Sinopse
Com um filho recém-nascido, um jovem casal se muda a um bairro aparentemente pacato. Todavia, ambos não contavam com o vizinho boêmico que arrebanha os mais intensos das redondezas em festas e confusões.
Crítica
Quem for assistir a essa comédia estrelada por Seth Rogen e Zac Efron esperando por uma retomada do humor negro e anárquico visto mais de duas décadas atrás no clássico oitentista Meus Vizinhos são um Terror (1989), em que Tom Hanks sofria nas mãos e nas neuroses do morador da casa ao lado interpretado por Bruce Dern, certamente ficará decepcionado. Os tempos são outros, o politicamente correto impera e até as ditas ousadias só são possíveis dentro de limites pré-estabelecidos. E é exatamente neste contexto em que se insere Vizinhos, um filme que parece muito ousado, mas que não resiste a uma análise mais detalhada após ao término de sua projeção. O que, no entanto, não quer, de forma alguma, dizer que não seja um bom programa. Apenas não é tudo aquilo que poderia ser.
Ao interpretar pela enésima vez a si próprio, Seth Rogen surge como um cara desajeitado que se recusa a crescer, apesar de ter idade para tanto. Recém casado com uma bela e atraente mulher (Rose Byrne, se encaixando bem na proposta despojada da produção) e pai de um bebê, ele está cada vez mais acomodado: sair de casa é uma complicação que exige do casal um preparo prévio exaustivo, os amigos não são mais presentes como antes e o máximo de rebeldia que ele consegue fazer é fumar um baseado durante um intervalo do trabalho ao lado de um colega. Essa rotina calma e enervante é alterada quando uma fraternidade estudantil – presidida por um Zac Efron hábil em lidar com seu latente sex appeal – se muda para o endereço colado ao deles. E se num primeiro momento aquele agito e jovialidade os atrai, logo irá representar um grande incômodo.
Talvez esse seja o maior problema de Vizinhos: demora-se muito para que fique estabelecido o verdadeiro confronto do filme. Se o trailer e as primeiras imagens de divulgação passavam a ideia de uma guerra declarada entre a família recatada em busca de silêncio e tranquilidade e os jovens explodindo de adrenalina e testosterona, não é bem isso que se vê em cena. Logo no primeiro contato entre os dois protagonistas o que se estabelece é uma forte empatia – se um vê no novato a juventude que lhe escapou sem perceber, o outro encontra finalmente alguém que poderá lhe acompanhar no processo de amadurecimento. E se essa reunião inicial acaba em uma festa homérica, a separação – e antagonismo – se dará apenas graças a um mal-entendido – um telefonema não atendido, uma chamada policial sem maiores ameaças. E assim estabelece-se, de forma um tanto forçada, um duelo que tem como único propósito explorar o ridículo de cada lado para provocar um riso ingênuo e inofensivo no espectador.
Outro elemento bastante curioso a respeito de Vizinhos é o forte teor homoerótico da obra, tanto no campo da ficção quanto fora. Na primeira aparição de Efron é Rogen que se derrete em elogios ao corpo do rapaz, e não a esposa dele. Quando os estudantes entram em apuros, será fazendo moldes de borracha do próprio pênis para venderem como consolo que conseguirão arrecadar a grana necessária. E quando Efron e seu braço direito, interpretado por Dave Franco (irmão de James Franco e com o mesmo senso de humor deste), se desentendem, apenas com fortes declarações de amor um pelo outro é que finalmente farão as pazes. O problema é que, assim como tudo mais neste filme, fica-se apenas na superfície do assunto, sem investir nele com coragem e efeito – da mesma forma como aconteceu com a maioria dos vídeos promocionais do longa, a maioria brincando com a boa forma de um e o visual desleixado do outro.
Dirigido por Nicholas Stoller – o mesmo do constrangedor Cinco Anos de Noivado (2012) – a partir do roteiro escrito por Andrew J. Cohen e Brendan O’Brien (ambos estreantes na função), Vizinhos tem boas tiradas, principalmente quando decide fazer graça de si próprio – as armadilhas com os air-bags são hilárias – ou através de referências pop, que vão de Game of Thrones e Mad Men até qual foi o melhor Batman do cinema, passando por piadas sobre os personagens de Robert De Niro, entre tantas outras. É uma sessão da tarde leve e descomprometida, sem propor nada de novo, evitando ao máximo um final moralista – ainda que não escape por completo desse caminho inevitável – e que explora com segurança o que de melhor o seu elenco pode oferecer, sem exigir nada além. É bacana e divertido enquanto dura, mas dificilmente permanecerá na memória de alguém por muito tempo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Francisco Carbone | 7 |
MÉDIA | 6.5 |
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