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Sinopse

Nels, um tranquilo homem de família, trabalha como motorista de um removedor de neve e vê seu mundo virado de cabeça para baixo quando o filho é morto por um poderoso traficante de drogas. Impulsionado pelo desejo de vingança e sem nada a perder, ele fará tudo o que for preciso para destruir o cartel.

Crítica

Vingança a Sangue-Frio é o remake de O Cidadão do Ano (2016), curiosamente dirigido pelo mesmo Hans Petter Moland do longa-metragem original que se passa na Noruega. Sai uma disputa violenta entre as máfias sérvia e norueguesa, entra uma rixa por território entre norte-americanos brancos e estadunidenses descendentes de indígenas igualmente narcotraficantes. Na versão europeia, o protagonista, cidadão reconhecido em sua comunidade, é vivido por Stellan Skarsgård. Na refilmagem hollywoodiana, Nels é encarnado pelo astro Liam Neeson, bastante associado ultimamente a papeis de pais enfurecidos por conta de brutalidades cometidas contra seus filhos. As mudanças parecem simples ajustes motivadas por realidades bem distintas, mas acabam apontando a direções particulares, nem sempre exploradas a contento. Se no primeiro filme o inesperado humor já diluía o impacto da narrativa visualmente selvagem, aqui as diversas gracinhas ocupam mais espaço, deflagrando as fragilidades do roteiro conduzido tropegamente na telona.

A falta de firmeza diretiva é gritante no instante em que Nels e a esposa, Grace (Laura Dern), recebem a notícia da morte do filho em virtude de uma overdose de heroína. Confunde-se o atordoamento com ausência de reação. Falta emoção e densidade dramática nesse episódio de confronto dos pais baratinados com o cadáver do filho engavetado no instituto médico legal da localidade. Disso decorre, igualmente, o despropósito da resposta paterna, adiante desistente do suicídio ao saber que há responsáveis pela tragédia, ou seja, o famigerado “olho por olho, dente por dente” pode lhe trazer alguma paz de espírito. Diferentemente de O Cidadão do Ano, em que o esquadrinhamento da cidadezinha, bem como das singularidades de seu funcionamento condicionado pelas engrenagens da marginalidade, era um elemento capital, em Vingança a Sangue-Frio essa particularidade acaba se perdendo quase completamente. O foco é a pura e simples vendeta, com sequências marcadas pela agressividade logo preterida em função dos vários sarcasmos mal enjambrados.

Viking (Tom Bateman) é um vilão propositalmente caricatural, excêntrico e histriônico, dado a suprimir guloseimas de seu filho e entrar em conflitos tolos com a ex-esposa. Seu maior oponente nos negócios escusos é White Bull (Tom Jackson), líder do grupo rival, indígena assim como a maioria de seus asseclas tipificados. A origem das gangues poderia, por exemplo, servir de base a comentários alusivos acerca do genocídio dos povos nativos norte-americanos, mas o realizador prefere utilizar tal peculiaridade levianamente, no máximo fazendo uma piada conveniente no lobby do hotel com a confusão dos possíveis conceitos de “reserva”. Durante boa parte do filme, especialmente no seu segundo terço, Liam Neeson por pouco não some da trama, dando espaço para a construção de uma contenda comezinha e repleta de momentos desinteressantes de desentendimento. O cenário nevado é subaproveitado, assim como a presença ostensiva do veículo que se encarrega de desobstruir as estradas parcialmente interditadas pelo fenômeno natural. A ironia é articulada a fórceps.

Destituído dos elementos que fizeram O Cidadão do Ano, ao menos, ímpar, Vingança a Sangue-Frio fica no meio termo entre a aventura genérica calcada na vingança e a tentativa de apresentar personagens incomuns como bandidagem casca-grossa. Liam Neeson, atrelado com frequência excessiva a esses sujeitos tomados pela irracionalidade, ávidos por fazer algozes sangrarem sem piedade, reprisa figuras outrora delineadas, com pequenas variações. Seu Nels, portanto, não é muito diferente de Bryan, da saga Busca Implacável, uma vez que Hans Petter Moland negligencia as nuances de sua paternidade estraçalhada, tampouco valoriza a importância dele à pequena comunidade rachada entre dois bandos podres. O tempo conferido às trapalhadas e investigações de dois policiais também soa como um desperdício lamentável, já que suas relevâncias para o resultado são praticamente mínimas. Excetuando certas tiradas boas, o filme é genérico e sem personalidade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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