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Crítica


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Sinopse

Keith é um roteirista que já frequentou o topo do mundo. Vencedor do Oscar com um filme de enorme sucesso comercial, ele teve um casamento feliz, um filho atencioso e uma aparente infinita capacidade de cativar. Todavia, isso foi há 15 anos. Atualmente ele está divorciado, sem um sucesso há anos e enfrentando a crise dos 50.

Crítica

Depois de mais de meia década afastado das telas na posição como protagonista, Hugh Grant resolveu brincar com essa condição em Virando a Página, filme que deveria significar uma mudança em sua própria carreira, mas pelo jeito o tiro acabou saindo pela culatra. Mais uma vez reunido com o diretor Marc Lawrence – cineasta que trabalhou com o astro inglês em todos os seus três longas anteriores – Grant mostra aqui o quanto a idade tem lhe pesado. Sem saber envelhecer adaptando seu carisma aos novos tempos, ele parece mais um arremedo do que poderia ter sido, e este filme acaba soando mais como a comprovação desta ideia do que o início de uma eventual busca por diferentes rumos.

Assim como na maioria dos seus antigos sucessos, Virando a Página é também uma comédia romântica – gênero do qual Hugh Grant já foi referência. O único fato original aqui está no centro da trama, que o coloca em plena Hollywood como um astro em decadência lutando desesperadamente por uma segunda chance. Só que ao invés de ator, seu personagem, Keith Michaels, é um roteirista que foi premiado com um Oscar por seu longa de estreia – e que nunca mais conseguiu alcançar a mesma boa recepção. Sem saber mais o que fazer e vendo-se em uma encruzilhada na qual não lhe sobram trocados nem para pagar a conta de luz, acaba aceitando uma oferta de emprego em uma universidade do outro lado do país, no norte de Nova York, para ser professor de um curso de roteiro. Afinal, a máxima diz que “quem não sabe, ensina”. Ou mais ou menos isso.

Ao chegar na pequena Binghamton, logo Michaels descobre que, ao menos ali, ele continua sendo rei. A posição de certo status e admiração lhe cai bem, mas não por muito tempo: ele não quer e nem sabe ensinar, não tem paciência com os alunos – os quais seleciona através de critérios bastante pessoais – e ainda acaba arrumando uma discussão com uma poderosa colega (Allison Janney) que pode abreviar sua passagem pela cidade. Para piorar a situação, antes mesmo de começar as aulas leva para a cama uma futura aluna (Bella Heathcote, de Sombras da Noite, 2012), e tudo o que consegue enquanto tenta se desvencilhar desse problema é ficar amigo do diretor (o recém oscarizado J. K. Simmons) e se aproximar de uma aluna temporã (Marisa Tomei).

Há várias assuntos sendo tratados ao mesmo tempo tem Virando a Página, e por mais que a ambientação seja leve e sem tropeços, bem ao estilo Sessão da Tarde, é inevitável sentir um certo atrito entre uma trama e outra. O triângulo amoroso entre professor-aluna velha-aluna nova nunca chega a se concretizar de fato, e não há como torcer – ou ao menos se identificar – com um casal ou outro. Dentre os coadjuvantes, Simmons e Janney seguem na excelência de sempre (se o filme fosse apenas com eles com certeza seria muito melhor), mas ambos tem muito pouco o que fazer com o que lhes é oferecido. Mesmo destino percebido com Tomei, uma das melhores atrizes de sua geração, mas como não virou estrela (ainda que tenha também um Oscar em casa) segue sendo subaproveitada.

Por fim, há os dilemas profissionais do protagonista, aos quais nenhum chega a ser verdadeiramente aprofundado pelo roteiro. Ele quer fama e fortuna ou ser bom no que faz? Quer fazer encantar multidões no cinema ou passar seu conhecimento adiante em uma sala de aula? Busca a luz dos holofotes ou o conforto de uma vida anônima? E uma vez que o enredo se encarrega de cercar o personagem de clichês – um filho que abandonou, um estudante que é um reflexo dele mesmo, um vizinho atrapalhado mas de bom coração – tudo acaba por soar muito raso. E assim temos um filme bonitinho, mas tão esquecível quanto tantos outros similares. Não foi dessa vez, Grant!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Robledo Milani
5
Adriana Androvandi
6
MÉDIA
5.5

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