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Crítica


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Sinopse

Os moradores de um bairro fechado em Buenos Aires, na Argentina, desfrutam de uma infraestrutura confortável. No entanto, esse clima de perfeição diária é abalado pela descoberta de três cadáveres boiando numa piscina.

Crítica

Há mais de cinquenta anos, Billy Wilder derrubou barreiras no cinema ao fazer um cadáver narrar uma história. Tal corpo, presente no espetacular Crepúsculo dos Deuses (1950), é apresentado logo na primeira sequência do filme, dentro de uma piscina. O argentino Marcelo Piñeyro faz uma explícita homenagem ao diretor com o seu Viúvas Sempre às Quintas, quando inicia seus créditos de abertura com a análise lenta e contemplativa de três corpos submersos em uma piscina luxuosa – ponto de partida plasticamente incrível para o que se anuncia como um filme instigante.

Quando os cadáveres de três influentes moradores de um condomínio residencial são encontrados, temos de voltar no tempo para conseguir compreender o que pode ter acontecido para que tal trágico fato ocorresse. Analisando a vida dos habitantes do local, logo fica claro que toda a suposta tranquilidade é apenas uma concha protetora – aqui metaforicamente representada com os muros do condomínio – para um universo de aparências, traições e corrupção. “Por fora sou linda como o sol, mas por dentro estou apodrecida”, diz alguém em certo momento do longa, referenciando o próprio desenvolvimento do filme e de seus personagens de forma indireta. Quando Piñeyro passa a os apresentar, o faz com calma e ritmo crescente, fugindo de uma linearidade cronológica que poderia tornar o longa aborrecido. O diretor, inclusive, diz que resolveu essas questões na sala de montagem, quando decidiu quebrar a barreira do convencional para dar mais vida à sua produção. Em Viúvas Sempre às Quintas acompanhamos a rotina aparentemente fácil de quatro casais repletos de problemas, mas sem nenhuma mancha danificando a superfície imaculada de suas vidas. Em uma cena chave, com um jantar de aniversário, Piñeyro condensa uma série de informações que guiam seu filme: há um duelo não confesso entre todos pela perfeição e harmonia, mas quando as portas de suas casas estão fechadas é que a podridão dessas pessoas, seres comuns que se mostram superiores uns aos outros, aparece.

O roteiro de Marcelo Piñeyro e Marcelo Figueiras, baseado em livro de Claudia Piñeiro, é pautado na desconstrução desse núcleo narrativo que funciona como um microcosmo de nossa sociedade. Cientes mas indiferentes aos problemas do mundo (aqui representados através de uma difícil crise financeira), seus personagens apenas passam a encarar esses infortúnios quando isso é inevitável – e ainda assim buscam a solução na cápsula protetora que é o local onde vivem. Não é de hoje que a vida de aparência da classe alta é analisada com tanta crítica e parcialidade, sendo exemplos óbvios os títulos Felicidade (1998), de Todd Solondz, Entre Quatro Paredes (2001) e Pecados Íntimos (2006), de Todd Field, Beleza Americana (1999) e Foi Apenas um Sonho (2008), de Sam Mendes. Viúvas Sempre às Quintas pode ser reverenciado dentre os outros ótimos títulos supracitados justamente por incursionar pela temática com originalidade, como uma resposta latina as questões íntimas de pobres famílias ricas. Fazendo uso de uma série de recursos que reforçam sua trama, tendo no visual um importante fator que acrescenta à sua proposta, Piñeyro busca principalmente na fotografia e direção de arte uma aliança que torna o filme ainda mais deslumbrante. Os brancos e perolados impecáveis estão sempre presentes, saindo apenas para dar lugar às sombras e aos tons frios quando o clima do filme precisa disso. A direção, econômica, busca privilegiar justamente um roteiro completo e complexo, que não se propõe a dar soluções fáceis ou a buscar por elas para resolver sua trama.

Mostrando um amadurecimento elogiável desde seus excelentes trabalhos precedentes, como Plata Quemada (2000), Kamchatka (2002) e O Que Você Faria? (2005), Marcelo Piñeyro e seu Viúvas Sempre às Quintas merecem destaque por qualidades já pouco recorrentes no cinema atual. Quando um filme vai além do que poderia ser dentro de sua proposta, trazendo mais conteúdo do que apenas um belo trabalho audiovisual, merece reconhecimento – e esta verdade se encaixa perfeitamente ao cinema de Piñeyro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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Grade crítica

CríticoNota
Conrado Heoli
8
Alysson Oliveira
7
MÉDIA
7.5

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