Crítica
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Sinopse
Luiz e George são dois forasteiros recém-chegados à cidade de Urissanga. Eles chamam a atenção das mulheres locais, logo sendo fruto da cobiça delas e do crescente ressentimento dos homens preteridos.
Crítica
Um dos períodos mais frutíferos para a produção nacional se estendeu do final dos anos 1960 até a metade dos 1980, quando se desenvolveu um movimento conhecido popularmente como ‘pornochanchada’. Ou seja, nada mais eram do que comédias (as chanchadas) eróticas (daí a pornografia, na maioria das vezes amenizada a ponto de só trabalhar na base da sugestão, evitando qualquer abordagem mais explícita). E ainda que tenham sido grandes sucessos de público – A Dama do Lotação (1978) chegou a levar 6,5 milhões de espectadores aos cinemas – foram em sua maior parte desprezados por esses mesmos espectadores (além de pela crítica da época) por seus excessos narrativos e carências técnicas, gerando o senso comum de que “cinema brasileiro é tudo putaria”, algo que, infelizmente, perdura até hoje em certos núcleos. Pois alguns desses títulos, passadas mais de quatro décadas de seu lançamento, merecem uma revisão mais atenta. E entre estes certamente está A Virgem e o Machão, curiosamente dirigido pelo mestre do terror José Mojica Marins, criador do personagem Zé do Caixão.
Mojica, não se sabe se por galhofa ou por vergonha, assinou A Virgem e o Machão com o pseudônimo J. Avelar, recurso que voltaria a empregar em Como Consolar Viúvas (1976). Na ativa desde o início dos anos 1950, o ator, diretor e roteirista já havia realizado alguns dos clássicos do seu repertório, como À Meia Noite Levarei sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Porém, após a estreia de Finis Hominis (1971) – filme de refinada concepção que já se aproximava de uma linguagem um pouco mais acessível, porém não gratuita – ele acabou enfrentando falta de investimentos e dificuldade em manter sua concepção autoral, se vendo obrigado a entregar longas como Sexo e Sangue na Trilha do Tesouro (1972). Dentro dessa linha, investir na pornochanchada pode ter lhe parecido uma aposta ousada, ainda que certeira – o retorno seria praticamente garantido, e desde que não ficasse explícito o seu envolvimento, tal aproximação não poderia prejudicar sua integridade artística. Obviamente, não foi bem assim, e cerca de uma década depois Mojica estaria envolvido em filmes como A Quinta Dimensão do Sexo (1984) e 24 Horas de Sexo Explícito (1985). Mas isso é assunto para outro momento.
A trama básica de A Virgem e o Machão não poderia ser mais simples: um galã metido a conquistador chega a uma pequena cidade do interior e começa a tocar o terror em todos os homens da região, pois nenhuma mulher consegue escapar ilesa das suas investidas. Isso até ele se deparar com uma moça pura que quer apenas uma coisa: compromisso. Como ele, ainda que apaixonado, segue afirmando estar atrás apenas de sexo, ela decide se vingar, expondo as artimanhas dele à todos os maridos traídos. Se por um lado a fórmula padrão se repete, com garotas voluptuosas por todos os lados cedendo de forma quase inexplicável ao misterioso charme do protagonista, por outro há uma tímida inversão de valores que resgata o filme da vala comum da época: o Machão até pode acreditar estar no comando do jogo, mas o que logo se percebe é que são elas que estão dando as cartas por ali.
Essa diferenciação começa pela inquietude do realizador em apenas entregar mais do mesmo. Para isso, Mojica vai inserindo aos poucos situações que, se melhor trabalhadas, poderiam até eclipsar a trama central. Uma delas é a presença da prostituta Maria Sorvete (!), que só aceita transar com homens que lhe trouxerem um picolé (“tem que ser o de pauzinho duro, não pode ser aquele mole”). Porém, o candidato tem apenas o tempo do doce derreter, e se esse acabar antes, azar do moço. Claro que o único que conseguirá inverter essa lógica será o Machão, mas o que parecia ter sido um grande feito no final irá revelar ser seu destino. Aurélio Tomassini, como Jorge, o protagonista, oferece a canastrice necessária a um tipo como esse, e tal combinação terminou por funcionar tão bem que no ano seguinte ele estaria em Ainda Agarro esse Machão (1975) – filme sem nenhuma ligação com esse aqui, mas que tenta pegar carona no título do sucesso anterior.
No geral, há uma sensação de que há o suficiente para um conjunto de interesse justificado, porém o problema maior foi justamente o difícil equilíbrio entre cada um destes elementos. Isto, provavelmente, se deve à inexperiência do diretor com o tema, denotando até um certo receio em ultrapassar alguns limites – algo que, como vimos, logo seria suplantado em trabalhos posteriores. Com atuações que por si só são risíveis e tentativas de um humor tímido que talvez até tenha funcionado no seu lançamento nos cinemas, mas que hoje não são mais do que pitorescas e registros curiosos de tempos mais ingênuos, A Virgem e o Machão merece destaque entre as principais produções dessa corrente cinematográfica, mais por tudo que carrega consigo do que exatamente pelo que apresenta em cena. Afinal, o que temos aqui é um exemplo legítimo do verso que se refere a “que tempo bom, que não volta nunca mais”.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Bianca Zasso | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
Obrigado pelo ótimo texto.