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Sinopse

Uma equipe inexperiente de filmagem vai para um orfanato abandonado a fim de rodar um longa-metragem de terror de baixo orçamento. Lá eles descobrem que uma família de cruéis assassinos "reescreveu" seu roteiro, tornando as coisas verdadeiramente sanguinolentas e violentas. Agora, precisam sobreviver de qualquer forma.

Crítica

Produção norte-americana dirigida pelo brasileiro Paulo Biscaia Filho, Virgens Acorrentadas é uma típica jornada pelo cinema B de horror. Existe uma aura latente, a priori simpática, emanando das interpretações pouco convincentes e dos dramas que se desenham canhestramente apenas para preencher espaço e fazer a trama andar. O protagonista é Shane (Ezekiel Z. Swinford), roteirista em crise que não consegue vender sua criação para um grande estúdio. Ele é acometido por flashes de corpos femininos ensanguentados, líderes de torcida presas a correntes. Partindo disso, e da necessidade de reinventar-se para conseguir realizar seu longa-metragem, ele cria Virgin Cheerleaders in Chains, sem propriamente ter um texto pronto, aparentemente na base do improviso. É bastante arrojada, embora malsucedida, a construção da narrativa em camadas sobrepostas, com a utilização de uma meta-metalinguagem, o que já dá pistas suficientes para antevermos a falsidade dos acontecidos.

Shane e sua namorada, Chloe (Kelsey Pribilski), aparecem ocasionalmente dando entrevistas, adicionando outro nível a Virgens Acorrentadas, ou melhor, deixando um deles exposto. O filme-dentro-do-filme vai sendo desenhado lentamente, enquanto o enredo oferece uma série de subtramas basicamente desinteressantes, como o ciúme de quem vê o diretor enrabichado pela stripper Amber (Elizabeth Maxwell), escolhida como a figura principal entre as mulheres que sofrem nas correntes. Aliás, uma das falas dela é sintomática da zombaria vigente: “você já viu meus peitos e ouviu meu grito”, com isso convencendo o cineasta a coloca-la na posição de estrela. Certos elementos que poderiam realmente adicionar esferas curiosas são circunstanciais, não configurando uma boa constante. Enquanto fogem de um maníaco homicida, personagens brincam com certos clichês do slasher, como armadilhas para ursos convenientemente posicionadas e a obviedade da deturpação psicológica do matador.

Paulo Biscaia Filho, contudo, não faz de Virgens Acorrentadas uma paródia sólida, tampouco investe no ridículo como aliado, pelo contrário, incorrendo nele involuntariamente. Embora o truque seja evidente, fruto de uma dificuldade para soltar pistas sutilmente, é difícil não encará-lo como um tortuoso exercício de estilo. Por exemplo, a maquiagem funciona como nenhum outro componente. São críveis os corpos decapitados, os torsos partidos ao meio, os ferimentos feitos por objetos cortantes e toda sorte de danos ocasionados pelas mentes doentias de criadores de snuff movies. O longa, porém, demora demais para preparar os terrenos, tornando as coisas logo desinteressantes, mesmo se encaradas como sátira. O filme-dentro-do-filme é um artifício frouxo que visa ludibriar o espectador, fazendo-o crer numa veracidade insustentável exatamente pela forma como os indícios contrários são dispostos. Essencial ao horror, a atmosfera de apreensão passa longe de se instaurar nesta realização.

Virgens Acorrentadas oferece um cardápio gore digno de revoltar o estômago dos mais suscetíveis, com direito a tripas explodindo e pedaços humanos fervendo em água quente. Todavia, a falta de empenho e cuidado com a dramaturgia faz tudo parecer absolutamente engessado, mesmo que entendido dentro de uma dinâmica puramente alusiva. A meta-metalinguagem é canhestra, sem um efeito expressivo considerável. Os personagens se “desenvolvem” no piloto automático em dois terços do filme. Praticamente nada acontece, a não ser discussões frágeis acerca das dificuldades de produção. No tempo que sobra, eles se esforçam para sobreviver à sanha de um homicida tão caricato quanto eles. A encenação e as interpretações pobres tratam de soterrar qualquer pretensão terrífica, restando apenas a diversão proporcionada pelas soluções criativas do departamento de arte e uma que outra boa sacada.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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