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Crítica

Por ser parte do catálogo do Netflix, sem ter estreado nos cinemas do Brasil, Virunga poderia muito bem ter ficado soterrado sob o imenso catálogo da locadora virtual, sendo encontrado apenas por entusiastas do gênero documentário. Por sorte - e por muita competência, veio uma indicação ao Oscar na categoria, jogando luz sobre um filme interessante e bastante corajoso, atiçando a curiosidade de um público mais amplo a respeito deste longa dirigido por Orlando von Einsiedel e produzido pela Appian Way de Leonardo Di Caprio.

Virunga é um parque nacional localizado no Congo, lar dos últimos Gorilas das Montanhas. Ameaçados de extinção, muitos dos animais vivem em habitat natural, enquanto outros, calejados pelo contato humano predatório, são cuidados por pessoal especializado. Quando o potencial petrolífero é descoberto naquele país, o governo congolense logo vê formas de lucrar com isso, fazendo acordos com empresas de petróleo. É assim que entra na história a SOCO International, petrolífera britânica que fecha contrato para explorar um trecho da área - trecho este exatamente no parque. Enquanto parte da população briga pela preservação, outra quer ver a riqueza proveniente do petróleo chegar em suas mãos. Em meio a uma guerra civil, dois lados são colocados em oposição: temos as milícias patrocinadas pela SOCO contra os guardas florestais e amigos da preservação ambiental.

Ainda que seja negada pela SOCO sua participação nos bastidores desta guerra, Einsiedel tem material suficiente para provar que existe, sim, a mão da empresa no conflito, que utiliza a expertise do grupo rebelde M23 para provocar o terror e conseguir explorar aquela região. Existe um cuidado muito forte por parte dos realizadores em não ceder à especulação. Todas as denúncias incluídas em Virunga são documentadas pelas câmeras, muitas delas utilizadas de forma escondida. Desta forma, temos depoimentos de figuras chave no conflito que confessam seu real interesse em meio aquela guerra: o simples lucro. O documentário vai além de seus ambições iniciais e se torna um triste retrato da ganância humana desenfreada.

A primeira hora do documentário é interessante por colocar todas as peças do tabuleiro no lugar, mostrando o objetivo e interesse de cada "personagem". Mas Virunga realmente ganha a atenção incontestável do espectador em seus quarenta minutos seguintes, quando o conflito estoura e somos jogados dentro daquela guerra civil. A câmera está muito perto de tudo e vemos nossos protagonistas lutando pelo que acreditam. Existe uma identificação muito forte do público e isso aumenta o interesse a cada novo minuto.

Com imagens fortes para qualquer um que goste de animais - a cena do elefante morto é perturbadora - Virunga atinge seus objetivos ao denunciar uma prática predatória desumana, na qual os interesses pelo dinheiro e riquezas naturais passam por cima de tudo e todos. Tristemente verdadeiro e extremamente necessário.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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