Crítica
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Sinopse
Crítica
Eddie Marsan sempre foi aquele tipo de coadjuvante confiável, que mesmo nos piores projetos garantia uma presença competente em cena. Isso serve tanto para seus trabalhos de maior destaque, como Simplesmente Feliz (2008) ou O Segredo de Vera Drake (2004), como nos mais problemáticos, como Jack: O Caçador de Gigantes (2013) ou o recente Abigail e a Cidade Proibida (2019). Talvez por isso, uma das primeiras coisas a chamar atenção em Vingança FM seja justamente a sua participação como protagonista, função que desempenha com eficiência, ainda que se mostre um pouco perdido no meio de tantos excessos e de um roteiro que a todo instante deixa claro não saber ao certo para onde deseja ir. Indeciso entre o thriller inconsequente e a crônica de costumes, entre a sátira política e o discurso social, é um filme que atira para muitas outras direções além daquelas com as quais deveria se concentrar, revelando uma incapacidade de centrar seu foco que por pouco não prejudica a experiência por completo.
Não que o filme do diretor e roteirista Pedro C. Alonso não seja tenso. Apesar de estreante na função, o cineasta possui um controle de câmera interessante, revelando apenas o que lhe interessa ao espectador, ao mesmo tempo em que mantém o suspense constantemente no limite do quadro, prestes a invadi-lo, sem, no entanto, ousar fazê-lo de forma exagerada, a ponto de perder seu impacto. Logo na sequência de abertura, sabemos que o apresentador de rádio Jarvis Dolan (Marsan) está em apuros. Sua presença no programa que comanda à noite já não causa a mesma repercussão, seus colegas o desprezam, e até sua vida privada anda turbulenta – acaba de sair de um caso de sequestro familiar que jogou seu nome nos noticiários, tornando-o a vítima com a qual ninguém simpatiza. Hoje, no entanto, ele tem uma entrevista importante a ser feita, e será através dela que buscará recuperar o prestígio de outrora, por muitos dado como perdido.
Porém, pouco antes do show começar, dois mascarados invadem o estúdio e, com armas em punho, começam a fazer exigências. Ele deve seguir com o trabalho como se nada de anormal estivesse acontecendo. No entanto, deverá obedecer às ordens que lhes serão dadas pelos fones de ouvidos. O objetivo, como logo fica claro, é desmascarar o entrevistado. O que teria ele feito, anos atrás, naquela noite no hotel, quando foi acompanhado por duas garotas e apenas uma delas saiu de lá? Por quê os eventos desse encontro fatídico nunca vieram à tona? O que ele teve que fazer para que nada disso manchasse sua reputação? E o pior: qual a relação do próprio Dolan com tudo isso? As perguntas são pertinentes, porém incômodas. É óbvio que o convidado se recusará a oferecer qualquer tipo de resposta imediata. Mas a decisão não é mais dele. Para que qualquer um dos envolvidos saiam vivos dali, todo mundo terá que cooperar.
É importante estar ciente que Javier Dolan não é um protagonista confiável. Aliás, nem mesmo se deseja se relacionar com ele. É uma figura arrogante, desprezível, orgulhosa. E se fez algo errado, é certo que deveria pagar à altura das consequências dos seus atos. No entanto, o que Vingança FM se propõe está um pouco além de buscar justiça – ou ‘dar o troco’, como aponta o título original. Está no extrapolar dos instintos vingativos que o filme se torna, de fato, uma experiência incômoda. A resposta oferecida pelos agressores de agora é muito maior e mais catártica do que a violência praticada anos atrás. Basta verificar que as vítimas daquele infeliz episódio seguem vivas – ou ao menos é o que parece. Justamente por isso, não parece razoável que o cidadão comum possa condenar outros à pena de morte baseado apenas nas suas próprias vivências pessoais.
Mas é também correto afirmar que Alonso está atrás desse desconforto. Seu filme é para provocar, mais do que incitar reações imediatas. Por isso mesmo, não deveria perder tanto tempo com soluções que a nada levam, recursos circulares que apenas deslocam os personagens para o mesmo lugar de instantes atrás, e servem apenas para estender uma angústia que já havia ficado explícita. Até pelo cenário claustrofóbico que cria e pelos tipos deploráveis que manuseia, Vingança FM tinha tudo para ser algo mais do que simplesmente perturbador – essa ‘longa jornada noite adentro’ também poderia instigar outros tipos de reflexões. No entanto, ainda mais pelo desfecho supostamente esperto, mas que nada faz além de reafirmar seus erros, deixa passar essa oportunidade de ir além do óbvio.
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