passado, se alteraria também o presente conhecido e até mesmo o futuro, em Vingadores: Ultimato a ideia é que realizar inserções cirúrgicas, todas cercadas pelas devidas precauções, acabariam por não mudar a realidade da qual se partiu. Assim, abre-se uma curiosa porta que permite revisitar alguns dos momentos mais icônicos da Marvel nestes últimos dez anos. Revemos o instante em que os heróis se reúnem em círculo em Os Vingadores (2012), a luta no elevador de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), a convalescência de Jane Foster em Thor: O Mundo Sombrio (2013), o primeiro roubo de Quill em Guardiões da Galáxia (2014) ou as lições da Anciã em Doutor Estranho (2016). Um presente para fãs e admiradores. Mas um novelo que se desenrola além da conta para todos os demais, resultando na parte mais confusa – e cansativa – de todo o longa.
E como é longo. Como já dito, são mais de 180 minutos para chegar-se até o aguardado ‘the end’. Se grande parte da trama é vital para uma melhor compreensão dos acontecimentos e entendimento do que move grande parte dos personagens, cerca de um terço poderia ter sido eliminado na sala de edição sem que se sentisse falta no corte final. Porém, estão em cena, e se não para a melhor fruição da narrativa, ao menos atendem a um propósito bem definido: agradar aos fiéis seguidores que na última década fizeram da saga Marvel a mais lucrativa de todos os tempos. Há muitas – muitas mesmo – sequências e passagens que pouco (ou quase nada) contribuem para a história, mas que mesmo assim se fazem presente para atender às mais diversas demandas, seja de quem torce pelos heróis, pelos intérpretes ou mesmo preocupados com um discurso contemporâneo mais igualitário. De uma frente formada apenas por mulheres superpoderosas ao abraço afetuoso entre Homem de Ferro e Homem-Aranha, passando pelos desdobramentos familiares de Scott Lang, Tony Stark, Thor ou Clint Barton, são momentos que oscilam entre o terno, o exageradamente melodramático ou o cômico. Uns funcionam melhores do que os outros. Como não se pode acertar sempre, ao menos descobrimos que o grande Lebowski, quando provocado, é capaz de atos surpreendentes.
Assim como foi em Soldado Invernal e em Capitão América: Guerra Civil (2016), Anthony e Joe Russo deixam claro em Vingadores: Ultimato que a figura com o qual mais se preocupam – e, portanto, que mais recebe atenção por parte dos realizadores – é o Capitão América. E Chris Evans responde bem a esse destaque na maior parte do tempo. Porém, seria demais lhe exigir o mesmo carisma percebido em Robert Downey Jr., que literalmente rouba a cena a capa aparição de Tony Stark/Homem de Ferro. Até aí, nenhuma novidade. O que surpreende é ver como Mark Ruffalo, finalmente, se revela confortável sob o manto do Hulk, ao passo que Chris Hemsworth confirma ter mais prazer em fazer do Thor um fanfarrão, assim como foi em Thor: Ragnarok (2017). Entre os outros, praticamente TODOS os atores e atrizes que já desfilaram pelo UCM dão novamente às caras, desde participações pontuais – e relevantes – como as de Robert Redford e Rene Russo, até outras que apenas surgem para compor o cenário, sem sequer abrir a boca (entre essas, Michelle Pfeiffer a Samuel L. Jackson, passando por Marisa Tomei e William Hurt, entre tantos outros). E, claro, temos Josh Brolin, mais uma vez fazendo de Thanos o cara que todos amam odiar – e do qual mais se sentirá falta. É uma montanha-russa? Com certeza. E essa é justamente a proposta. Alguns irão amar do início ao fim, outros passarão mal e ficarão enjoados. A maioria, no entanto, ficará entre um extremo e outro. E no final, ao menos tem-se o saldo de que, enfim, é chegada a hora de um ‘avante Vingadores!’. Independente da amplitude de significados que tal expressão.
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