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Sinopse

Virgem Maria: No Norte de Israel, há uma concepção milagrosa, um rei impiedoso e uma perseguição assassina. Esta história retrata a jornada da jovem Maria que, em contexto hostil, deve trazer o menino Jesus ao mundo. Com Noa Cohen e Anthony Hopkins.

Crítica

Coproduzido por Estados Unidos e Reino Unido, Virgem Maria carrega nome diferente em sua adaptação brasileira. Originalmente, é intitulado apenas como Mary. Esse ajuste, à primeira vista sutil, abre espaço para especulações sobre o que o longa poderia trazer à tona. Dualidades, dilemas e a humanidade dessa figura icônica da cultura ocidental talvez fossem explorados com profundidade. Contudo, a adição do termo "virgem" para o público nacional parece denunciar o intuito de reforçar aspectos tradicionalmente associados à personagem. Essa escolha não apenas frustra quem espera releitura ousada, mas também anuncia que o trabalho caminha por territórios já amplamente desbravados.

A trama, desenvolvida pelo dramaturgo Timothy Michael Hayes, em apenas sua segunda incursão no universo cinematográfico, apresenta Maria sob perspectiva literalista. Elementos já familiares - que podem ser conferidos em obras como Maria, Mãe de Jesus (1999) e Maria: Uma Missão de Amor (2012) - são revisitados. A protagonista é retratada como doce, submissa e dotada de virtudes exageradas, mas desprovida de sagacidade ou questionamento. Encarnada por Noa Cohen - atriz e modelo israelense cuja aparência, ao menos, remete às descrições históricas de quem nasceu próximo ao Mar da Galileia - a personagem permanece prisioneira de papel previsível. Cohen demonstra potencial, mas é constrangida pelas limitações impostas.

Se à retratada faltam camadas, outros integrantes ganham mais atenção, como Ori Pfeffer, como Joaquim, que entrega interpretação vigorosa como pai da garota. Mas é Anthony Hopkins quem recebe o mais rico background e rouba a cena ao viver Herodes, transformando-se no eixo dramático da empreitada. Em suas mãos, o longa parece ganhar energia distinta, ofuscando até mesmo as intenções centrais. A presença do vencedor do Oscar eleva momentos-chave, mas também expõe a fragilidade do que deveria ser o cerne do trabalho: a figura de Maria.

Sob a direção de D.J. Caruso, conhecido por títulos de ação, o projeto carece de audácia. A abordagem se limita ao protocolar, sem oferecer surpresas ou interpretações inovadoras. O enredo parece evitar deliberadamente qualquer questionamento mais sofisticado acerca da identidade ou das motivações de Maria. Sequer os aspectos internos da personagem são explorados, deixando-a como figura reativa. Resultado esse que só não é mais desinteressante porque apresenta elementos visuais de destaque, como a recriação de cenários, vestimentas e ambientações.

Quem foi, afinal, Maria? Quais pensamentos emergiram diante da revelação de que seria mãe do Messias? Como era sua relação com José além da obrigatoriedade de provar sua pureza? Inclusive, por que ela perde a admiração imediata dos fiéis quando se sugere que ela possa não ter sido virgem? Essas perguntas, que poderiam dar origem a debates e reflexões complexas, encontram em Virgem Maria apenas silêncio. O filme não busca abrir espaço para especulações ou humanizar essa figura, permanecendo na superfície de história rica em possibilidades. Uma empreitada que, apesar de bem-acabada visualmente, se limita a ecoar o conservadorismo já conhecido.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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