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Sinopse

Um grupo de lavradores vai até o presidente do México em 1909 afirmando que suas terras foram roubadas. O mandatário lava as mãos e diz que o Estado não pode fazer nada. Um desses lavradores se torna guerrilheiro, desempenhando uma função política relevante na vida do país.

Crítica

 Elia Kazan é conhecido por grandes obras como Uma Rua Chamada Pecado (1951) e Sindicato de Ladrões (1954), portanto chega a ser estranha a qualidade de Viva Zapata! dentro de sua filmografia. Não que o longa seja ruim, pois é recheado de boas intenções, mas ele esbarra em clichês do gênero, a superficialidade no retrato dos mexicanos e, o mais interessante de tudo, uma atuação extremamente fraca do astro Marlon Brando. Por sinal, ouso questionar como o filme foi indicado a cinco prêmios no Oscar - Melhor Ator Coadjuvante (Anthony Quinn), Melhor Ator (Marlon Brando), Melhor Direção de Arte, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro.

Com um ar de western, o longa é uma cinebiografia de Emiliano Zapata Salazar, líder mexicano que lutou a favor de seu povo e dos indígenas que constantemente tinham suas terras roubadas por ricos fazendeiros. Após tentar resolver na base da diplomacia a questão, encarando o passivo presidente Porfírio Diaz (Fay Roope), Zapata, seu irmão Eufemio (Anthony Quinn) e o amigo Pablo (Lou Gilbert) decidem lutar armados, no que mais tarde se tornaria a revolução mexicana ao lado de políticos liberais como Francisco Madero (Harold Gordon) e Pancho Villa (Alan Reed).

O Zapata de Brando não foge de seu Stanley de Uma Rua Chamada Pecado. Parece que vemos a mesma atuação eclipsada nestes personagens. Porém, se na obra escrita por Tennessee Wiliams o jeito rude e explosivo estava intrínseco no protagonista como um todo, em Viva Zapata! parece que há um ruído no entendimento do ator sobre sua caracterização. Nem o sotaque nova-iorquino o astro foi capaz de alterar. Sem contar que o falso bigode muda a toda hora em seu rosto, revelando um ineficiente trabalho de maquiagem.

Com isso, quem acaba se destacando é Anthony Quinn, este sim merecedor de seu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pela interpretação de Eufemio. O ator rouba a cena sempre que aparece, sem falar que seu rosto lembra muito mais um mexicano, fazendo o espectador duvidar da escolha do elenco. Será que Quinn não seria um Zapata mais adequado? É claro que Brando estava mais do que em alta na época e Kazan gostava de trabalhar com o ator, mas parece ter sido a opção mais desconfortável colocá-lo como protagonista.

O estereótipo de mexicanos ignorantes não ajuda o roteiro. Tirando seus líderes revolucionários, todos parecem não ter inteligência própria, o que retrata, inclusive, certo preconceito dos envolvidos na produção com o povo daquele país. Alguns diálogos também ficam na pobreza do “super-heroico”. O que salva o filme neste quesito é o olhar de Kazan sempre voltado aos seus personagens, preferindo desconstruí-los em sua personalidade, escolhas e medos, tornando-os mais humanos e identificáveis perante a plateia. Neste caso, é interessante o desenvolvimento da relação de Zapata com Josefa Espejo (Jean Peters), ainda que o caso de amor não seja o grande mote do longa. Chega a ser uma afronta falar isso, já que Viva Zapata! é elogiado mundialmente mesmo após muitos anos. Porém, para este que vos escreve foi um passo em falso do grande Kazan, que, ainda bem, foi um dos melhores diretores de todos os tempos e tem uma filmografia invejável. Pena que este exemplar, que tinha tanto conteúdo para ser excepcional, acabe no fim da lista de seus grandes trabalhos.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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