Crítica


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Sinopse

Camila mora numa pequena cidade interiorana do Rio Grande do Sul. Filha de um rico fazendeiro, ela é violentada e abandonada à beira de um rio. Adiante, no Rio de Janeiro, ela tem um encontro que anuncia algo inesperado.

Crítica

Vingança faz parte de uma idéia ousada no cinema brasileiro: a realização de projetos de baixíssimo orçamento, dentro do Programa Pax/Riofilme. E a iniciativa deu resultado, ao menos por enquanto – se a trama tem seus altos e baixos, ao menos em nenhum momento denuncia a escassez de recursos. Com um custo total de R$ 80 mil, extremamente reduzido inclusive para os padrões brasileiros – há curtas que custam mais do que isso – a produção conseguiu se organizar para quase dois meses de filmagens em dois estados, no Rio Grande do Sul (onde se passa o início da história) e no Rio de Janeiro (lugar onde os personagens voltam a se encontrar, quando o enredo propriamente dito acontece). Um saudável exemplo de força de vontade, determinação e coragem.

Erom Cordeiro (Sexo com Amor?) é um jovem misterioso que chega à capital carioca com um objetivo em mente. Este, entretando, só é revelado ao espectador com o desenrolar da história: ele está atrás do rapaz que teria violentado a noiva dele durante um passeio pelo Sul do Brasil. Enquanto o persegue, acaba se envolvendo com a irmã do suspeito, criando uma situação bastante incômoda para si: ter que decidir entre a antiga namorada e a nova paixão, ao mesmo tempo em que prometeu ao pai da menina se vingar do mal a que ela foi submetida.

Com direção e roteiro do gaúcho Paulo Pons, em seu segundo trabalho em longa-metragem, Vingança foi selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cinema de Gramado de 2008, de onde saiu de mãos abanando. O que não aponta necessariamente para a falta de qualidades da obra, mas principalmente para a superioridade dos concorrentes. O elenco principal, que inclui ainda Branca Messina, Márcio Kieling, Guta Stresser e até a estreante no cinema Bárbara Borges. Se há algum deslize neste sentido é a – felizmente – pequena participação de José de Abreu, que exagera e erra feio no registro de um fazendeiro do interior do Rio Grande do Sul. Ele escorrega em todos os clichês imagináveis do gênero, numa composição oposta àquela mais subliminar e convincente vista no recente Dias e Noites.

Outro destaque do filme é a muito bem trabalhada trilha sonora, composta pelo ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos, que está construindo uma estruturada carreira também no cinema, em filmes como O Homem do Ano (2003) ou o documentário Pro Dia Nascer Feliz (2006), pelo qual foi inclusive premiado em Gramado. Vingança é uma história contada direitinha, sem grandes arroubos de criatividade, mas que envolve o espectador com competência e segurança. Não é um telefilme, uma produção amadora ou desleixada. E disfarçando bem suas carências, consegue ultrapassar os limites financeiros e entregar ao público um produto redondo, que cumpre à contento o que promete. Um início promissor, afinal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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